Natural de Manaus-AM, nascida em 31.03.1951, esposa do saudoso Prof. Roberto Peixoto, chamava-se Ana Maria Souza Peixoto. Formada em Filosofia pela Ufam (1974), cursou também disciplinas no curso de Estudos Sociais e ainda no de Direito como aluna especial. Para nós, alunos do ensino fundamental da Escola Pública Altair Severiano Nunes, era simplesmente a querida Profa. Ana.
Lecionava Geografia do Brasil e do Amazonas. Suas aulas não eram ricas apenas de informações. Entre um afluente e outro do rio Amazonas, entre uma várzea e um igapó, entre furos de rio em meio à floresta, vez ou outra, aparecia também um curupira, uma cobra grande ou um mapinquari. E assim ela ia descortinando o imaginário de lendas amazônicas no pequeno universo daquela sala de aula.
Suas aulas tinham as cores de uma generosa alegria comprometida com o conhecimento. Profa. Ana levava, além de valiosos conteúdos, muita alegria à vida daquelas crianças e adolescentes do ensino fundamental. Depois, tive a oportunidade de ser novamente aluno dela no ensino médio. Era final da década de 80, o Brasil estava se livrando de tempos obscuros e autoritários, tentando inaugurar algo que até hoje estamos buscando – a experiência democrática.
Após a conclusão do ensino médio, somente a encontrei depois de graduado. Foi no lançamento de meu segundo livro, o “Estudos de História do Amazonas”, em 2000, na editora Valer. A querida mestra foi lá incentivar seu pequeno aprendiz. Na ocasião, ela me contou que também tinha textos que estava pensando publicar. Apresentei ela a Marcicley Rego, designer de livros, e a Tenório Telles, coordenador editorial da Valer. Anos depois, a partir de 2004, várias obras dela ganharam forma, compartilhando com o público os frutos de sua singular criatividade: “Quintal”, pela editora Kintaw (2004); “Histórias de bichos da Amazônia”, pela editora Valer (2008); “Sapos no quintal”, “As frutas do meu quintal” e outras obras também pela editora Valer (2010).
Em 2011, por conta da primeira grande Feira de Livros do Amazonas, no Studio 5, àquela época sobretudo livros impressos, reencontrei Profa. Ana. Eu estava lançando uma outra obra de história regional – “História do Amazonas”, pela editora Cultural da Amazônia, dirigida pelo escritor Júlio Antonio Lopes (2011), e a Profa. Ana estava participando de um projeto de contação de estórias para crianças que acontecia no decorrer da Feira. Ela contava estórias aos pequenos, meninos e meninas, quando me fez voltar no tempo, naquelas manhãs em que tempo parava e a sala de aula era toda silêncio para ouvir sua versão de uma lenda, de uma estória ou de um “causo” amazônico. De repente a umidade transbordava em meus olhos e disfarcei com um lenço que estava enxugando o rosto. E, de fato, estava mesmo.
A última vez que estive com ela foi no velório do memorável Prof. José Aldemir de Oliveira, em dezembro do ano passado (2019), ocasião em que a conduzi até a residência dela enquanto me falava dos projetos editorias para formar leitores e de viagens para divulgar suas obras. Lamentavelmente, ela foi mais uma vítima das complicações causadas pela covid-19.
Profa Ana era viúva, mãe de Rodrigo, Roberta, Renata e mais dois filhos do coração. Tinha sete netos, dentre os quais a Hanna, filha de Rodrigo. E muitos ex-alunos que admiram seu percurso nesta vida e suas criativas obras infanto-juvenis. Deixa um grande legado de educação para tantas almas que ajudou a formar, um enorme buraco de saudade no peito… e a esperança de que suas estórias, obras e memórias de sala de aula ajudem a preenchê-lo. Deus a tenha admirável e querida Profa. Ana! O céu certamente ficou ainda mais feliz. Vá em Paz!
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