Amada por crianças e jovens do mundo inteiro, a saga Harry Potter completou 20 anos no mês passado. Depois da rejeição de 10 editoras, no dia 26 de junho de 1997 foi publicado o primeiro volume da obra – ‘Harry Potter e a pedra filosofal’ – com tiragem inicial de mil exemplares.
Divorciada, desempregada, a escritora britânica J.K. Rowling sobrevivia de uma espécie de ‘bolsa-família’ da Escócia quando teve a ideia de criar a saga que narra as aventuras de um aprendiz de bruxo chamado Harry Potter.
A trama deu origem a sete livros, oito filmes, uma peça de teatro, parques temáticos, um percurso turístico na Escócia, uma exposição permanente em Londres e inúmeros objetos de marketing sobre o jovem bruxo.
No primeiro contrato, a autora recebeu 1.500 libras (R$ 6,3 mil). Em 2006, Joanne Kathleen Rowling foi eleita a melhor escritora britânica viva e, hoje, tem uma fortuna estimada em 650 milhões de libras (R$ 2,7 bilhões).
Os sete livros foram traduzidos para 79 idiomas em 200 países e venderam um total de 450 milhões de exemplares desde o seu lançamento em 1997, conforme a editora britânica Bloombury. Até setembro de 2016, os filmes faturaram US$ 7,2 bilhões, os livros US$ 7,7 bilhões e os produtos derivados US$ 7,3 bilhões.
Um dos principais pontos da história é o embate entre Harry e o vilão da trama: Lorde Voldemort, que assassinou os pais do menino. O nome do malvado tem origem francesa. ‘Vol’ em francês tem dois significados: voo e ladrão. Assim: ‘Vol de mort’ significaria ‘voo da morte’ ou ‘ladrão da morte’.
Voldemort é considerado o mais poderoso bruxo das trevas de todos os tempos. É tão temido pelo povo mágico que ninguém ousa pronunciar seu nome. Os seus seguidores, os Comensais da Morte, chamam-no de ‘Lorde das Trevas’. Os outros usam codinomes como ‘Aquele-Cujo-Nome-Não-Deve-Ser-Pronunciado’, ‘Você-Sabe-Quem’ e o mais popular: ‘Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado’.
O medo de citar o nome dele também tornou um assunto tabu falar sobre o vilão. Assim, tantas omissões e a possibilidade de operar oculto ‘nos bastidores’ acabaram contribuindo com os planos maléficos de Voldemort.
Não é apenas numa popular obra infantil que é útil o alerta sobre o perigo de ter pessoas ou coisas que não são nomeadas ou abordadas. O esporte também sofre graves consequências por ter tópicos que muitos não gostam de tocar. Não é necessariamente por medo que alguns assuntos são evitados, é porque são considerados chatos e aborrecidos.
E se brasileiros parecem agir como os editores que rejeitaram a obra de J.K. Rowling, outros países, todavia, estão prestando muita atenção nas tramas de personagens do nosso esporte. Alguns deles, inclusive, também precisam ‘contar histórias’ para justificar cifras milionárias.
Na semana passada, por exemplo, Ricardo Teixeira (presidente da CBF de 1989 a 2012) teve sua prisão pedida pela Espanha, acusado de lavar dinheiro obtido por meio de comissões ilícitas recebidas na venda de amistosos da Seleção Brasileira. Teixeira também tem prisão solicitada pelos EUA, desde 2015. Lá, a acusação (Caso Fifa) se refere à crimes como fraude, lavagem de dinheiro e de receber milhões de dólares em propinas para beneficiar empresas de marketing esportivo.
Segundo os investigadores espanhóis, apenas com jogos da Seleção um total de R$ 55 milhões foi tirado do futebol brasileiro. Curioso é que o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, aliado de Teixeira, não se preocupou em tentar recuperar o valor subtraído. Ao contrário, fez questão de mandar uma carta à Espanha para dizer que a entidade não tinha sofrido prejuízo.
Ao negar todas essas acusações, Teixeira fez uma interessante observação sobre nosso País onde o termo ‘cartola’ é símbolo de mágico e sinônimo de dirigente do futebol: “Tem lugar mais seguro que o Brasil? Qual é o lugar? Vou fugir de quê, se aqui não sou acusado de nada? Você sabe que tudo que me acusam no exterior não é crime no Brasil. Não estou dizendo se fiz ou não”, afirmou.
Enquanto ‘ladrões de morte’ seguirem tranquilos praticando a ‘mágica de fazer sumir dinheiro’, os brasileiros continuarão merecendo receber o nome dado aos não-mágicos na série Harry Potter: ‘trouxas’.
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