Por causa do imbróglio do Campeonato Brasileiro de 1987, a Fifa resolveu fazer uma pesquisa com todos os envolvidos.
Enviou a cada uma das partes uma carta com a seguinte pergunta: “Honestamente, qual é a sua opinião isenta sobre o justo e legítimo campeão brasileiro de 1987 da primeira divisão de futebol reivindicado na Justiça Comum pelo Sport Club Recife?”.
A pesquisa foi um fracasso. A imprensa não sabia o que era opinião isenta. A Justiça comum não sabia o que era futebol. O STF não reconhecia o que era “justo”. E a CBF pediu maiores explicações sobre o significado do termo “honestamente”. Pra completar, o Flamengo não sabia o que era Sport Club Recife. E o Sport até agora não respondeu a carta porque ainda não sabe o que é ser legítimo campeão brasileiro da primeira divisão.
Brincadeiras como essas foram feitas – provavelmente por flamenguistas – a respeito de uma decisão tomada, na semana passada, pela 1ª Turma do STF. Por 3 votos a 1, o tribunal julgou que a decisão judicial que conferiu o título ao Sport transitou em julgado e não pode ser alterada. Por esse entendimento, não é válida a resolução da CBF, editada em 2011, reconhecendo o Flamengo também como campeão do torneio de 1987.
Um dos favoráveis ao time pernambucano foi o ministro indicado por Temer, Alexandre Moraes. Ao proferir seu voto, ele declarou, aos risos, que também contestava outro título do Flamengo: o de possuir a maior torcida do Brasil. Segundo Moraes, o time verdadeiramente mais popular é o por qual ele torce, o Corinthians.
O fato do STF ter deliberado sobre um campeonato de 30 anos atrás chamou atenção. Os mais desconfiados acharam que foi tática para desviar o foco das delações da Odebrecht e atrasar ainda mais o julgamento dos réus da Lava Jato. Houve quem fosse conferir se também estava na pauta algo como: “Quem matou Odete Roitman?”.
Quem assistiu à vitória do Flamengo por 1 a 0 sobre o Internacional no dia 13 de dezembro de 87 achou que o campeonato terminaria ali. Não foi bem assim e 87 virou uma espécie de zumbi do futebol nacional, recusando-se a descansar em paz.
Tudo começou quando a CBF disse, em julho daquele ano, que não tinha dinheiro para organizar o campeonato. A emergência fez os clubes mais populares criarem o chamado Clube dos 13 para organizar o campeonato, batizado de Copa União, com 16 times participantes.
O campeonato gerido pelos clubes fez tanto sucesso que muita gente começou a se perguntar para que mesmo existiam federações como a CBF. A entidade reagiu e organizou também um torneio com clubes que ficaram de fora da divisão de elite, chamado de Módulo Amarelo. Um dos 16 times convidados foi o Sport, rebaixado no campeonato anterior, o de 86.
Com o campeonato em andamento, a CBF propôs uma mudança no regulamento. Os finalistas da Copa União deveriam enfrentar os vencedores do chamado Módulo Amarelo em um quadrangular com um total de seis jogos. O Clube dos 13 não aceitou. A mais alta instância esportiva da época, o Conselho Nacional de Desportos (CND) considerou a alteração de regulamento ilegal e proibiu o cruzamento.
O presidente da Fifa, na época, João Havelange, percebeu que estava em jogo o comando do futebol nacional e criticou a decisão do CND. Ele também ressaltou que quem mandava e devia continuar mandando era a CBF e não os clubes.
A CBF manteve a exigência do cruzamento e, como Fla e Inter não participaram do quadrangular, Sport e Guarani novamente duelaram e o time de Recife se deu melhor.
A entidade também ameaçou Inter e Fla de contestarem sua decisão na Justiça comum. A punição seria a exclusão de qualquer competição organizada por ela e a Fifa. O curioso é que o Sport buscou a Justiça comum de Pernambuco e lá ganhou o campeonato brasileiro. CBF e Fifa nunca puniram o clube.
Agora, algo parecido com o torneio de 87 pode afetar a aposentadoria dos brasileiros. Tudo também começa com uma declaração de que não há dinheiro. Um gigantesco rombo na Previdência que exigiria uma reforma dura e urgente.
Para muitos brasileiros, a tal reforma é uma tremenda mudança de regulamento. Enquanto muitos deles consideravam que o “campeonato” já estava finalizando e que eles receberiam o que tinham de direito, vem o governo e diz que serão necessárias “rodadas” adicionais. No caso, um aumento no tempo de contribuição de 25 anos para 40 anos.
Ainda há outras mudanças na proposta que talvez faça com que muitos futuros velhinhos não saibam responder o que é aposentadoria. Nem mesmo se completarem 87 anos.
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Apesar de vascaíno, admiro seu trabalho. Sensacional! Abraço ?