Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Marcus Vinícius Lacerda, médico infectologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia (Fundação Oswaldo Cruz), afirma que um percentual mínimo de 80% de vacinados não vai impedir que o novo coronavírus circule no Amazonas. Em entrevista ao ATUAL, Lacerda explica que o certo é que todos procurem se imunizar para evitar que a Covid-19 evolua para casos graves.
Até a manhã de sexta-feira (3), o vacinômetro da FVS-AM (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas) informava que 65,5% da população do estado com 12 anos ou mais – público vacinável – está com o esquema vacinal completo, que inclui as duas doses ou dose única.
No vacinômetro consta que são 3,24 milhões de habitantes no Amazonas a partir dessa idade. Desse total, 83,3% tomaram a primeira dose e 76,5% a segunda.
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Marcus Lacerda refuta a imunidade de rebanho e cita como exemplo que uma grande quantidade de pessoas em contato com o vírus não impediu a circulação da doença, surgindo uma variante.
“A gente sempre falou em 80%, mas se você olhar, tem lugares que estão próximos de 80% [vacinados] e o vírus continua circulando muito. Então, aquela imunidade de rebanho que a gente falava assim ‘quando 80% tiverem a doença o vírus para de circular’, a gente viu que aquilo era mentira, não deu certo. Manaus tinha também muita gente ano passado que teve contato com o vírus, mas isso não foi suficiente para evitar a infecção pela variante P1”, disse.
O infectologista esclarece que as pessoas vacinadas apresentam a doença de forma leve, mas o vírus continua a se propagar. Por este motivo, ressalta que a procura pela imunização deve ser prioridade.
“Então, agora é um cuidado individual. Ou seja, como o vírus vai circular de todo jeito, o que eu preciso é ter pelo menos duas doses e no melhor cenário três doses para que eu não desenvolva formas graves. Mas aquele percentual que a gente dizia ‘chegou nesse percentual o vírus vai parar de circular’, aquilo nós aprendemos que não funciona desse jeito”, afirmou.
Mutações e vacinas
Lacerda explica que a estratégia do vírus é justamente se tornar mais transmissível com as variantes. “As variantes vão acontecendo para se tornarem mais transmissíveis. Quer dizer, o vírus tenta ser mais transmissível porque com isso ele se espalha mais. Então, da mesma forma que nós tivemos a variante Gama (P1), que nasceu no Amazonas e acabou se espalhando pelo resto do Brasil, a variante Delta que vem da Índia e se espalha pelo mundo, é possível que a Ômicron também vá se espalhar agora”.
Apesar disso, na avaliação do pesquisador a vacinação tem dado bons resultados. “Apesar dessas mutações acontecerem, e é normal que elas vão continuar acontecendo no mundo daqui para a frente, as vacinas parecem estar protegendo muito bem essas pessoas, independente da variante. Se a Ômicron é diferente das outras, a gente de fato não tem essa informação ainda. Mas todas as notícias que a gente recebe da África do Sul é que pessoas infectadas pela Ômicron que estavam vacinadas tiveram quadros leves”.
Inverno amazônico
O infectologista afirma que a estratégia de vacinação é a mesma empregada para o combate a outras doenças. “Ora, isso não é nada diferente do que acontece com a influenza todos os anos. Aliás, Manaus agora está entrando no período de transmissão de influenza. Muitos de nós teremos infecção por influenza, teremos uma gripe leve. Aquelas pessoas mais idosas que não se vacinaram para a gripe vão morrer de influenza da mesma forma como essas pessoas que não se vacinaram vão ter contato com o SARS-CoV-2”, alertou.
Lacerda cita a Alemanha como exemplo e a compara com o Amazonas. “Eles (alemães) estão entrando no inverno, é frio agora na Alemanha, da mesma forma que a gente está entrando no nosso inverno amazônico aqui. Mas se você olhar o número de mortes, é um número de mortes que não é tão alto, ele não acompanha o número de casos. Por quê? Porque essas pessoas que estão morrendo são aquelas pessoas que não se vacinaram”.
“Da mesma isso deve acontecer aqui no Brasil. Ou seja, eu vou ter transmissão do vírus entre pessoas vacinadas, que não vão morrer, mas esse vírus vai conseguir encontrar pessoas não vacinadas ou aquelas pessoas que tomaram duas doses no início do ano e que não fizeram o reforço, a sua terceira dose”, destacou.
De acordo com o infectologista, algumas pessoas não buscam a terceira dose por medo ou associação a outras doenças. “Ontem mesmo no consultório eu atendi um paciente com outro problema que não era Covid, mas ele tinha feito duas doses da vacina no início do ano e ele associou a um problema de saúde que ele teve com a vacina. Ele não queria tomar a terceira dose. Esse tipo de pessoa é que vai ser vítima agora no nosso inverno amazônico de infecções pela Covid”, exemplificou.
Monitoramento pelos casos
De acordo com dados da FVS divulgados na última quarta-feira (1º), o mês de novembro teve 21 dias sem mortes pelo novo coronavírus. Em vídeo nas redes sociais, o governador Wilson Lima atribui o resultado ao avanço da vacinação.
Mas Lacerda chama a atenção para a necessidade de um acompanhamento do avanço da doença com base na quantidade de casos e não óbitos. “Nós não podemos usar morte para monitorar o que está acontecendo, porque a morte, quando ela acontece, duas semanas antes eu tive uma transmissão muito alta. Então o monitoramento do que vai acontecer não deve ser por número de mortes, mas por número de casos diagnosticados”, disse.
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Segundo o pesquisador, os casos diagnosticados têm aumentado em Manaus. “A gente passou um período praticamente sem casos, era difícil encontrar alguém com Covid. Agora aos consultórios já estão chegando pacientes com Covid. Quadros leves, porque as pessoas estão vacinadas”, afirmou.
É possível verificar essa mudança no número de casos da doença pelos dados disponíveis nos boletins diários da FVS em relação a novembro, observando as duas quinzenas do último mês.
Quanto a dezembro, até esta sexta-feira (3), os dados de quarta (1º) e quinta-feira (2) disponíveis no portal da FVS informavam 129 (sendo 37 em Manaus) e 119 casos (43 em Manaus) confirmados de Covid-19 no estado.
Marcus Vinícius Lacerda, RESPONSÁVEL PELO CONTROVERSO ESTUDO SOBRE A CLOROQUINA, A OPINIÃO DELE SOBRE ESSE ASSUNTO É NO MÍNIMO PRA SE DESCONFIAR, PRA MIM NÃO PASSA CREDIBILIDADE NENHUMA
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“o vírus tenta ser mais transmissível”. Os vírus não tentam nada! As variantes acontecem por mutações ao acaso nos corpos dos infectados, quanto mais infectados mais probabilidades de ter novas variantes com propriedades biológicas mais letais, infectantes ou não e/ou capacidade de evasão da resposta imune ou não . Quanto maior o número de pessoas vacinadas, menor a probabilidade de ter novas variantes, é dessa forma que se está tratando de controlar e minimizar a pandemia.