As sociedades contemporâneas e o sistema internacional como um todo estão passando por processos de transformações sociais, econômicas, políticas e culturais extremamente rápidos e profundos que põe definitivamente em questão as teorias e os conceitos, os modelos e as soluções anteriormente considerado eficazes para diagnosticar e resolver as crises econômicas, políticas e sociais que afetam os Estados Nacionais, as organizações e as pessoas como um todo. A pobreza extrema em uma parte bastante significativa da população mundial, o agravamento aparentemente irreversível das desigualdades sociais em praticamente todos os países, a degradação ambiental e a ausência de soluções concretas para qualquer um desses problemas, deixa claro que o que está em crise é o próprio modelo civilizacional como um todo. Esse é o maior desafio do nosso tempo.
Entende-se a sociedade da informação (ou sociedade do conhecimento; ou ainda pós industrial) como um estágio de desenvolvimento social caracterizado pela capacidade de seus membros (cidadãos, empresas, poder público, terceiro setor, etc.) de obter e compartilhar qualquer informação, instantaneamente, de qualquer lugar e da maneira mais adequada. A sociedade da informação designa uma forma nova de organização da economia e da sociedade. Na sociedade da informação as pessoas têm capacidade de gerar e armazenar suas próprias informações bem como disseminá-la e ter acesso às informações de terceiros.
Os acontecimentos das últimas décadas mostram que as sociedades contemporâneas veem atravessando um período de intensas transformações estruturais onde se processaram mudanças significativas que afetaram todo um contexto social, cultural, político e econômico de um determinado lugar ou época, ou até mesmo do planeta como um todo. Observa-se que nas últimas quatro décadas as sociedades contemporâneas (desde 1970), que a globalização contribuiu efetivamente com a mudança cultural na qual o conhecimento se transformou em um bem de grande valor. Verifica-se que as novas ferramentas da informação geradas pela informática expandiram-se rapidamente e provocaram mudanças tão espetaculares que o conhecimento tornou-se matéria-prima essencial na sociedade da informação.
Essa mudança comportamental permite o acesso à informação que pode desencadear uma série de transformações sociais, pois provocam mudanças nos valores, nas atitudes, e no comportamento, mudando com isso também a cultura e os costumes da sociedade. Nesse caso, a informação deve ser considerada apenas como um elemento facilitador que amplia as transformações sociais e culturais. A sociedade da informação tem fatores fundamentais e se baseia na relação entre eles: usuários (pessoas); infra-estruturar (meios técnicos), conteúdo (produtos e serviços), entorno (fatores diversos que influenciam a sociedade da informação).
Desde o final dos anos de 1970, o mundo vive uma nova fase do capitalismo e da sociedade moderna em que se destacam dois processos interligados: a Terceira Revolução Industrial[2] ou Revolução Técnico-Científica e a globalização. Esses fenômenos são interligados e interdependentes porque um impulsiona o outro e cada um deles impulsiona o mesmo conjunto de mudanças econômicas, sociais, tecnológicas, políticas e culturais em escala global. As transformações que se processaram nas quatro últimas décadas no âmbito tecnológico, especialmente nos campos da biotecnologia, da informática e das telecomunicações, têm implicações que mudaram as formas de produzir, entender, perceber e interagir dos seres humanos.
As profundas transformações ocorridas no mundo após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) contribuíram decisivamente para acelerar o nível de maturidade político-econômico-social dos governos e das sociedades, especialmente a partir da década de 1970. Esse fato também ensejou um grande anseio para que se fizesse uma substituição do modelo burocrático[3] de Administração Pública por uma Administração Gerencial. Cresceram as atribuições dos governos, a complexidade de suas ações e a demanda por seus serviços. O processo de globalização econômica também foi impulsionado, tornando-se fator indutor de mudanças de toda ordem: econômicas, tecnológicas, sociais, culturais e políticas. Inúmeros países começaram a abrir suas economias, o nível de educação elevou-se, assim como o acesso às informações. As sociedades tornaram-se mais pluralistas, democráticas e conscientes.
Os acontecimentos políticos, econômicos e sociais no mundo contemporâneo têm suscitado a necessidade crescente de que os diversos públicos, nas universidades, nos sindicatos, nas empresas, nas burocracias do Estado, nos organismos internacionais e na sociedade em geral participem do debate sobre as bases da política contemporânea e suas transformações. Hoje, as formas de estruturação e mudança de regimes domésticos e coalizões internacionais, a administração de políticas econômicas e sociais, o significado do consumo e da produção, a comunicação social, o exercício da cidadania e a aquisição do conhecimento não ocorrem do mesmo modo como se processavam há trinta ou quarenta anos. As maneiras como os indivíduos se relacionam e desempenham papéis na sociedade, na economia e na política estão sujeitas as mudanças mais aceleradas e, às vezes, inesperadas.
Atualmente observa-se que três tendências têm acelerado essas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais em escala global: a globalização crescente da economia, o fluxo de informações alavancado pela explosão das comunicações e a matriz tecnológica, impulsionada pela Revolução Técnico-Científica. A revolução da informação assenta-se na emergência de um conjunto de indústrias que participam da onda contemporânea de inovação tecnológica sendo a principal responsável pela unificação do mercado mundial. Foi-se o tempo em que aconteciam coisas isoladamente em uma parte do planeta e permaneciam isoladas, sem afetar pessoas do outro lado do globo. Hoje, para citar um exemplo, se o Estreito de Ormuz[4] for fechado, mesmo que por algumas horas pelo Irã, as Bolsas de Valores certamente começariam a operar em baixa em todo o mundo. Isso reflete a importância dos acontecimentos de dimensões globais.
