Por Alessandra Taveira, da Redação
MANAUS – “Apologia ao crime e ao criminoso”, “intolerável” e “pacto com o machismo” são as interpretações de juristas e sociólogas sobre o caso da fantasia do goleiro Bruno usada por um homem na festa de Halloween da casa noturna Porão do Alemão em Manaus, na segunda-feira (1º).
No âmbito jurídico e criminalista, a advogada Carol Amaral, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-AM (Ordem dos Advogados do Brasil no Amazonas), entende o caso como “apologia direta ao crime e ao criminoso”.
“Está previsto no nosso Código Penal, no Artigo 287, que ‘fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime, a pena é de detenção, de três a seis meses, ou multa’. Então, quando esse rapaz aparece fantasiado com o uniforme do Flamengo, com o nome Bruno, e um saco preto [na mão] intitulado de ‘Eliza’, por óbvio, ele está fazendo menção ao crime bárbaro que foi cometido pelo então goleiro contra sua ex-namorada Eliza Samudio, que foi assassinada, esquartejada e teve seu cadáver ocultado pelo goleiro e pelo seu comparsa”, afirma.
Carol, alega ainda, que a conduta da casa noturna também deve ser questionada pelo fato de ter divulgado a fantasia em um perfil nas redes sociais. “Um verdadeiro desrespeito a todas as mulheres que frequentam a casa, a todas as mulheres que trabalham na casa, a todas as mulheres que tiveram contato com essa imagem e, em especial, à família de Eliza Samudio”.
“Acredito que tanto a casa quanto o senhor tatuador sejam penalizados pelos rigores da lei e pela prática do crime de apologia de crime ou criminoso”, disse.
Cientistas sociais ouvidas pelo ATUAL que estão diretamente ligadas aos estudos e debates sobre gênero e sociedade no Amazonas, concordaram ao opinar sobre o fato.
“É assustador e intolerável”, disse Iraildes Caldas, antropóloga social e professora na Universidade Federal do Amazonas. Ela classifica como “torpe” e que houve um “requinte de crueldade” no crime cometido pelo ex-goleiro do time Rubro-Negro.
Iraildes afirma que a fantasia é “um louvor ao crime de forma tripla” porque celebra o feminicídio, a ocultação de cadáver e o vilipêndio à memória de Eliza. “Mesmo morta, ainda tem esses casos de trazer para a sociedade um assassinato através de uma apologia”.
A antropóloga explica que “evocar a figura do assassino é uma forma de adorá-lo, de idolatrá-lo e dizer que ‘este homem é o ícone, o dominador’”. Atitudes como essa inspiram outros homens a fazer o mal e cometer feminicídio.
Iraildes Caldas atribui atos violentos contra a mulher ao medo do homem frente à mulher. “Pesquisas [acadêmicas] mostram que é por isso que o homem recorre à misoginia e à violência, causando mal-estar”.
O mal-estar, conforme o raciocínio de Iraildes, naturaliza o absurdo. Freud explica: “mal-estar significa fragilidade, falta de abrigo, estar desprotegido. Então, usar a imagem do Bruno, matador da Eliza Samúdio, é buscar nele esse amparo, essa proteção. O homem, então, evoca o mal-estar e o dissemina na sociedade”.
Como efeitos dessa naturalização, do uso da imagem de um assassino como fantasia, está o acirramento constante da violência contra a mulher, explica Kátia Couto, historiadora e coordenadora dos Estudos de Gênero da Associação Nacional de História no Amazonas.
“Consenso de impunidade muito latente”, afirma. “Esses cidadãos acreditam que há um poder masculino que se sobrepõe na sociedade e que resguarda seus direitos de agir e se manifestar como bem entendem. Eles estão protegidos por uma questão de classe e gênero”.
A fantasia usada no Halloween, segundo Katia, é uma forma de “confrontação” e se relaciona a um “discurso de supremacia do poder bélico”.
Kátia Couto finaliza: “para a sociedade, isso é perigoso porque dá um recado de constante confrontação e de repúdio às leis e instituições que protegem a ordem jurídica e social da nossa sociedade. O rechaço a esse tipo de comportamento é importante.”
A única coisa que eu vi é que esse rapaz deve ser torcedor do vasco e.quis queimar o time rival (flamengo) mas não sabia que estava fazendo apologia ao crime e o criminoso.