Do ATUAL
MANAUS – A intervenção humana no meio ambiente alterou de tal forma sua composição que aproximadamente 80% da biomassa dos mamíferos e 50% da biomassa vegetal se perderam, enquanto mais espécies estão em perigo de extinção do que em qualquer outro momento da história humana. atividade humana afeta o clima e a biodiversidade.
A conclusão é de estudo de cientistas internacionais publicado na revista Science. A equipe foi liderada pelo alemão Hans-Otto Pörtner e teve a participação do brasileiro Adalberto Luis Val, professor e pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
Segundo a pesquisa, as atividades humanas alteraram aproximadamente 75% da superfície terrestre e 66% das águas marinhas. “Neste sentido, o aquecimento global e a destruição dos habitats naturais não só levam à perda da biodiversidade, mas também reduzem a capacidade dos organismos, solos e sedimentos de armazenar carbono, o que, por sua vez, agrava a crise climática”, diz Adalberto Val em artigo na própria Siciense.
Os pesquisadores afirmam que as mudanças climáticas antropogências, as criadas por ação humana, combinada com a destruição dos ecossistemas naturais através de práticas agrícolas, pesqueiras e industriais, provocaram perda de bioversidade sem precedentes. E que tendem a piorar.
A equipe, a serviço do Alfred Wegener Institute, que atua em pesquisa polar e marinha, sediado na Alemanha, sugere adoção de novas perspectivas sobre os temas, para conter os avanços maléficos e globais.
As recomendações são para proteger e restaurar pelo menos 30% de todas as zonas terrestres, de água doce e marinhas; estabelecer uma rede de áreas protegidas interconectadas; e promover a colaboração entre os agentes causadores dos males, que muitas operam independentemente.
Adalberto Val diz que a crise climática e a perda de biodiversidade estão associadas e devem ser tratadas como complementares. Segundo ele, a ação humana sobre o sistema terrestre com aumento de emissão de gases de efeito estufa causou aumento de 1,1 grau Celsius na temperatura média global em relação à era pré-industrial, menos poluente.
“A consequência tem sido mudanças na distribuição de precipitação de chuvas e aumento no nível global do mar. Os oceanos estão se tornando mais ácidos. E é cada vez mais frequente a ocorrência de eventos climáticos extremos”, diz o pesquisador brasileiro no artigo.
O estudo publicado na Science começou em dezembro de 202o com a participação de 62 pesquisadores de 35 países e foi coordenado por duas organizações pertencentes às Nações Unidas: a Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPPC).
Os pesquisadores identificaram que organismos sésseis como os corais só podem deslocar seus habitats muito gradualmente, no curso de gerações: como tal, são capturados em uma armadilha de temperatura, o que significa que grandes recifes de corais poderiam, a longo prazo, desaparecer por completo. E as espécies móveis também podem entrar em becos sem saída climática na forma de cumes de montanhas, nas costas de terras e ilhas, nos pólos e nas profundezas do oceano, se não conseguirem mais encontrar um habitat com temperaturas adequadas para colonizar.
Adalberto Val revela que a sugestão do grupo de estudo para enfrentar essas múltiplas crises propõe uma combinação ambiciosa de medidas de redução de emissões, restauração e proteção, gestão inteligente do uso da terra e promoção de competências interinstitucionais entre os atores políticos.
Os autores da pesquisa também pedem uma abordagem moderna de gestão do uso da terra, na qual as áreas protegidas não sejam vistas como refúgios isolados para a biodiversiade. “Ao contrário, elas precisam fazer parte de uma rede mundial, tanto em terra quanto no mar, que interliga regiões comparativamente intocadas através de corredores de migração para as diversas espécies”, afirma Val.
“Também, devem ser criados paraísos suficientes para as espécies que possibilitam colheitas, como os insetos que polinizam as árvores frutíferas. Finalmente, a melhoria do balanço de dióxido de carbono deve ser a prioridade absoluta nas cidades”, diz o cientista brasileiro.