Do Estadão Conteúdo
SÃO PAULO – Armadilhas de garrafa PET, bactéria, aplicativo de celular e até uma tinta para paredes estão entre as novas estratégias para combater o Aedes aegypti, famigerado mosquito transmissor de dengue, zika e chikungunya.
Trazida pelo Brasil pelo empresário Roberto Lucena, uma tinta desenvolvida pela empresa espanhola Inesfly promete ser uma arma fatal para os mosquitos. O produto está na reta final dos trâmites de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e deve chegar às prateleiras neste ano.
“É uma tinta inseticida”, resume Lucena. “Em viagens e contatos feitos na Espanha, fui apresentado ao produto e convidado a representá-lo no País. Acreditei imediatamente, não só pela eficácia mas também pelo apelo no combate dos vetores de doenças como dengue, zika e chikungunya.”
Apesar de novidade por aqui, a tinta existe há mais de dez anos e já é utilizada em 12 países – muitos deles africanos, onde a ênfase é no combate aos mosquitos do gênero Anopheles, transmissores da malária. A tinta é composta por microcápsulas em suspensão, que contêm inseticidas e reguladores do crescimento de insetos. Esses ingredientes são liberados de modo gradual no ambiente.
Lucena acredita que, se o produto for bem recebido, em breve a empresa deve fabricá-lo no Brasil. “Não tenho dúvidas de que este será o próximo passo”, afirma. “Já tenho sido procurado por redes de lojas de tinta interessadas em contar com o produto tão logo ele seja lançado.” A tinta poderá ser aplicada em um procedimento comum, por qualquer pintor. A ideia é que o produto chegue ao mercado com preço sugerido de R$ 526,10 (lata de 4 litros).
Armadilhas
E esta não é a única novidade para a próxima temporada das chuvas. Um projeto experimental lançado em Rio Branco no início do ano pela organização não governamental WWF-Brasil deve chegar ao Recife até o fim do ano. A ideia é engajar a população para a produção de armadilhas para o mosquito. São simples, feitas de garrafa PET. No interior, uma infusão de grama serve como atrativo para que fêmeas depositem ali seus ovos.
Uma vez recolhidos, os ovos são fotografados e contados. Em seguida, tudo vai para um aplicativo, o Aetrapp. “Conforme vamos expandindo o projeto, esperamos que se torne como o Waze ou o Tinder do Aedes”, compara Marcelo Oliveira, especialista em conservação do WWF-Brasil.
Então, as pessoas poderão saber, por geolocalização, qual o nível da presença do inseto na sua vizinhança. “Sem falar que os ovos recolhidos são descartados, ou seja, diminui a reprodução do Aedes na natureza”, afirma o especialista.
Na nova fase do projeto, o app estará conectado às redes sociais. “As pessoas gostam de mostrar engajamento no Facebook”, comenta Oliveira. “Esperamos que, assim, mais gente se anime a participar do projeto.”
O projeto Eliminar a Dengue, esforço internacional no Brasil capitaneado pela Fundação Oswaldo Cruz, também chega a uma nova fase. Depois de espalhar mosquitos contaminados com a bactéria Wolbachia pipientis em regiões do Rio no ano passado, agora a ideia é que até o fim de 2018 tais insetos estejam em uma região mais abrangente, habitada por 2,5 milhões no Estado.
Presente em mais de 70% dos insetos do mundo, a bactéria Wolbachia não é infecciosa nem é capaz de infectar vertebrados, incluindo humanos. Mas cientistas da Austrália demonstraram que ela consegue bloquear a transmissão do vírus da dengue no Aedes. No mosquito infectado por ela, o vírus da dengue não se estabelece.