Tendo em vista essa sexta-feira de Greve Geral, surge, no meio de tantas perguntas que devem ser feitas, uma que se destaca primeiramente: num ambiente de certa mobilização popular, e com a reprovação de Temer tendo um record tão negativo, e com provas cabais de crimes muito mais graves, por que as ruas não repetem os feitos para apoiar o impeachment de Dilma Rousseff? Ou até mesmo não se indignam tanto como deveriam com Aécio sendo agora absolvido e autorizado a voltar para suas funções no covil de ladrões que é o Senado?
A verdade dessa resposta não envergonha as classes dirigentes, até porque, nenhum compromisso com um real projeto de nação e com a democracia de fato existem pelo lado de lá. Nem mesmo boa parte da classe média que se assume esclarecida pois acompanha com alguma frequência os favores e desfavores da mídia dominante. Esse discurso dúbio – que pra um serve, e pra outro não. A depender da hora e do humor, e principalmente do interesse de quem paga – é o que baseia o discurso comum que circula para pensar política e economia hoje.
Desde de que o mundo é mundo, crise econômica geralmente resultará em crise política – mesmo que antes da crise econômica aparecer a situação política estivesse crítica por aqui. Aliás, se bem visto, foi a insistência na política conservadora, em termos institucionais e políticos, de Lula que salvou o país duma recessão na crise do capitalismo de 2008. Porém, a mesma insistência estúpida – agora liderada pela não habilidosa Dilma – que impediu o país de ter alguma resistência diante da investida devastadora da crise atual. E que, justamente por ser conservadora e estúpida, impediu que se realizasse reformas estruturais profundas, e que resultariam num Brasil bem diferente do que temos hoje.
Agora, o país “chefiado” por Temer esbanja números enganosos para sustentar todo esse emaranhado de contra reformas – como se estes estivessem garantindo alguma evolução real. E o jornalismo de rabo preso vai atrás, certificando e legitimando como se esse mísero crescimento do PIB representasse algo de bom como a retomada do crescimento econômico do país.
Então, que se vá para além das aparências: esse crescimento do PIB não representa nada de bom. Representa, na verdade, o contrário: uma desindustrialização crescente e o aumento do grau de dependência. E mais, a crise que se vive hoje, é muito mais profunda e significante em termos históricos que o discurso vigente poderia imaginar. E as duas respondem, de certa forma, a uma fonte primária: toda a estruturação dependente reelaborada desde o Plano Real, que transformou o Brasil num mero exportador de produtos agrícolas, para que assim se assegura-se um singelo desenvolvimento dentro do subdesenvolvimento.
Na história das crises, pode se dizer, que costumam trazer – justamente pela corrosão dos salários, aumento do desemprego, e desvaloração do capital em sua forma industrial – a facilitação dos investimentos pelos capitalistas, já que está tudo mais barato. Esse definitivamente não é o caso. A burguesia entreguista do Brasil, se limita a investir no rentismo do capital fictício. Contrariando Adam Smith, o pai mal lido dos liberais, que garantia que o que realmente gera riqueza para uma nação é na verdade sua produtividade industrial.
Essa bolha – que não tardará em estourar – se resume no rentismo conforme a burguesia – enquanto representante do capital agrário, comercial e bancário – suprimem e asfixiam o capital industrial. Favorecendo a concentração de renda, propriedade e poder, no passo que transfere o capital que deveria ser nacional, para o centro. Que se não fosse o imperialismo, e a dinâmica da dependência – já que é assim que o centro constitui a sua riqueza historicamente – estariam crescendo até mesmo menos do que esses pequenos 2,5%. Continua…