MANAUS – Muitos brasileiros se impressionaram com o indiciamento de um padre no inquérito do plano golpista para matar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o seu vice Geraldo Alckmin e o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Alexandre de Moraes. Ora, é sabido que uma ala da igreja católica que se identifica com a direita radical e criminosa ganhou musculatura no Brasil desde a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018. E o tal padre fez parte de um grupo que planejou o fracassado golpe.
Voltemos ao tema “direita” para lembrar que na história da humanidade a direita foi sempre a classe social que escravizou, explorou territórios e matou seus adversários. Não é à toa que grande parte dos países da Europa ficaram ricos. Muito dessa riqueza veio da exploração dos povos e dos recursos naturais e minerais da África, Ásia e América. O Brasil foi vítima da exploração portuguesa e a história está aí com relatos chocantes dos métodos usados pelos que tomaram essas terras de assalto. A matança sempre foi justificada como necessária, como autodefesa e contata sempre a partir da visão dos vencedores.
O regime militar brasileiro, iniciado em 1964 e endurecido a partir de 1969, foi marcado pela perseguição e morte de militantes de esquerda que ousavam confrontar os militares. Lembremos, novamente, que os ricos e poderosos, assim como grande parte da igreja católica, apoiou e participou dos movimentos de rua a favor da ditadura sanguinária. As exceções foram bispos como dom Helder Câmara, dom Mauro Morelli, dom Aloísio Lorscheider, dom Waldyr Calheiros entre outros, que combateram a ditadura, protegeram militantes políticos de esquerda e enfrentaram os opressores de direita.
Por mais de 20 anos após o fim da ditatura que matou centenas de pessoas e afundou o país em dívida, a direita brasileira andou quieta, mas sempre flertou com o poder ou dele participou. Foi só com Bolsonaro que os reacionários do passado e seus substitutos começaram a sair dos esgotos. Com o uso das redes sociais, como no pré-1964, voltaram a ganhar os corações e mentes dos desinformados e a animar os antigos e novos aliados. Depois de demonizar a esquerda com a Lava Jato, assumiram o discurso da prosperidade e da salvação pela retomada do conservadorismo que reinou no regime militar. Em nome de Deus, passaram a fazer tudo o que o Diabo gosta.
Como o escolhido para líder maior desse movimento foi um incompetente, precisavam manter-se no poder a qualquer custo. Por isso nasce o plano golpista revelado nesta semana. Os mesmos modus operandi de 1964. De novo, os militares tentando extirpar o regime democrático. Os mesmos métodos violentos. Nasce a trama para matar o presidente eleito, seu vice, e o juiz que ousou enfrentá-los. Felizmente, o plano não foi levado a cabo.
O indiciamento de Bolsonaro no inquérito concluído na quinta-feira (21) tem um ar de cautela por parte dos investigadores. Mas se não foi coisa da cabeça do ex-presidente (e há motivos para desconfiar, dada a capacidade do indivíduo), a trama para matar Lula, Alckmin e Moraes, ele, no mínimo, concordou com o plano. As provas mostram que os envolvidos diretamente com a trama dialogavam com o então presidente. As falas dos assessores próximos sinalizavam que Bolsonaro estava a par de tudo.
A fuga de Bolsonaro para os Estados Unidos dois dias antes do fim do mandato não foi motivado pela decisão de não passar a faixa para Lula, mas uma forma de tentar se esquivar de qualquer ato violento que viesse a acontecer naqueles dias. No mesmo dia da fuga, ele fez uma live em que condenou os atos terroristas praticados por seus apoiadores no dia 12 de dezembro, logo após a diplomação de Lula. Acampados em frente a quartel do Exército tentaram invadir a sede da Polícia Federal, em Brasília, e atearam fogo em carros de moradores vizinhos.
O 8 de janeiro de 2023 foi o último ato de um golpe fracassado. Mas deixou um rastro de destruição nas sedes dos Três Poderes da República.
Agora, bolsonaristas querem que o Congresso Nacional anistie todos os baderneiros criminosos. Os apoiadores do ex-presidente tentam minimizar os atos de 8 de janeiro e a tentativa de golpe com planos para matar autoridades. Não se trata de liberdade de expressão, de defesa da democracia, nem de crime menor, como eles querem fazer crer. Trata-se de crimes que precisam ser punidos de forma exemplar com o rigor da lei.