Da Redação
MANAUS – Um líder religioso, que não teve o nome e nem a igreja revelados, usava dependentes químicos para desmatar floresta nativa em Unidade de Conservação no município do Careiro Castanho (a 88 quilômetros de Manaus). A atividade ilegal foi descoberta pela Polícia Civil do Amazonas na Operação Grilagem, realizada nesta quarta-feira, 17, no Km 232 da rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho-RO).
A delegada Carla Biaggi, da Delegacia Especializada em Crimes contra o Meio Ambiente e Urbanismo, disse que os viciados em drogas eram levados pelo líder religioso para tratamento, mas ao chegar ao local eram exploradas no trabalho de desmatamento da área protegida de aproximadamente quatro hectares. “O autor é líder de uma igreja e ele levou essas pessoas com a finalidade de reabilitar, sendo que na verdade ele está explorando essas pessoas e está cometendo o crime ambiental, que é a devastação do local”, disse Biaggi.
Segundo Biaggi, por se tratar de uma unidade de conservação, nada poderia ter sido modificado. “Numa unidade de conservação, nada pode ser alterado. Ela só pode ser utilizada, os seus recursos naturais, se for para turismo, se for para pesquisa científica ou para educação ambiental. E nesse caso, eles estavam extraindo os recursos naturais. Estavam retirando madeira, queimando, desmatando. Estavam inclusive fazendo construções no local, o que é proibido”, afirmou.
Junto com os materiais usados para extração da madeira, 23 pessoas foram encontradas em um alojamento. “Além dos materiais, encontramos também, durante os trabalhos, um alojamento com 23 pessoas, e todos os presentes foram encaminhados à 34ª Delegacia Interativa de Polícia (DIP), em Careiro Castanho, para que pudessem prestar esclarecimentos”, disse Biaggi.
A delegada informou que as equipes de investigação estão realizando uma triagem com quem estava no local. Biaggi assegurou que as investigações em torno do caso irão continuar, até que sejam identificados os verdadeiros responsáveis pela ação, para que possam responder criminalmente pelos atos cometidos.
O nome do líder da igreja não foi divulgado para não comprometer as investigações, informou Biaggi. Segundo a delegada, a ação criminosa já ocorre há uma década na região. “Foi uma devastação que não ocorreu este ano, já tem cerca de 10 anos, segundo as investigações que nós fizemos no local”, disse.
Apreensões
De acordo com o delegado Mariolino Brito, diretor do DPI (Departamento de Polícia do Interior), foram apreendidos animais silvestres que estavam sendo mantidos em cativeiros, uma motocicleta com sinais identificadores adulterados e diversas ferramentas, como terçados, pás, serrotes e motosserras, usadas no desmatamento da área. As motosserras estavam sem licença para uso.
Segundo o delegado, uma parte da área pertence ao Estado e outra à União. A região é considerada de preservação e esse desmatamento configurou a ação criminosa como grilagem. “Na realidade, é uma grilagem de fato. Houve uma derrubada muito grande de matas, é uma área de preservação, uma área sensível, dada como referência ao meio ambiente. E nós interditamos ontem e a questão para de acontecer, aquele desmatamento que estava acontecendo já em larga escala”, afirmou.
De acordo com Mariolino, a operação é oriunda de uma solicitação do MPF. “Recebemos uma solicitação do Ministério Público Federal (MPF) para averiguar casos de crimes ambientais e desmatamento em uma Unidade de Conservação, localizada nas proximidades de Careiro Castanho. A partir disso, realizamos diligências e identificamos uma área bem desmatada no lugar, bem como queimadas também”, disse o delegado.
(Colaborou Patrick Motta)