Essa questão do garimpo, da mineração ilegal, existe há décadas no Amazonas. É uma atividade muito cobiçada. Há muitos interesses, devido às grandes reservas minerais existentes, sobretudo, de ouro, o que atrai empresas nacionais, visando a alta lucratividade, e que devem estar investindo e financiando essa atividade no rio Madeira, próxima ao Município de Autazes (AM).
Mas há uma questão que deve ser analisada: a exploração dos trabalhadores, das famílias da localidade. Esses grupos empresariais devem comprar as balsas, as dragas e os trabalhadores locais são quem se arriscam ao longo do Madeira.
Os relatos que chegam é que, realmente, têm muitas famílias que há anos trabalham na mineração ilegal, ainda de forma artesanal e familiar. Mas, se a atividade está crescendo é, realmente, sinal de que tem financiamento. Esses equipamentos de sucção do fundo dos rios são muito caros.
Outra grande preocupação, além da questão econômica, é com relação aos impactos ambientais, sociais e de saúde. Essa extração de minério envolve o intenso uso de mercúrio, que prejudica a saúde; a poluição afeta o ecossistema e também os peixes, principal fonte de alimentação dos ribeirinhos. Muitos moradores da área de Autazes estão preocupados com o que pode acontecer com esse mercúrio todo no rio.
É fato de que é necessário ter uma política de geração de emprego e renda para o interior do estado. Os governos Estadual e Federal devem prover essas alternativas. Há muitas possibilidades econômicas ao Amazonas. O que defendemos há muitos anos é trabalhar e investir mais na produção da agricultura, no beneficiamento de frutas; na produção do pescado, que se encontra de forma farta nos rios. Certamente, é um caminho para gerar renda às famílias do Estado e aos que hoje vivem da mineração ilegal.
Essa é uma atividade muito restrita. E a garimpagem traz grandes impactos, não deixando quase nada às famílias que dela são exploradas. Qual dessas famílias estão bem de vida, têm garantia de renda, são contratadas por empresas para ter seus direitos trabalhistas garantidos?
Agora, com essa operação da Polícia Federal e do Ibama, muitas famílias ficaram sem nada e, pelo visto, pelo que foi noticiado, até agora ninguém estava reivindicando a volta dos equipamentos, como se tivessem tido perdas ou prejuízos. Prova de que estão sendo manipuladas. E o que vemos nessas ações do Governo é que não chegam aos grandes financiadores. Só destruíram e queimaram balsas e dragas. Dessa forma, não resolve o problema e piora ainda mais.
Defendo um auxílio para todas essas famílias, que perderam o trabalho e a renda. Estou solicitando de alguns Ministérios do Governo Federal, como da Cidadania, essa devida atenção. O certo é que não podemos deixar as famílias desamparadas.
Por outro lado, é urgente fazer uma ampla discussão sobre essa pauta da mineração. Na semana passada, foi promovido evento em Manaus, justamente tratando desse tema: I Seminário para o Desenvolvimento Sustentável da Mineração na Amazônia. Promovido pela Organização Mineronegócio, o Brasil Mining Site e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mas realizado na sede da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), com o apoio do Governo do Estado.
E a maioria dos envolvidos nesse evento é de empresas, justamente, as interessadas na mineração. Como alternativa à Zona Franca de Manaus, tem que se pensar em mineração, que cria tantos impactos? Defendo e cobro outros caminhos já estudados, debatidos, na área de ciência e tecnologia, da biodiversidade, da produção de pescado.
Estive em Manacapuru esses dias, visitando o Instituto Tecnológico do Amazonas (Ifam), que desenvolve cursos na área do pescado. Um exemplo de um polo para o pescado. Mas o rio Madeira, todos os municípios dessa região, precisam realmente de um apoio na área econômica de projetos, de geração de renda para população de Humaitá, de Manicoré, de Novo Aripuanã, de Borba até Nova Olinda. Tem que ser dada uma atenção.
O Governo do Estado está omisso, o Governo Federal mais ainda. E as prefeituras ficam com essa carga de responsabilidade com a população, que buscam por ajuda. Então, é urgente ajudar as famílias desamparadas.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.