As últimas pesquisas de intenção de voto revelaram resultados verdadeiramente pavorosos, aquilo que não tinha vitalidade para prosperar se apresentou, tanto para o chamado viés progressista tanto como para os direitistas mais razoáveis. Ter Lula e Bolsonaro como expoentes da disputa presidencial de 2018 é – como se já não houvessem milhares – um clamor pela emergência de reestruturação de todos os referenciais do pensamento político nacional.
Por ser evidente que o candidato conservador não merece ser alvo de análise política séria – pois não possui nenhuma qualidade em nenhum aspecto relevante – o autoritarismo é uma patologia inaceitável – resta diagnosticar o que significam, mesmo as duras penas, escândalos, suspeitas, armações e shows midiáticos, com a ascensão de uma figura como Lula. Cabe, também, além disso, refletir sobre uma questão estrutural: que condições reúnem um ou outro candidato de verdadeiramente equacionar uma crise que promete crescer ainda mais.
Mesmo que toda a prática petista de conciliação de classes tenha falhado miseravelmente – incluindo as rasteiras sofridas pelo PT por parte dos próprios aliados – Lula deixa transparecer que ainda insistirá nesse modelo, além de contrariar, mais uma vez, o que temos de mais rico no pensamento progressista, a via dialogal. Lula nega agora o discurso de golpe de Estado, e propõe aumentar o diálogo com PMDB E PSDB para se segurar na cadeira. Não importa que todas essas figuras políticas estejam no controle de um projeto claro de guerra de classes onde o maior objetivo é diminuir o Estado e esmagar o trabalhador com medidas inaceitáveis. Isso só demonstra o que muitas já sabiam: Lula é mestre do cinismo, e colocar seu nome vinculado ao pensamento de esquerda é, mais do que nunca, um erro teórico.
Apostar nesse modelo mais uma vez não significa apenas se contentar com o pequenismo de um país exportador de commodities, é dar – justamente pelo espírito conciliador – o Banco Central para os banqueiros, e dessa forma perpetuar o rentismo criminoso que destina metade do orçamento da união para pagar juros da dívida, enquanto dá-se aos pobres um minúsculo poder de compra e acesso a bens e serviços curtos – isto é, em poucas palavras, manter nossa condição de colônia com roupagem de país emergente. Apostar nesse modelo mais uma vez significa abolir qualquer possibilidade de reforma política radical.
Não existe outra saída para a emancipação popular e construção de uma nação autônoma que não seja uma quebra decisiva e inédita dos modos operandi que se reproduzem e se repetem nesse país. O Brasil não conhece nada além de colonialismo, ditadura e populismo barato. E quem deve puxar essa revolução necessária atende pelo nome de esquerda, a força imanente do imponderável.
É severa ingenuidade esperar uma discussão real, honesta e madura sobre desenvolvimento de ciência e tecnologia, educação, segurança e saúde que não passe pela revisão imediata da configuração geral das contas públicas, isto é, não há e nem haverá projeto promissor de nação que não passe pela auditoria da dívida e uma radical reforma política.
Na contramão disso tudo, os mediadores e moderados que evitam qualquer radicalismo – como se houvesse nisso uma abstrata perversidade – esperam ainda na disputa eleitoral, por si só, a saída para os problemas que afundam a nação – é definitivamente a falência do pensamento crítico.
Evidentemente é preciso eleger um líder, mas um líder que esteja disposto a fazer o que jamais nenhum outro fez. Apostar em políticas públicas é mais do que preciso, mas sem ilusões. Essas só são efetivas quando exercem seu potencial de realizar profundas reformas estruturais, aparentemente imponderáveis.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.