No pós-guerra, a formação da Comunidade Europeia gerou o aparecimento de uma corrente de teóricos do federalismo europeu que defenderam o projeto de estruturação de um “super-Estado” capaz de se contrapor à hegemonia dos EUA, resistir à sobra ameaçadora da URSS e redimir as potências decadentes do Velho Mundo da perda de seus impérios coloniais. Atualmente, a evolução da União Europeia e a criação de outros blocos geoeconômicos regionais alimentam o ponto de vista de que a globalização tropeça na tendência de regionalização da economia mundial. Na verdade o processo de internacionalização da economia é um processo histórico que vem ocorrendo desde a Antiguidade. Desde antes do nascimento do capitalismo. É anterior a ele, porque a Economia é anterior ao capitalismo.
Com o fim da Guerra Fria (1991), os arautos da modernidade trombetearam o advento de uma nova era que combinaria a estabilidade política com a abundância econômica – a era da globalização. Os nostálgicos do socialismo soviético lamentaram a emergência dessa nova era que combinaria a hegemonia das potências capitalistas com a pobreza das massas trabalhadoras. Uns e outros avisaram que a nova era marcava o enfraquecimento do Estado Nação e a submissão dos territórios nacionais às forças internacionais da globalização. Argumentamos que a globalização é um fenômeno tão antigo quanto os Estados Nacionais e que o seu desenvolvimento está associado às políticas definidas por eles. Os Estados Nações são os principais agentes das Relações Internacionais.
A globalização não suprimiu os Estados Nacionais e não eliminou as fronteiras políticas e as rivalidades estratégicas. Ao contrário, acentuou a competição pelo controle dos meios de riqueza e poder em escala global. O espaço geográfico contemporâneo é um produto social gerado pela atividade produtiva e pelas ideias e ideologias que, ao longo do tempo, se materializaram sobre a superfície do planeta. A globalização atua sobre o espaço herdado de tempos passados, modificando-o e remodelando-o em função de novas necessidades. Um novo sistema internacional foi configurado no pós Guerra Fria e ainda está sendo tecido pelos fluxos globais de mercadorias, capitais e informações.
No espaço globalizado contemporâneo, emergem novas potências econômicas e se reorganizam as relações entre os focos tradicionais de poder. Ao mesmo tempo, sob o impacto de uma Revolução Técnico Científica, todo o processo produtivo se transforma. As repercussões dessas mudanças nas regiões industriais, nas economias urbanas e nas estruturas de emprego constituem verdadeiros cataclismos. Um mundo está morrendo e um outro está nascendo. As crises econômicas que nos últimos anos vêm eclodindo em várias regiões do mundo têm causado grandes impactos na economia mundial. Ao mesmo tempo, a persistência e o agravamento de conflitos nacionalistas, étnicos e religiosos e geopolíticos em várias regiões do globo, acentuam as incertezas e as angústias da humanidade neste ainda início do século XXI.
[1] É o mesmo que Revolução Técnico-Científica ou Terceira Revolução Industrial. O vigoroso ciclo de expansão da economia mundial no pós-guerra apoiou-se no aperfeiçoamento das tecnologias tradicionais, cujas bases tinham sido estabelecidas na transição do século XIX para o século XX. Esse ciclo se esgotou no início da década de 1970 quando teve início a Terceira Revolução Industrial (Revolução Técnico-Científica) e quando crises recessivas profundas assinalaram o fim de uma época. O estágio atual do processo de globalização já não se assenta sobre as tecnologias tradicionais. E essa é a grande novidade!
[2] Primeira Revolução Industrial (1750-1860: Era do carvão e do ferro, hegemonia inglesa. Segunda Revolução Industrial (1870-1960): Era do aço e da eletricidade, expansão da industrialização – Europa, EUA, Japão (após a Era Meiji). Terceira Revolução Industrial – Revolução Tecnológica: Era da ciência e da tecnologia. Capitalismo internacionalizado, de dimensões globais. A Revolução Industrial Clássica foi que consolidou o Capitalismo como sistema de produção dominante.
[3] A Administração Burocrática foi adotada por ser uma alternativa muito superior à administração patrimonialista do Estado. No pequeno Estado liberal do século XIX ela chegou a ser eficiente. Porém, no Estado econômico e social do século XX, verificou-se que a burocracia não garantia a rapidez, nem boa qualidade e custos baixos para os serviços prestados pelo Estado ao público. No momento em que o Estado se transformou no grande estado social e econômico do século XX, assumindo um número crescente de serviços sociais, a sociedade passou a exigir mais eficiência. Agora o Estado era o principal agente responsável pela educação, saúde, cultura, previdência, assistência social, pesquisa científica, realizar papéis econômicos como a regulação do sistema econômico interno e das relações econômicas internacionais, estabilidade da moeda e do sistema financeiro, provisão de serviços públicos e de infra-estruturar, etc.
[4] Interliga o Golfo Pérsico ao Mar de Omã e ao Oceano Índico. Daí a todo o globo. Por esse estreito passa cerca de 80% do petróleo exportado pelo Oriente Médio.