Por Fernando Canzian, da Folhapress
SÃO PAULO – Os principais bancos globais apostam em uma valorização do real ainda mais acentuada nos próximos meses e consideram a moeda cotada a R$ 4,50 por dólar um valor “conservador”. A divisa dos EUA fechou esta quinta (24) cotada a R$ 4,9050 -ou seja, ainda haveria espaço para uma desvalorização de 8%.
Em suas previsões, o Brasil caminha para ter o melhor resultado em suas contas externas desde o biênio 2003/2004 – o que favorece a apreciação do real.
Em novo relatório divulgado nesta quinta, o IIF (Institute of International Finance), que reúne 450 bancos e fundos de investimentos de 70 países, sustenta que a valorização das commodities exportadas pelo Brasil é de tal proporção que afasta até o temor de descontrole das contas públicas. Nesse cenário, o governo também tende a arrecadar mais com a atividade em geral e os negócios de exportadores.
O IIF afirma que diferentes narrativas vinham empurrando o real para baixo até recentemente. Primeiro, o fato de a pandemia da Covid-19 ter derrubado os preços e a demanda por matérias-primas no mundo todo, diminuindo a entrada de dólares no Brasil.
Depois, quando as commodities começaram a se recuperar, era a frágil situação fiscal brasileira – e a necessidade de mais gastos para estimular a economia- o motivo para as incertezas e a fraqueza do real.
“Somos céticos em relação a essas narrativas. O aumento dos preços das commodities desde o anúncio das vacinas contra a Covid, em novembro, foi considerável, elevando substancialmente os termos de troca (a favor do Brasil)”, afirma o relatório.
“Como resultado, qualquer prêmio de risco (no câmbio) relacionado ao estímulo fiscal teria que ser irrealisticamente grande para justificar os níveis atuais (de desvalorização) do real brasileiro. Vemos como conservador um valor de R$ 4,50”, diz o IIF, sugerindo que a moeda pode ser cotada abaixo disso.
Termos de troca é como se define a relação entre os preços das exportações de um país e das importações que realiza. Quando há melhora nos termos de troca, ocorre um aumento da renda real, o que permite aos agentes econômicos, por exemplo, importar mais produtos com o mesmo valor de suas exportações.
No ciclo de commodities anterior, a partir de 2003/2004, foram os termos de troca que impulsionaram o aumento da renda real do Brasil e a realização, pelo setor privado, de mais investimentos a partir de máquinas e equipamentos importados, por exemplo.
O IIF projeta que o Brasil poderá alcançar nos próximos meses um superávit em conta-corrente (nas transações com o resto do mundo) equivalente a 2% do PIB (Produto Interno Bruto) em razão da alta das commodities e da melhora nos termos de troca.
“A combinação de elevados termos de troca e um real deprimido (barato em relação ao dólar) está impulsionando o resultado da conta-corrente do Brasil, que em abril registrou superávit recorde”, afirma o IIF.
Na prática, isso significa que mais dólares devem entrar no país -daí a previsão de queda do ante o real.