
Por Valmir Lima, Da Redação
MANAUS – Participante do primeiro painel do “I Congresso de Gestão da Amazônia: inovação, sustentabilidade e governança”, realizado em Manaus, o empresário Jaime Benchimol, do Grupo Bemol/Fogás, criticou as políticas ambientais brasileiras que, segundo ele, travam o desenvolvimento da região amazônica, e propôs um novo ciclo de desenvolvimento, que exige maior exploração dos recursos naturais e minerais da Amazônia.
Para ele, as premissas que devem ser levadas em consideração para a região amazônica devem conciliar a preservação ambiental com desenvolvimento, que leve em conta as pessoas que vivem na região. Benchimol defendeu o modelo Zona Franca de Manaus, que não tem substituto no curto prazo, mas afirma que ele está ameaçado pela obsolescência dos produtos fabricados nas indústrias de Manaus.
“Esse modelo é fantástico, nos trouxe até aqui, beneficiou a todos nós, não podemos abrir mão dele, mas ele está concentrado sobre pilares muito fracos, dependendo de incentivos fiscais e com um enorme risco de obsolescência tecnológica sobres os produtos que produzimos aqui”, disse.
O empresário lembrou que 50% dos produtos do Polo Industrial de Manaus estão migrando para dentro do telefone celular. “Televisor, aparelho de som, vídeo game, GPS, calculadora, máquina fotográfica, computadores etc, tudo está migrando para o telefone celular”.
A saída, segundo o empresário, é buscar um novo modelo de desenvolvimento regional que não seja assentado sob as mesmas bases da Zona Franca de Manaus. “Essa convergência [dos produtos para o celular] coloca um enorme desafio de obsolescência tecnológica sobre o nosso modelo. E não há a quem recorrer. Não adianta ir para Brasília, como estamos acostumados a fazer. Vamos pedir o que? Para proibir o telefone celular?”, questiona.
Verdadeiras vocações
O empresário amazonense afirma que o desafio para o Amazonas é pensar em novas alternativas que levem em consideração as verdadeiras vocações da região amazônica. “Atividades como agricultura, fruticultura, em alguns casos a pecuária, a mineração, a construção naval, as atividades de logística de grãos que estão explodindo na região, piscicultura, produtos regionais, fármacos, madeira, peixes ornamentais, etc.” são exemplos apresentados por ele no painel “Estratégias de Sustentabilidade na Amazônia”.
Benchimol citou o exemplo de Cingapura, uma pequena região de 700 quilômetros quadrados que tem a mesma idade da Zona Franca de Manaus, mas que, segundo ele, “investiu pesadamente naquilo que era a vocação dela: porto, turismo, a educação, a atração de boas instituições para acolher empresas internacionais e por ai vai…”
Jaime Benchimol afirma que o Amazonas deve repensar o modelo a partir dessas premissas, mas sem pensar em ir a Brasília. “Meu critério é: primeiro filtro… se tem que ir a Brasília, então tá errado, começa tudo de novo. É mais ou menos assim. Porque esse modelo nós já conhecemos… Não podemos abrir mão da zona franca, não temos nada que possa substituir a zona franca no primeiro momento. Podemos recomeçar outro modelo, mas trilhar o mesmo caminho, tenha paciência, não cabe mais”.
A questão ambiental
Um dos entraves para um novo modelo de desenvolvimento da região, na opinião de Jaime Benchimol, é a política ambiental imposta tanto pelo Brasil quanto por países interessados na manutenção da floresta intocada, com uma defesa radical do meio ambiente.
“Eu acho que, como o meu pai [Samuel Benchimol] lá atrás receava, nós tiramos o homem da equação da Amazônia, ou estamos tirando o homem, principalmente o homem de hoje. Nós entramos num processo de defesa radical do meio ambiente, especialmente no Estado do Amazonas, que tem cerca de 97% ou 98% de sua floresta preservada, e temos agora muito poucas alternativas para nos desenvolver. Não conseguimos sequer fazer uma estrada, não conseguimos balizar os rios, não conseguimos fazer nenhuma dessas atividades que eu havia mencionado”.
