Da Redação
MANAUS – Em nota divulgada no dia 9 de abril, a Associação Brasileira de Fisioterapia comunicou que não recomenda o uso de novas técnicas ou dispositivos como as cápsulas de VNI (Ventilação Não Invasiva) anunciadas pelo grupo Samel e por um empresário de Parintins para tratamento de pacientes com coronavírus (Covid-19).
A associação alega que, devido à ausência de evidências científicas, o uso do equipamento pode “colocar pacientes e profissionais em risco”. “Os dispositivos em questão não foram descritos na literatura e também não foram submetidos ao rigor científico de testes em laboratório e na prática clínica”, diz trecho da nota.
A utilização da capsula, construída com cano de PVC e película de vinil transparente, foi anunciada pelo grupo Samel no dia 4 deste mês como aparelho alternativo de ventilação. No vídeo, direcionado ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o presidente da Samel, Luis Alberto Nicolau, afirmou que a capsula evita a entubação de pacientes.
“Nós queremos apresentar para o senhor um trabalho que tem dado bastante resultado de ventilação não invasiva, que nós estamos conseguindo evitar que muitos pacientes cheguem a ficar entubados”, afirmou Nicolau, ao anunciar o equipamento que foi produzido em parceria com o Instituto Transire.
O equipamento, batizado de “Capsula Vanessa”, é uma estrutura protetora que atua como uma espécie de barreira de proteção e diminui o risco de contágio do corpo médico e profissionais de saúde. A capsula tem aberturas em zíper para oferecer janelas de contato entre paciente e corpo médico.
“Essa estrutura viabiliza o monitoramento, alimentação, medicação do paciente sem o contato direto da equipe médica, reduzindo drasticamente a chance de contágio e ajudando no controle e combate ao Covid-19 com mais segurança”, informou a Samel.
No dia 5 de abril, o prefeito de Parintins, Bi Garcia, publicou sobre o equipamento similar construído pelo empresário Fran Canto, da Gráfica João 23 e equipe. O empresário teve a ideia a partir de um equipamento já conhecido dos médicos: as cápsulas do tipo ‘hood’, equipamentos de proteção para recém-nascidos que necessitam de terapia de oxigenação.
Em documento com 9 páginas, a Associação Brasileira de Fisioterapia afirmou que valoriza propostas de inovação que buscam melhorar a assistência aos pacientes, mas não aconselha o uso do equipamento “até que haja evidência suficiente sobre a efetividade e segurança” da cápsula.
De acordo com a entidade, os aerossóis liberados permanecerão no ambiente (no caso, a capsula) por cerca de 3 horas e no plástico ou acrílico por 72 horas. Ao retirar o dispositivo por qualquer motivo, os vírus devem continuar em suspensão, com grande possibilidade de contaminação devido à carga viral.
Ainda de acordo com a associação, espaços confinados sem renovação de ar determinam alta carga viral, a qual está associada a desfechos clínicos mais graves. Além disso, a câmara não tem um sistema de vedação, não sendo possível desprezar o risco de disseminação do aerossol contaminado para o ambiente.
A entidade também afirma que o dispositivo retém grande parte do ar expirado (contaminado), e que em caso de retirada acidental da máscara, ou falência da terapia, com necessidade urgente de intubação traqueal, “não se pode avaliar o risco ao qual profissionais estão expostos ao retirar a caixa ou adentrar ao seu interior, tendo contato com alta carga viral em suspensão”.
A associação sugere a realização de estudos que visem a testagem da efetividade e segurança da capsula de VNI antes do uso no tratamento de pacientes com Covid-19. “De modo a lhes oferecer os melhores benefícios terapêuticos e garantir condições adequadas de proteção, assim como aos profissionais de saúde”, diz trecho da nota.