Da Redação
MANAUS – A Operação Guará, deflagrada na última sexta-feira, 26, nos estados do Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Santa Catarina, prendeu 20 pessoas que, segundo a Polícia Civil do Amazonas, são integrantes da facção FDN (Família do Norte) e estão envolvidas nos assassinatos de presos nas penitenciárias do Amazonas. Dessas, quatro foram em flagrante.
De acordo com o delegado Sinval Barroso, diretor do DRCO (Departamento de Repressão ao Crime Organizado) e coordenador da operação, o grupo também está envolvido no homicídio de Magdiel Barreto Valente, o ‘Magnata’, encontrado morto no dia 24 de maio deste ano, no Maranhão.
Magnata era considerado o braço direito de João Branco, um dos líderes da FDN. A morte de ‘Magnata’ foi considerada o estopim para a rebelião nos presídios do Amazonas em maio deste ano, segundo Sinval Barroso. “A morte desse indivíduo ‘Magnata’ foi o estopim para a rebelião dos 56, que teve um nível nacional de repercussão negativa para o nosso estado”, disse o delegado.
De acordo com Sinval Barroso, a ação criminosa está ligada à disputa pela sucessão no comando da facção. O líder da FDN, ‘Zé Roberto da Compensa’, está preso e encontra-se doente. “Isso tudo tem a ver com uma guerra para ver quem assume a facção, tendo em vista que o número 1 dessa facção (Zé Roberto) está condenado há muitos anos e provavelmente vai morrer no presídio, por conta de já ter tido dois AVC’s e glicose muito alta e de vez em quando ele tem um passamento. Então, essa é a guerra que já está se fazendo da sucessão dentro dessa facção”, afirmou Barroso.
O também delegado Mário Junior disse que não se sabe se a ordem para matar ‘Magnata’ partiu de Zé Roberto, mas acredita-se que veio da cúpula da FDN. “A gente não tem essa informação. O Zé Roberto se encontra preso em um presídio de segurança máxima em Campo Grande e só recebe visitas controladas e a gente não tem como afirmar se foi a ordem dada por ele. Mas as pessoas ligadas a ele, que estão ali na liderança também da facção, é que tinham interesse em promover essa divisão, promover o racha dentro da facção e retirar de circulação aqueles que poderiam atrapalhar seus planos de ascensão”, disse Junior.
De acordo com Mario Junior, o vídeo com a fala de Magnata espalhado nas redes sociais antes dele morrer, no dia 23 de maio deste ano, foi usado para incentivar as mortes nos presídios. “O que ele (Magnata) falou lá ele estava falando sob tortura, estava sendo forçado, coagido a confessar que um líder da facção estava traindo o outro líder e que não era confiável e que ele queria tomar o poder e que matou vários amigos deles da própria facção. Então aquela situação foi justamente para jogar um contra o outro”, disse Junior.
O delegado afirmou que isso fez com que os seguidores de Zé Roberto e João Branco fossem jogados uns contra os outros. “A morte dele foi um meio para se atingir o que eles queriam, que era rachar a facção e tirar de circulação, eliminar os seguidores leais ao João Branco. E isso foi feito na cadeia, no sistema”, explicou.
Participação no homicídio
Conforme o delegado Sinval Barroso, Maria Cléia Fernandes Barbosa, 45, irmã de Zé Roberto, e Marcelo Frederico Laborda Júnior, 29, companheiro de Maria Cléia, ambos líderes do movimento de divisão da facção, recrutaram ‘soldados’ para matar ‘Magnata’. Leandro dos Santos Chaves, 25, líder da FDN no Piauí, é apontado na investigação como o executor do homicídio.
De acordo com o delegado, Andreza Rodrigues Lobo, 34, ligada à FDN com atuação em Teresina, no Piauí, organizou os meios e recrutou as pessoas para executar o crime e atraiu ‘Magnata’ para o local da execução. Andreza convidou a vítima para praticar um assalto milionário em Teresina, levando-o para a casa de seu primo, Leandro Chaves e de sua tia, Sinélia Silva Prata, 48.
Ainda segundo Sinval Barroso, José Lobo Rodrigues, 36, líder da FDN em São Luís, também ajudou a levar ‘Magnata’ até o local do crime. Franco Jorge da Conceição, 31, havia combinado de buscar a vítima no aeroporto de Teresina e segundo a Polícia, provavelmente também ajudou a levar Magnata para o cativeiro e participou da tortura.
Marlison Prata Mutimo Silva, 22, é apontado como executor do homicídio pela Polícia. “Esse Marlison foi identificado lá no vídeo da execução do Magdiel, ele estava de balaclava. Nós identificamos ele não só por todo o serviço de inteligência, mas pelas próprias palavras dele e também fizemos uma reconstituição desse crime lá em Teresina”, disse o delegado.
Sinélia Silva Prata, mãe de Leandro e Fabrício (foragido); Ivone de Araújo Mutimo, 38, mãe Marlison Mutimo; Marcilena Sanches Pereira, 44, e Rachel Barbosa de Oliveira, 37, (esposa do Franco Jorge) foram as responsáveis pela logística do plano de homicídio, segundo o chefe da operação. “Como era essa ajuda? Uma alugava a casa, outra alugava o carro. Todos participaram do plano envolvidos em ganhar alguma coisa com isso, que era a promessa de a droga chegar mais barata no estado do Piauí para eles revenderem”, disse.
Daniel Fernandes Benvindo de Sousa, 21, foi o vigia do local onde Magnata estava em cativeiro, aponta a investigação.
Prisões
As prisões de Maria Cléia Fernandes Barbosa, 45; Marcelo Frederico Laborda Júnior, 29, e Charles dos Santos Rodrigues, 29, o ‘Charles BB’, ocorreram na cidade de Florianópolis, capital de Santa Catarina. Maria Cléia e Charles são irmãos do narcotraficante ‘Zé Roberto da Compensa’, Charles já possuía outro mandado de prisão em aberto e era fugitivo do sistema prisional. Os três elementos vão permanecer sob custódia da Polícia Federal do estado.
Ainda durante a operação, foram presos, Andreza Rodrigues Lobo, 34; Leandro dos Santos Chaves, 25, e Rômulo Raphael dos Santos Morais, 27, (segurança do Leandro Chaves) na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Com eles foi apreendida quantidade significativa de drogas, segundo a Polícia.
Na cidade de Teresina, no Piauí, as equipes prenderam, Daniel Fernandes Benvindo de Sousa, 21; Franco Jorge da Conceição, 31; Ivone de Araújo Mutimo, 38; Marcilena Sanches Pereira, 44; Rachel Barbosa de Oliveira, 37; Romário Ramalho Pinto, 25 e Sinélia Silva Prata, 48. Ainda foram cumpridos mandados de prisão preventiva no Maranhão, em São Luís, ocorreu a prisão preventiva de José Lobo Rodrigues, 36; já Marlison Prata Mutimo Silva, 22, foi preso no município de Estreito.
(Colaborou Felipe Campinas)