EDITORIAL
MANAUS – O presidente Jair Bolsonaro apresentou uma série de informações equivocadas e distorcidas no discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas na manhã desta terça-feira (21), mas nada se compara à fake news de que ele salvou o Brasil do socialismo.
Depois de dizer que o Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição, valoriza a família e deve lealdade ao seu povo, Bolsonaro emendou: “Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo”.
É a maior mentira que um brasileiro pode contar. Bolsonaro tratou os chefes das nações presentes como se fossem seus bajuladores brasileiros. Qualquer estudante mais atento sabe que o Brasil nunca esteve próximo do socialismo, nem agora, e nem por ocasião da tomada do poder pelos militares em 1964.
Esse mesmo discurso foi usado em 1964 para afastar o presidente João Goulart do poder, e foi retomado por Bolsonaro, em 2018, por ocasião do processo eleitoral. Desde então, bolsonaristas e o próprio presidente alimentam essa falácia, porque sabem que boa parte da população tem pavor do socialismo.
Em 1989, quando Lula foi derrotado pela primeira vez na disputa para presidente da República, a campanha do adversário Fernando Collor de Mello já usava o discurso de que o PT implantaria o socialismo no Brasil.
Collor se tornou presidente e 2 anos 289 dias depois perdeu o cargo, pelo impeachment. A perda do cargo foi resultado da perda da confiança do empresariado, em função de uma série de decisões equivocadas na economia, todas elas travestidas de “liberais”.
O Brasil foi governado por 2 anos e 3 dias pelo vice de Collor, Itamar Franco, ocasião em que criou o Plano Real. O ministro da Fazenda, grande responsável pelo plano econômico que tirou o Brasil de uma decadência econômica de quase 10 anos, era Fernando Henrique Cardoso, que se elegeu presidente em 1994.
Foi no governo de Fernando Henrique que ocorreu boa parte das privatizações de empresas estatais, entre elas as de telefonia e bancos estaduais. Não houve até aquele momento qualquer sinal de socialismo.
Depois de dois mandatos de FHC, o eleitorado brasileiro elegeu Luiz Inácio Lula da Silva presidente. A eleição do candidato do PT ocorreu com o apoio de parte do empresariado brasileiro, inclusive o seu candidato a vice-presidente era um empresário do ramo têxtil: José Alencar.
Apesar dos programas sociais, como Fome Zero e Bolsa Família, foi o empresariado quem mais se beneficiou nos dois mandatos de Lula. Os bancos privados e os investidores estrangeiros nunca ganharam tanto dinheiro como na gestão do PT.
Depois, Dilma Rousseff, eleita a primeira presidente do Brasil, substituiu Lula e manteve a mesma política econômica, com algumas variações que desagradaram parte do setor produtivo brasileiro e grande parte do setor financeiro, mas nem de longe se vislumbrou instituir o socialismo.
Aliás, Bolsonaro não deve fazer ideia do que seja socialismo. Fala para uma plateia que quer ouvir isso para alimentar suas redes sociais com mentiras.
Dilma, como todo brasileiro sabe, sofreu o impeachment e foi substituída pelo vice-presidente Michel Temer. Foi o governo de Temer que entregou o Brasil a Bolsonaro. Dizer que Temer é um representante do socialismo é uma ofensa à História.
Aliás, desde 2019, Temer é um dos conselheiros de Bolsonaro mais ouvidos pelo presidente.