No início desse ano resolvi mudar de lugar algumas árvores que havia plantado em meu quintal. Um pé de acerola, uma goiabeira e um pé de graviola. Todos vistosos e bem cuidados, estavam com aproximadamente um metro, um metro e meio cada. Tivemos muito cuidado no manejo das plantas, chamei uma pessoa capacitada e acompanhei o transplante de cada uma delas.
Ao terminar a tarefa, percebi que a goiabeira havia ficado à sombra de uma grande mangueira, já adulta, que nasce no quintal do vizinho e invade meu lado do muro. De outra forma, o pé de acerola e o de graviola ficaram muito expostos ao sol e, logo nos primeiros dias após o transplante, percebi que secaram muito rápido. Fiquei com medo de que não resistissem. Com as altas temperaturas e a estiagem, quase perdi a esperança, vendo-os sem uma folha sequer em seus galhos.
Para minha surpresa, as duas plantas sobreviveram. A gravioleira ficou muito linda e verdejante e parece agora mais forte do que nunca, o que me dá a certeza de que vingou de verdade. O pé de acerola embora ainda esteja se recuperando, já mostra muitas folhas novas e pequenas, dando-me a esperança de que logo estará frondosa como antes, quando já se assanhava em oferecer uma ou outra acerola, que meus filhos se apressavam em colher e comer fazendo caretas.
A goiabeira, para minha tristeza, secou e morreu. Tentei salvá-la com algumas vitaminas e água, mas não teve jeito. Logo a goiabeira, que minha mãe sempre dizia ser uma planta resistente, uma pena… tive muito cuidado em colocá-la em lugar seguro, arejado e longe da incidência direta de raios solares.
Assim, olhando bem para aquelas três plantas no meu quintal (a goiabeira seca ainda está lá), pus-me a pensar sobre a natureza das pessoas, que não é diferente das plantas. Às vezes tentamos nos preservar, ou preservar pessoas queridas, e nesse intuito, nos cercamos de proteções, muros e sombras, evitando sentimentos, encontros, sofrimentos ou provações.
Entretanto, somente a exposição ao sol, o peito aberto e os desafios e mudanças podem nos dizer quem de fato somos ou seremos. Na sombra, no quarto ou atrás de muros jamais encontraremos nosso lugar no mundo, nossa missão. Quero lamentar a goiabeira morta, mas também quero provar os frutos daquilo que plantei. Não vou atrás de uma sombra, vou continuar plantando árvores, sonhos e utopias.