
Da Redação
MANAUS – Enquanto a biodiversidade da Amazônia ecoa no discurso político, a umidade do ar da região é transformada em água puríssima e vendida a R$ 323 a garrafa de 750 ml. A inovação é da Ô Amazon Air Water instalada em Barcelos (a 401 quilômetros de Manaus).
A empresa utiliza captadores para captar e condensar a umidade do ar em reservatórios esterilizados. O processo é idêntico ao natural em que a água passa do estado gasoso para o líquido sem nenhum aditivo químico. A Air Water tem capacidade para produzir cinco mil litros por dia.
Para manter o método sustentável de produção, a empresa usará embalagens de vidro, que é 100% reciclável, e tampa biodegradável. A empresa pretende atuar no segmento de luxo. Para primeiro ano, a projeção de venda é de seis milhões de garrafas.
A empresa também vai doar garrafões de 20 litros para pessoas sem acesso a água tratada em Barcelos. “Junto às autoridades do município, criamos o Galão 20 litros’, onde teremos o cadastro de pessoas em situação de vulnerabilidade da cidade, para quem vamos fazer as doações”, disse o empreendedor e sócio Cal Junior ao blog ‘O Mundo em Movimento’, do UOL.
Proteínas alternativas
A produção de água a partir da umidade do ar é um dos produtos inovadores com potencial de mercado global. Outro é a proteína alternativa a partir de plantas nativas da região. “O Estado do Amazonas pode se tornar sede mundial de indústrias do setor de inovação em alimentos de proteínas alternativas, uma vez que o Polo Industrial de Manaus tem um potencial muito grande de atrair novas indústrias para Manaus e região”, afirma Gustavo Guadagnini, diretor executivo do The Good Food Institute Brasil (GFI), em palestra no Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) em Manaus.
O GFI é uma organização sem fins lucrativos sediada nos EUA que promove alternativas à base de plantas para carne, laticínios e ovos, bem como carne cultivada e alternativas aos produtos da agricultura animal convencional. Os representantes do Instituto estão em Manaus a convite da Sedecti (Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação).
Para Gustavo Guadagnini, tão logo seja oficializado o marco regulatório do setor de inovação em alimentos, haverá a possibilidade de atrair mais indústrias estrangeiras para o Amazonas. O executivo chama atenção para a necessidade em atrair, primeiramente, o mercado nacional para as potencialidades de alimentos no Amazonas.
“Primeiro temos um potencial muito grande da indústria nacional que está se desenvolvendo para vender mundialmente. A indústria brasileira já está exportando para o mundo inteiro, vendendo para a América, Europa, África, Ásia e continuamos crescendo cada vez mais. Por isso, trazer a própria indústria nacional para o Amazonas, que tem um grande potencial de conquistar o mundo, por meio desse tipo de pesquisa. Isso, aliado a outros esforços do Governo Federal que é a questão da regulação desse setor no Brasil. Com o setor regulamentado, existe a grande possibilidade de atrair novas indústrias estrangeiras para se estabelecerem aqui em Manaus”, explicou.
O executivo se disse “fascinado com o potencial que o Amazonas tem de ser um dos maiores players do setor em inovação em alimentos daqui para frente, no sentido de olhar uma área que se baseia muito nas necessidades que vêm da biodiversidade”.
“Estamos falando de fazer produtos da base de vegetais ou de nutrir células animais, e tudo isso pode nascer aqui (Amazonas), porque aqui temos os pesquisadores, os institutos de pesquisas, a biodiversidade tanto dos vegetais, quanto dos animais, o que seria muito difícil de encontrar em outros lugares do mundo”, disse.
“Acredito fortemente que o Estado do Amazonas será um dos grandes líderes desse tipo de pesquisa e do desenvolvimento dessas tecnologias, seja para produto final, como, por exemplo, o hambúrguer de tucumã, seja para ingredientes que serão as vitaminas vindas de determinada planta amazônica servindo de nutrientes para células, entre outras possibilidades”, reforçou Guadagnini.
Biópolis Amazonas
A secretária executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), Tatiana Schor, destacou que a vinda do GFI para Manaus faz parte de um dos propósitos do Programa Estruturante Biópolis Amazonas, que também trata sobre a diversificação da matriz econômica no Estado.
“Muito se fala em fortalecer o Polo Industrial de Manaus trazendo outros tipos de indústrias e produção e investimentos, e uma dessas possibilidades que está dentro do Programa Estruturante Biopolis Amazonas e que também faz parte do Programa Plurianual do Governo do Estado, é a de se trabalhar com proteínas alternativas que é um novo mercado crescente no mundo, já que o Brasil está disparando na ponta”, ressaltou.
A secretária destacou que as proteínas alternativas são produzidas a partir de plantas e de carnes cultivadas. “Já vimos algumas iniciativas na produção de órgãos humanos para transplante a partir de células, e essa alternativa de produção de alimentos trabalha na produção de carne também a partir do desenvolvimento celular, sem matar o animal. Logo, temos aí uma potencialidade enorme porque podemos pensar nas linhagens de células que temos na Amazônia. Além disso, a salvaguarda dessas células pode servir tanto para preservarmos a nossa floresta e ao mesmo tempo, para produzirmos uma alimentação diferenciada e diversificada, fortalecendo os elos tradicionais com a nossa comida”, salientou Schor.
Desperdício de alimentos
A nutricionista e pesquisadora, Dionísia Nagahama, responsável pelo Laboratório de Alimentos e Nutrição do Inpa, viu no evento uma grande oportunidade para os pesquisadores, principalmente, na questão de desperdício de alimentos. “Vejo uma oportunidade muito boa com essa iniciativa do The Good Food Institute, porque é uma chance de se conseguir financiamentos para a pesquisa na área de alimentos e nutrição. Além disso, existe uma grande oportunidade para se trabalhar com a questão genética e também de desenvolver trabalhos voltados para a questão do desperdício de alimentos, já que o nosso país é pobre e ainda tem a cultura do desperdício”, disse.
“Assim, acredito que possam surgir grandes possibilidades de se aproveitar alimentos que não são utilizados e que também não são subprodutos, realizando iniciativas saudáveis e ambientalmente corretas, sem falar na geração de economia e renda para a região”, disse a cientista.