EDITORIAL
MANAUS – Era 22 de abril de 2020 quando o então ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro, Ricardo Salles, sugeriu em uma reunião ministerial que o governo deveria aproveitar a distração da “imprensa” com a pandemia para “passar a boiada”, ou seja, mudar o ordenamento jurídico para facilitar a exploração da Amazônia por empresas privadas inescrupulosas.
O regramento jurídico ambiental brasileiro é, de fato, extremamente “protetor”, mas necessário para uma região que há muitos anos se tornou o espaço do globo terrestre mais cobiçado pelo capital financeiro, multinacionais e governos, principalmente de países ricos.
No varejo, a exploração da Amazônia vem ocorrendo desde há muito, de forma ilegal e sob as barbas dos governos locais e nacional. Essa exploração se dá em diversas frentes: madeira, minério e terras, este último com a devastação de grandes áreas de floresta para plantio de grãos ou pastagem.
O atual governo, desde que o presidente foi eleito, deixou claro que atuaria para “legalizar” a exploração da Amazônia, o que levou o mundo a voltar os olhos para o Brasil. Tal exploração é vista como a simples legalização da ilegalidade combatida a duras penas por entidades ambientais e autoridades que enxergam o meio ambiente como um bem a ser preservado para garantir vida às futuras gerações.
Ricardo Salles, o principal representante do movimento antiambientalista no governo adotou um discurso desenvolvimentista para a Amazônia, mas suas ações se revelaram danosas à preservação da região.
O trabalho da Polícia Federal no Amazonas, sob o comando do delegado Alexandre Saraiva, mostrou que o ministro agia para legalizar o desmatamento ilegal e a exploração ilegal de madeira.
Depois da maior apreensão de madeira ilegal da história da Amazônia, realizada em dezembro de 2020, a máscara do ministro Salles começou a cair. Foram apreendidos na ocasião 131 mil metros cúbicos de madeira.
Era uma boiada e tanto. O ministro agiu pessoalmente, apresentando documentos e visitando o local da apreensão para tentar desacreditar o trabalho da Polícia Federal e liberar a madeira ilegal.
Em 14 de abril deste ano, quase um ano depois da fatídica reunião ministerial, Alexandre Saraiva apresentou notícia-crime contra o ministro do Meio Ambiente e disse que Salles não iria “passar a boiada”, como pretendia.
No dia 19 de maio, uma operação da Polícia Federal fez busca e apreensão nos endereços do ministro do Meio Ambiente, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, autorizou a quebra do sigilo bancário e fiscal de Salles.
Acuado, Ricardo Salles pediu demissão nesta quarta-feira (23).
O substituto dele no ministério, Joaquim Álvaro Pereira Leite, já faz parte do governo Bolsonaro e era subordinado a Salles. A pergunta que todos querem ver respondida é se haverá uma mudança de rumo da política ambiental brasileira ou se ela segue na linha antiambientalista. O tempo irá responder.