O projeto do potássio, que prevê a exploração de jazidas de silvinita na bacia do Rio Amazonas (região de Autazes, principalmente), lembrou Benchimol, há sete anos não sai do papel por conta dos embargos judiciais por ação de ambientalistas.
“Sete anos. Estamos precisando de fertilizantes no Mato Grosso e importamos 90% do potássio que precisamos no Brasil e não conseguimos viabilizar. Depois de sete anos, a única licença que tínhamos conseguido, foi cassada pelo Ministério Público, voltamos à estaca zero, tendo investido aqui, esse grupo empresarial que é do Canadá, mas que também tem empresas amazonenses e brasileiras, 180 milhões de dólares. Só para dar um exemplo do que é o desencorajamento ambiental nessa área”.
Na opinião de Benchimol, a defesa do meio ambiente no Amazonas e na Amazônia criou um inferno para quem quer explorar os recursos minerais e naturais. “Nós temos um inferno, essa é a palavra verdadeira, para quem precisa remover um quilômetro quadrado de floresta”.
Maus exemplos
O empresário citou dois exemplos de países que defendem a Amazônia intocada, mas que tem práticas ambientais totalmente incompatíveis com o discurso de seus governantes. O primeiro é a Noruega, que inclusive criou um fundo em defesa da Amazônia. “Eles querem preservar a nossa floresta, mas a Noruega produz 2 milhões de barris de petróleo por dia. 2 milhões de barris de petróleo por dia tem um único proposito: ser queimado e transformado em carbono. Não serve para mais nada. Por que não param de produzir se estão tão preocupados com o meio ambiente? Preferem gastar um bilhão de dólares num fundo para Amazônia para nós não queimarmos a nossa floresta, para não jogarmos carbono na atmosfera para que eles possam jogar 2 milhões de barris de petróleo por dia. Esse tipo de hipocrisia, eu acho que precisa ser questionado. Eu acho que a Noruega está errada? Não! Eu acho que errados estamos nós”.
O outro exemplo é da Holanda. “Eu conversando com um ambientalista, pedi para ele me dar um exemplo de país que é 100% do ponto de vista ambiental, que segue as regras, que tem maior cuidado com o meio ambiente. Ele pensou, pensou e me falou: A Holanda. Eu disse: mas 60% do território holandês foi aterrado no mar, ou perto disso, não sei exatamente qual é a proporção, 30%, 40% do território, alguma coisa nesse sentido. E o que foi feito nesse território? Foram feitas pastagens e campos agrícolas”. E segue questionando: “Por que nós temos que preservar? O mar é um bioma que foi devastado. Vamos fazer um projeto para devolver esse bioma. Eu estou propondo isso? Não. Apenas estou dizendo que é incoerente essa política de defesa do meio ambiente que eles têm com a que eles querem que nós tenhamos”.
Coragem para exigir mais
A proposta concreta apresentada por Jaime Benchimol a uma plateia formada por pesquisadores, professores, estudantes universitários, empresários e ambientalistas é que o Amazonas tenha “a coragem de dizer que nós precisamos de um percentual maior da floresta para desenvolver as nossas vocações. Então nós temos aqui hoje 2% ou 3% [de área desmatada], precisamos de 5% para fazer as estradas, para fazer a mineração para fazer as nossas atividades em busca das nossas vocações”.
Para o empresário, esse modelo preservacionista não se sustenta mais diante dos desafios que se apresentam para a economia da região. “Não podemos mais, em razão do homem amazônico, não só de hoje, mas do homem de amanhã, também, e ele tem direito de usufruir desses recursos da natureza”.
ANALISE LUCIDA, HONESTA E COMPETENTE!
Perfeito! É muita hipocrisia e atraso pra região. E assim as oportunidades vão se esvaindo