Por Iolanda Ventura e Jullie Pereira, da Redação
MANAUS – O diretor-técnico da FVS (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas), Cristiano Fernandes, diz que não houve uma redução dos casos de Covid-19 no estado, mas sim uma desaceleração e por isso a população deve ficar em alerta. “Essa desaceleração aqui em Manaus não reflete a desaceleração nos municípios do interior. Então, a gente não pode baixar a guarda neste momento”, disse ao ATUAL nesta segunda-feira, 18.
Cristiano Fernandes afirma que a preocupação agora é com o avanço da doença nos municípios. “A gente está com muita cautela para não ficarmos na falsa impressão de que está tudo bem e não está. Houve uma desaceleração, essa desaceleração não quer dizer que a gente está com essa redução, apesar dos números. O número de óbitos reduziu, mas em compensação na contramão disso vem o interior. O interior já está com quase 50% dos casos notificados do estado”, alerta.
Marcus Vinicius de Farias Guerra, diretor-presidente da FMT (Fundação de Medicina Tropical), explica que com o achatamento da curva o interior deve ser o mais afetado com casos graves a partir das próximas semanas. “O interior está apresentando uma infectividade muito alta, as pessoas estão se contaminando provavelmente porque convivem em menor espaço nas suas cidades e frequentam os mesmos locais por uma questão de menor opções para fazer suas compras, seus passeios”, pontua.
Alguns municípios do Amazonas apresentam taxa de letalidade muito acima da média nacional. É o caso de Alvarães (a 531 quilômetros de Manaus), que no último boletim epidemiológico teve uma letalidade de 30%. Para Guerra, os números de óbitos no interior podem superar os números de Manaus.
Até a manhã desta segunda-feira,18, Manaus registrou 949 óbitos e os municípios do interior, 464. “Com uma situação de saúde menos favorável, lá (no interior do estado) talvez a gente tenha um desfecho de óbitos maior do que na cidade de Manaus, proporcionalmente”, diz.
Fernandes explica que se a população respeitar o isolamento a desaceleração será mais rápida. Caso contrário, o cenário pode piorar. “Quando você desacelera, se você consegue manter ainda a questão de nível de isolamento social e consegue manter o nível de tratamento entre as pessoas, nós vamos acelerar a redução. Se isso não acontecer a gente corre o risco de ter uma outra onda tão intensa quanto a do início”, diz.
Além das medidas de isolamento social, o diretor explica que outro fator que pode ter contribuído para essa desaceleração é o aumento de leitos.
“Como nós tivemos a ampliação dos leitos na capital estamos conseguindo ofertar mais atendimento para a população. Então, provavelmente o que está acontecendo, isso precisa ser analisado de uma forma muito cuidadosa, os casos que estão sendo assistidos eles estão tendo um atendimento mais adequado então menos pessoas podem estar evoluindo para casos mais graves”, pondera.
Previsão
Questionado sobre uma possível previsão para o afrouxamento das ações de distanciamento social, Fernandes afirma que ainda é muito cedo para dizer, pois o novo coronavírus superou o que a FVS considerava como pior cenário.
“Tem vários estudos sendo feitos, algumas análises estatísticas. A Fundação agora mesmo está trabalhando com uma análise multivariada, com algumas variáveis e indicadores para a gente conseguir afirmar isso. Porque como é uma doença nova, com uma transmissão que a gente não esperava, o pior cenário que a gente tinha pensado superou muito o pior cenário. Achamos precoce fazer qualquer afirmação agora”, diz.
Já Marcus Vinicius acredita que a curva de infectados pelo coronavírus no Amazonas deve ter achatamento em duas semanas. Isso se deve ao avanço do vírus no estado, que, segundo Marcus, já atingiu grande parte da população.
“Nessa décima semana (desde a confirmação do primeiro infectado), a gente espera que até a décima segunda o achatamento da curva aconteça, visto que em Manaus o pico da curva foi muito íngreme, rapidamente cresceram o número de casos, acredita-se que grande parte da população esteja contaminada sem ter percebido”, estipula.
Guerra estima que a população possa criar anticorpos e imunidade e assim reduzir o número de casos e até mesmo evitar uma segunda onda de coronavírus.
“Pela intensidade que a infecção tem mostrado em Manaus e interior, a gente consegue aferir que a maioria das pessoas vão estar infectadas e, portanto, desenvolver anticorpos que desenvolvem imunidade, mesmo que seja temporária e, portanto, pode ser um fator importante para a diminuição ou não ocorrer uma segunda curva na questão da epidemia”, diz.
Variações
Cristiano Fernandes diz que as variações bruscas entre os dados de casos de Covid-19 divulgados pela FVS não se tratam de um ‘efeito sanfona’, mas se deve ao acúmulo de amostras nos laboratórios de testagem.
“Na verdade, o que acontece não é um efeito sanfona. É porque como nós ampliamos a rede de diagnósticos de laboratório e a oferta de diagnóstico por meio de testes rápidos isso melhorou muito a sensibilidade da rede. O que é que estava acontecendo, nós tínhamos amostras que estavam acumuladas no Laboratório Central de Saúde Pública”, diz.
Os resultados refletem a emissão dos laudos pelos laboratórios, segundo Fernandes. “Tinham dias que a gente liberava muitos resultados, mas não necessariamente os resultados eram de casos do mesmo dia. Eram amostras que precisavam ser retestadas, que estavam acumuladas, porque o volume era muito grande”, pontua.
Nos últimos cinco dias, os casos novos da doença variaram de 1.648 a 651 neste domingo, 18, como mostra o gráfico da FVS abaixo.
Higiene
Marcus Vinicius Guerra alerta que as medidas de higiene devem continuar para o número de casos reduzir, e pede que os estabelecimentos comercias mantenham a cautela. “Eu recomendo que continue a manutenção da higiene e uso das máscaras e o cuidado na relação interpessoal. Essa é a principal medida de contenção do número de casos, os supermercados que colocaram à disposição pias, álcool gel, por exemplo, devem permanecer”, orienta.
As orientações de higiene não servem apenas para conter a Covid-19, o médico lembra que as medidas são importantes para evitar outras doenças transmissíveis. “Essas medidas de higiene contribuem também para a diminuição de outras doenças que são infectocontagiosas e que não têm essa repercussão epidêmica, mas na verdade permanecem sendo casos sérios de saúde pública, como a tuberculose”, alerta.