A estratégia do governo federal de conceder benefícios como a redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) à indústria automobilística tem servido apenas para manter intocável os lucros das empresas. Não há qualquer contrapartida do empresariado que recebe os benefícios fiscais. Ao contrário, as empresas penalizam os trabalhadores e os consumidores, que não veem a redução chegar na ponta da cadeia comercial.
Já foi provado pelo menos uma dezena de vezes, e o governo é sabedor, que os lucros das empresas fabricantes e revendedoras de automóveis no Brasil são estratosféricos. Um carro no Brasil custa mais que o dobro do México e o dobro dos Estados Unidos. Em alguns casos, o preço do carro no mercado brasileiro chega a custar até três vezes mais que em países vizinhos. A situação é tão absurda que os carros fabricados no Brasil e exportados para países como Argentina e México chegam a ser vendidos lá pela metade do preço daqui.
Os fabricantes chegaram a responsabilizar a carga de impostos no Brasil pelo preço exorbitante dos veículos. Essa tese, no entanto, foi derrubada há muito, com a prova de que os impostos não chegam 30% do valor do produto. Onde está, então, o problema? Como já foi dito, está no lucro das empresas, que fica sempre em torno de 100%. Nenhum país do mundo pratica margem de lucro tão alta. Culpam as altas taxas de juros pela prática abusiva de preços, mas não conseguem demonstrar isso na prática.
E quando surge qualquer ameaça de os produtos deles encalharem, ameaçam demitir seus trabalhadores e forçam o governo tomar medidas de proteção. Em qualquer economia sadia haveria, primeiro, a contrapartida da indústria, que no Brasil tem muita gordura para queimar. A redução de preços é medida elementar quando as vendas caem, quando a oferta é maior do que procura. Mas a velha “lei da oferta e da procura” no Brasil só funciona quando há escassez. Quando a oferta é menor do que a procura, aumentam-se os preços, quando é o contrário, força-se o governo a bancar, com o dinheiro do contribuinte, a margem de lucro das empresas.
Essa prática precisa mudar no Brasil. A farra da indústria brasileira é uma questão que deveria estar no centro do debate político eleitoral e na agenda dos candidatos a Presidência da República. Da parte do PT e dos partidos que apoiam a presidente Dilma Rousseff, como se viu até aqui, não há disposição para discutir o tema sem a paixão eleitoral.
O problema da indústria automobilística não é isolado. Todos os setores da economia agem da mesma forma. Diante de qualquer ameaça de perda, põe-se a faca na garganta do governo e forçam-no a manter os privilégios dos ameaçados. No fim das contas, o contribuinte é quem paga, e paga muito caro. O dinheiro dos impostos que é obrigado a pagar (e no Brasil só o trabalhador de fato paga imposto) vai parar no caixa das empresas, que mantém os preços nas alturas, impedindo esse mesmo trabalhador de ter acesso aos bens de consumo mais elementares.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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