
Informação e Opinião
Por Valmir Lima, do ATUAL
MANAUS – Mais uma vez, senadores do Amazonas aproveitaram uma audiência pública no Senado para atacar a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, a quem culpam pela falta de pavimentação asfáltica da rodovia federal BR-319, que liga Manaus a Porto Velho (RO).
O bate-boca na reunião da Comissão de Infraestrutura do Senado, primeiro com o senador Omar Aziz (PSD-AM), depois com o presidente da comissão, Marcos Rogério (PL-RO), e finalmente com o senador Plínio Valério (PSDB-AM) foi desrespeitoso com a convidada. As falas de Marcos Rogério e Plínio Valério foram carregadas de misoginia.
Rogério chegou determinar à ministra: “ponha-se no seu lugar”, depois de cortar o microfone que ela usava e impedi-la de se defender das grosserias dos senadores. Plínio Valério, o polêmico senador que ficou conhecido no Brasil por querer enforcar a ministra, desta vez foi além: “Eu respeito a mulher; a ministra, não”.
As grosserias levaram a ministra a abandonar a audiência pública, depois de exigir um pedido de desculpas de Plínio Valério, que se negou a fazê-lo. Ela manteve-se firme e sustentou que fora convidada como ministra, não por ser mulher. Por isso exigiu pedido de desculpas como condição para ficar.
Os discursos raivosos contra a ministra relacionada à BR-319, no entanto, não passam de bravatas eleitoreiras. A intenção é apenas criar factoides para alavancar audiência nas redes sociais ou aparecer na mídia como defensor da pavimentação da rodovia, porque todo político pensa que esse tipo de comportamento é capaz de convencer o eleitor a dedicar-lhe o voto.
Temos afirmado neste espaço que Marina Silva é o menor dos problemas que impedem a repavimentação da BR-319. O trecho C da rodovia, que teve o licenciamento ambiental concedido pelo Ibama em 2022, até hoje não foi pavimentado.
Em setembro do ano passado, o presidente Lula veio à região e assinou a ordem de serviço para a pavimentação de 20 quilômetros de 52 quilômetros que compõem o trecho C (do km 198 ao km 250). Os outros 32 quilômetros ainda não estavam licitados.
Não se viu nenhum político cobrando a pavimentação desse trecho ao Ministério dos Transportes, responsável pelas obras.
Duas pontes da rodovia, que caíram em 2022, ainda estão em construção, com previsão de entrega em setembro (do Rio Curuçá) e novembro (do Rio Autaz Mirim). Portanto, três anos depois do desabamento. E as cobranças aos responsáveis, se houve, não foram tornadas públicas.
Ora, se um trecho da rodovia de 52 quilômetros e duas pontes, obras que custam cercam de R$ 200 milhões, se arrastam há três anos, imagine as obras do chamado trecho do meio – cerca de 400 quilômetros – com custo estimado em R$ 2 bilhões.
Essa vultuosa quantia de dinheiro não está no orçamento da União. Não foi incluído no Plano Plurianual. Portanto, não haverá dinheiro para realização da obra, mesmo que o licenciamento seja atropelado, como querem os políticos do Amazonas.
Esses políticos, se quisessem mesmo o asfaltamento da BR-319, trabalhariam nos bastidores do governo, no convencimento tanto do licenciamento quanto da garantia de recursos financeiros para a obra. Nada disse é feito. Preferem atacar Marina Silva, culpando-a até pelas mortes durante a pandemia pela falta de oxigênio. Marina Silva que ficou 14 anos fora do governo – de 2008 a 2022. Em 14 anos não asfaltaram a estrada. Portanto, a culpa, definitivamente, não é dela.
Senadores ridículos, covardes e mentirosos. Omar perdeu o meu voto hoje. Plínio nunca o teve, nem em sonho. Nem em pesadelo.