Crises e mudanças políticas ocorrendo em vários países da América do Sul. Na Bolívia, Argentina, Chile, Equador, Venezuela e Brasil.
Na Bolívia está em andamento um golpe de Estado. O presidente Evo Morales teve que renunciar e sair do país. Disse que suas irmãs e irmãos, líderes e autoridades de seu partido estavam sendo perseguidos, ameaçados e que sua obrigação como presidente indígena era buscar a pacificação.
Evo Morales foi o primeiro presidente indígena eleito na América Latina. Foi reeleito para o 4º mandato, com uma diferença de 10% de seu adversário. Violentas manifestações foram organizadas por grupos adversários, líderes religiosos fundamentalistas e pelo candidato perdedor, com casas incendiadas, pessoas agredidas, ameaças e mortes.
Apesar de ter convocado uma nova eleição, a pressão dos militares e sua adesão ao golpe, fez com que o presidente renunciasse para evitar um banho de sangue no país.
Interessante que o golpe não ocorre em função da situação econômica do país, que teve crescimento do PIB de US$ 9 bilhões em 2006 para US$ 40 bilhões em 2018, nos governos de Evo Morales. No mesmo período, 2006 a 2018, o analfabetismo diminuiu de 13,0% para 2,4%, o desemprego reduziu de 9,2% para 4,1% e a pobreza extrema também diminuiu de 38,2% para 15,2%.
Tudo indica que há outros interesses em jogo. Bolívia tem grandes reservas de gás natural e minérios. E grandes grupos empresariais tem interesse. Como ficará o país, com o golpe, não se sabe ainda. Quem vai governar e se haverá nova eleição.
Na Argentina, as eleições para presidente foram ganhas pelo candidato de esquerda Alberto Fernández, que derrotou Maurício Macri, que tinha adotado uma política de redução de estado, de cortes em investimentos sociais, culminando com alto desemprego e aumento da pobreza e desigualdade no país.
No Chile, as manifestações contra o governo de Sebastian Piñera ocorrem há muitas semanas. Os protestos são contra toda a política fiscal e social adotada no país nos últimos 30 anos. No Chile adotaram desde a ditadura de Pinochet, as mesmas propostas que estão implantando agora no Brasil, no governo Bolsonaro. Redução das aposentadorias, redução dos serviços públicos, privatizações, aumento dos preços de serviços essenciais, redução de salários de funcionários públicos. A revolta é grande.
Desde o dia 3 de outubro que no Equador acontecem várias manifestações em todo país contra o presidente Lenín Moreno, devido o fim da política de subsídios e o aumento de 123% nos combustíveis. E os indígenas, que lideram a metade das manifestações, rejeitam qualquer diálogo com o Governo.
Na Venezuela, a tensão é permanente. Recentemente teve mais uma tentativa de golpe para derrubar o presidente eleito Maduro. Juan Guaidó, autoproclamado presidente, organizou várias manifestações, com o apoio dos EUA para tentar assumir o poder. Lá o golpe não deu certo.
Os EUA têm interesse nas grandes reservas de petróleo que existem no país. Já adotaram um bloqueio contra o Estado. O governo Bolsonaro abriu as fronteiras com a Venezuela e milhares de famílias já vieram para o Brasil. Mas precisamos ter uma política de acolhida para tantas pessoas e não deixá-las desamparadas.
E no Brasil, Bolsonaro foi eleito com muitas notícias falsas, conforme a CPI da Fake News está mostrando no Congresso Nacional, e por fraudes e ilegalidades cometidas, confirmado pelos disparos em massa pagas por empresas de forma totalmente ilegal. Ou seja, trapaceou nas eleições.
Além disso, o candidato melhor nas pesquisas com 39% de intenções de votos, Lula, foi impedido de concorrer, pela prisão decretada em processo sem provas, pelo ex-juiz Sérgio Moro que depois foi premiado como ministro da Justiça no governo Bolsonaro.
No Brasil, ainda não tem revoltas como em outros países. Mas não se sabe o que poderá acontecer se continuar com o desemprego tão elevado, a redução do poder aquisitivo da população, o fim de políticas sociais como da moradia e saneamento, e a redução injusta das aposentadorias. Além do crescimento da pobreza e da desigualdade social.
Não podemos aceitar que essa onda de relativização da democracia chegue ao Brasil ou continue se espalhando pelos países da América Latina. Defendemos a soberania do voto popular, defendemos a democracia, defendemos a Constituição e defendemos a paz entre os povos.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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