Nos dias 18 e 19 de julho ocorreu a Primeira Assembleia Mundial da Amazônia, contando com a participação de lideranças indígenas, diversas organizações da sociedade civil e personalidades do mundo científico. Foi uma ampla discussão que registrou a presença de mais de três mil pessoas espalhados pelo mundo inteiro. A mobilização foi motivada pela preocupação em relação à devastação da Amazônia, que atinge mortalmente os povos, a biodiversidade e as culturas que vivem nesta região.
A prevalência da economia capitalista, do paradigma tecnocrático e da cultura individualista coloca em xeque a existência de uma importante região que abriga experiências inéditas de culturas, sabedorias, riquezas naturais e formas de existência. O modelo de desenvolvimento depredador, incentivado por governos nacionais, instituições e empresas internacionais agridem violentamente a Amazônia, propagando sofrimento e morte.
A morte que atinge a região tem rostos bem conhecidos: o desmatamento, as queimadas, a poluição, a grilagem, o agronegócio, o garimpo criminosa, a mineração devastadora, a intolerância cultural, o racismo, a mercantilização dos bens naturais e os grandes projetos de exploração. Tais projetos promovem a ganância, o extrativismo e a falta de respeito pela vida humana, como elementos que vêm destruindo a Amazônia e os povos originários.
Da Assembleia da Amazônia emana o apelo para que a humanidade se reencontre com a sua consciência. A mensagem provoca a reflexão urgente sobre os caminhos pelos quais estamos conduzindo os nossos destinos. Que planeta deixaremos para as futuras gerações? A cegueira ética e a ânsia pelo lucro a todo custo nos aproximam cada vez mais do abismo, nos deixando sem tempo e sem saída. É possível um retorno que permita a regeneração da Amazônia?
Frente a um sistema ecocida e etnocida, a Assembleia da Amazônia indica a existência de iniciativas que buscam construir um presente e um futuro comuns, onde a morte e o projeto dos poderosos não têm a última palavra. Há uma minga de resistência dentro das comunidades da floresta, dos campos e das cidades, que se organizam frente à devastação e à fome que continuarão depois desta pandemia.
É possível ouvir um grito dos povos da Amazônia, atacados em seus territórios, memórias e culturas. Um grito ensurdecedor da selva derrubada, queimada, saqueada pelo extrativismo violador, que obedece somente ao poder e à cobiça. A assembleia da Amazônia indica que algo novo está nascendo. Pode ser um impulso na conscientização para a defesa de uma região que gera o oxigênio vital para um mundo que está se afogando.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.