EDITORIAL
MANAUS – O presidente Jair Bolsonaro, na condição de candidato do PL à reeleição, não apresentou novidade em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, na noite desta segunda-feira (22). Repetiu o mesmo discurso que tem feito por onde lhe dão a oportunidade de falar sobre temas espinhosos ao seu governo. Mas sobre dois temas que interessam ao Amazonas, o presidente faltou com a verdade.
O primeiro tema foi sobre a pandemia de Covid-19. Bolsonaro disse que o governo federal atendeu prontamente à demanda de oxigênio em Manaus, em janeiro de 2021, quando faltou o produto fundamental aos pacientes intubados. “Menos de 48 horas estavam chegando cilindros em Manaus”, disse o presidente.
Bolsonaro disse que a falta de oxigênio na capital amazonense foi uma coisa atípica, que aconteceu de uma hora para outra. O colapso no atendimento a pacientes com Covid-19 por falta de oxigênio em Manaus ocorreu a partir do dia 14 de janeiro.
No dia 8 daquele mês, a empresa White Martins comunicou as autoridades de saúde do Amazonas que a demanda por oxigênio havia aumentado de forma inesperada, e que não teria condição de suprir os hospitais públicos e privados por muito tempo.
No dia 11 de janeiro, ou seja, três dias depois, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, estava em Manaus, e foi comunicado da iminente falta de oxigênio. Nenhuma providência foi adotada até o dia 14, quando faltou o produto nos hospitais públicos e privados, e pessoas internadas começaram a morrer por asfixia.
Só a partir do alvoroço nacional e internacional causado pela falta de oxigênio medicinal, o governo começou a transportar, em aviões da Força Aérea Brasileira para Manaus, cilincros e tanques de oxigênio.
Amazônia
Em outro trecho da entrevista, Bolsonaro, ao falar de meio ambiente, comparou as queimadas e o desmatamento na Amazônia aos incêndios florestais na Europa e Estados Unidos. “Por que não se fala também na França, que há mais de 30 dias tá pegando fogo. A mesma coisa, tá pegando fogo na Espanha e Portugal. Califórnia pega foto todo ano. No Brasil, infelizmente, não é diferente. Acontece. Alguma parte disso aí, eu reconheço, é criminoso. Outra parte não é criminoso. É o ribeirinho que toca fogo ali na sua pequena propriedade”, disse o presidente.
Qualquer leigo em meio ambiente sabe que os incêndios florestais citados pelo presidente não são comparáveis à devastação da Amazônia. Por muitos anos, o Brasil vinha trabalhando para reduzir o desmatamento e as queimadas na região, com resultados positivos.
Nos últimos três anos, sob a administração de Bolsonaro, o desmatamento na Amazônia bateu recorde na comparação com os últimos anos do governo de Dilma Rousseff e do governo Temer.
Como a contagem do desmatamento é feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) entre os meses de agosto a julho do ano subsequente, observa-se um crescimento exponencial no ano 2018/2019, que compreende os cinco últimos meses do governo Temer e os sete primeiros meses de Bolsonaro.
Bolsonaro também defendeu desmatadores e garimpeiros que atuam na Amazônia, e criticou as ações da Polícia Federal e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) de queimar tratares, balsas e equipamentos usados no cometimento de crime ambiental.
O presidente não respondeu com que propósito ele defende que os equipamentos de criminosos não sejam destruídos pelos órgãos de controle. Ou melhor, respondeu que faz isso com o propósito de “cumprir a lei”. No entanto, em nenhum momento criticou os criminosos que desmatam, invadem terras indígenas na Amazônia para roubar ouro.