Jullie Pereira, da Redação
MANAUS – O Amazonas está em sétimo lugar entre os estados que mais registraram suicídio de policiais nos últimos cinco anos. Na região Norte, é o segundo atrás do Pará. Foram oito mortes, enquanto no Pará ocorreram dez casos. Entre os mortos, seis eram da Polícia Militar e dois da Polícia Civil. Os dados são da Secretaria de Segurança Nacional, do Ministério da Justiça, divulgados em novembro deste ano.
O Rio de Janeiro registrou o maior número, com 29 casos. Ao total, foram registrados 151 casos de morte por suicídio de policiais nos últimos cinco anos no Brasil. Os números estão na 13ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. No ano passado, 104 policiais cometeram suicídio no país.
A psicóloga Greicy Nobre, do Departamento de Controle e Avaliação da Polícia Civil do Amazonas, diz que os policiais têm propensão à doenças psicológicas. “Este profissional é suscetível tanto ao adoecimento psíquico quanto o físico, como o surgimento de hipertensão, diabetes, doenças relacionadas ao aparelho osteomuscular”, afirma.
“Quanto aos sintomas relacionados à patologias psíquicas, apresentam problemas físicos e psicológicos relacionados ao estresse ou depressão como insônia, perda ou aumento de peso, ansiedade, irritabilidade ou tristeza, apatia, perda de interesse ou do sentido da vida”, disse.
Greicy também cita os principais desafios que a saúde mental dos policiais pode enfrentar. “Os problemas que mais impactam psicologicamente a vida de um policial são o estresse e a ansiedade inerentes à atividade policial, haja vista que ao profissional de segurança pública recai as peculiaridades da profissão que impõem a eles o enfrentamento de situações-limite”.
Greicy explica que esse estresse advindo da profissão pode ser minimizado a partir do acompanhamento terapêutico. “O autoconhecimento experienciado a partir do tratamento psicoterapêutico contribui para que o profissional de segurança pública tanto explore suas potencialidades quanto respeite seus limites, equilibrando seu mundo interior com o exterior, trabalhando principalmente sua frustração e desenvolvendo recursos internos como a resiliência, lembrando-se que antes de ser policial é um ser humano suscetível ao adoecimento físico e psíquico”, explicou.
Sinais de depressão
A psicóloga alerta que não existem prescrições exatas para o suicídio, nem um padrão para identificá-lo, mas que podem existir sinais de alerta “Um indivíduo em sofrimento pode dar certos sinais, como o aparecimento ou agravamento de problemas de conduta ou de comunicações verbais durante pelo menos duas semanas. Essas manifestações devem ser interpretadas como ameaças ou como chantagem emocional, mas sim como sinais de alerta para um risco real”, diz.
Existem frases recorrentes ditas por pessoas em sofrimento que podem se tornar outros sinais de distúrbio. Greicy lembra algumas: “Alguns comentários podem parecer óbvios, mas muitas vezes são ignorados, como por exemplo: ‘vou desaparecer, vou deixar você em paz, eu queria poder dormir e nunca mais acordar’. As pessoas sob risco de suicídio costumam falar da morte mais do que o comum”, alerta.
O Ministério da Saúde cita que “o suicídio é um fenômeno complexo, multifacetado e de múltiplas determinações, que podem afetar indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero”.
A Secretaria Nacional de Segurança Pública – Senasp/MJ estabelece como fonte geradora de estresse “um conjunto de reações, com componentes físicos e emocionais, que um organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige um esforço para resolução”.
A reportagem solicitou nota do Comando Militar da Polícia do Amazonas sobre o enfrentamento da situação, mas até a publicação da matéria não houve resposta.