Da Redação
MANAUS – O desprezo pelos direitos humanos e pela questão indígena, arbitrariedades e elogios à ditadura projetam algo de sombrio na democracia brasileira, diz o escritor amazonense Milton Hatoum ao lançar ‘Pontos de Fuga’, segundo livro da trilogia ‘O lugar mais sombrio’, nessa quinta-feira, 5, em Manaus.
Em debate na noite dessa quinta-feira, 5, em Manaus, o escritor questiona porque o ex-juiz Sérgio Moro aceitou ser ministro de “um governo autoritário”. “Eu gostaria de saber porque um ex-juiz que se diz íntegro, o arauto da justiça, como que ele é ministro de um governo autoritário? Me parece uma maior contradição você ser ministro de um governo que elogia o Pinochet, que elogia os grandes torturadores”, disse.
Hatoum disse que pretende lutar pela liberdade democrática. “Eu não vou ficar calado diante de tantas ameaças, de tanta brutalidade, de tanta perseguição contra os artistas. Esse governo não tem nenhum compromisso com a democracia, nenhum”, afirmou. “Ele (Jair Bolsonaro) não é um governo democrata, ele foi eleito, e nós sabemos como, mas o próprio presidente e os filhos não são democratas. Quem elogia a ditadura e os torturadores não pode ser um democrata”, disse.
A trilogia escrita por Hatoum se passa nos anos da ditadura militar no Brasil. Ele comparou os anos de chumbo com os dias atuais, “Os leitores estão percebendo, desde ‘a noite da espera’, uma relação com o nosso tempo, por tudo o que esse governo representa. A ditadura acabou, principalmente com a reorganização estudantil, dos artistas, dos operários. Se tivermos vozes unidas, juntas, contestando, eu acho que é uma das saídas”, disse.
O lançamento do último livro da trilogia deve acontecer ano que vem. Neste sábado, 7, o autor participará do ‘Sarau da madrugada trabalhista’, às 16h no Casarão de Ideias, onde vai discutir o livro ‘A noite da espera’, o primeiro da trilogia lançado em 2017.