RIO DE JANEIRO – Um pequeno tesouro literário, guardado com esmero durante quatro gerações, veio a público na última semana. Dezenas de documentos, fotos e 61 cartas do crítico e acadêmico José Veríssimo, recebidas do escritor Machado de Assis, foram entregues pela família de Veríssimo à Academia Brasileira de Letras (ABL).
Textos manuscritos, datados do início do século passado, e até uma fotografia e 12 cartas inéditas do patrono da Academia ficaram guardados por décadas em um antigo gaveteiro de madeira, que veio passando de geração em geração e, por último, estava no apartamento da aposentada Helena Araújo Lima Veríssimo, viúva do jornalista Jorge Luiz Veríssimo, um dos netos de José Veríssimo.
Apesar do valor histórico e sentimental do material, a família achou melhor entregar a guarda dos documentos à ABL, que tem condições ideais para cuidar e preservar a coleção.
“O acervo do José Veríssimo estava com o marechal [Inácio José Veríssimo, filho do acadêmico], que era uma pessoa voltada para a literatura, apesar de ser militar. O marechal organizou o acervo, escreveu uma biografia de José Veríssimo e depois passou tudo para meu marido”, disse Helena.
A decisão de doar os documentos foi amadurecida em família durante dois anos, segundo o professor de filosofia Luiz José Veríssimo, bisneto de José Veríssimo, que destacou o valor do acervo para a pesquisa literária. “Nós pesquisadores temos um verdadeiro culto sagrado à fonte primária. É um momento de êxtase, para poder dali fazer crescer o conhecimento”.
O primeiro contato com o material foi feito pela pesquisadora Ireno Moutinho, especializada na história de Machado de Assis, responsável pela reunião da correspondência do patrono da Academia em uma obra com cinco volumes, englobando 1.289 cartas.
“São dez cartas e dois cartões de visita [inéditos]. As cartas, que nunca foram publicadas, são curtas, coisas que eles trocavam, mas são super importantes. Porque às vezes uma que nunca foi publicada faz uma ponte entre outras duas. Elas eram a forma pontual deles mandarem ume-mail um para o outro”, comparou Irene.
Para o presidente da ABL, Geraldo Holanda Cavalcanti, trata-se de um acervo precioso e que pode incentivar outras famílias, detentoras de material histórico sobre os acadêmicos, a também doarem o acervo à Academia.
“Isto pode despertar a atenção de outras pessoas que tenham documentos em casa e se disponham a trazer para a Academia, que é a guardiã desse tipo de acervo, que é muito difícil de ser guardado em casa, pois o tempo destrói e aqui temos a melhor técnica de conservação de documentos”, disse Cavalcanti.
Segundo o presidente da ABL, futuramente este material poderá ser conhecido pelo público, em um próximo volume sobre a correspondência de Machado, fundador da Academia e que carinhosamente era chamado de o Bruxo do Cosme Velho, em referência ao bairro em que ele morou, na zona sul do Rio.
(Da Agência Brasil)