Tive o prazer de realizar um trabalho conjunto com o cinegrafista Jackson Rodrigues, da TV Band Amazonas, preso na manhã desta quinta-feira (27/02) e colocado na cela de um carro da Polícia Militar, depois de se desentender com um tenente. Não consigo imaginar que Jackson, homem pacato, tenha desacatado o policial que, a julgar pelas imagens divulgadas na rede, cometeu abuso de autoridade. Mas foi só isso. Não posso concordar que houve na atitude do policial um atentado à liberdade de imprensa. Houve um desentendimento entre ambos e a polícia usou o poder para mostrar aos presentes que exerce autoridade sobre os cidadãos que pagam o seu soldo.
Não venho defender a polícia. Não o faria nem por uma causa mais nobre, por entender perfeitamente o papel desta instituição na sociedade. Só estou analisando o fato sem exageros e sem paixão pela profissão de jornalismo. No caso da prisão de Jackson Rodrigues não houve tentativa de tolher a liberdade de imprensa. Se assim o fosse, a polícia também teria agido contra uma dezena de outros profissionais presentes e que filmaram a cena lamentável.
Não quero dizer com isso, no entanto, que não há por parte da polícia um cerceamento ao trabalho dos profissionais de imprensa e jornalistas de um modo geral.
Quando da prisão de Adail Pinheiro, por exemplo, no dia 8 de fevereiro, em Manaus, a polícia agiu para protegê-lo da imprensa, depois de ter fotografado e divulgado as imagens de cinco presos subordinados ao prefeito de Coari. Ao proteger Adail, cerceou, sim, a liberdade de imprensa.
A justificativa para tal atitude foi um puxão de orelha do advogado do preso alertando para a não violação do direito de imagem dele. Ora, entendo que a Polícia Civil não poderia fotografar e divulgar as imagens de Adail sendo preso, como também não poderia fazer com os demais presos. Mas também não deveria botar o bloco na rua para recebê-lo na Delegacia Geral e depois transportá-lo à prisão de forma que ele não fosse visto. Deveria ser da defesa do preso e não da polícia a estratégia para protegê-los de fotógrafos e cinegrafistas que o aguardavam em frente à delegacia. Adail deveria ter entrado pela porta da frente, como qualquer outro preso, mas foi privilegiado com a entrada por um local quase secreto.
O caso Adail não é o único. A falta de dados sobre segurança pública e a dificuldade de acessá-los junto aos órgãos competentes é outra forma de cercear o trabalho dos jornalistas. Acessar informação em uma delegacia quando os suspeitos de crimes são pessoas de posses é tão difícil quanto descobrir um segredo de Estado. O delegado trata de fazer a barreira de proteção e não solta qualquer informação à imprensa.
As exceções são para aqueles profissionais que mantém uma relação promíscua com policiais em troca de fama. Neste caso, privilegiam-se determinados veículos de comunicação em detrimento de outros, que não conseguem furar a barreira policial. Não se trata, portanto, de grave atentado à liberdade de imprensa e de comunicação o privilégio de informações para quem está disposto a fazer o jogo dos policiais?
Abusos como o cometido contra Jackson Rodrigues devem ser repudiados e combatidos pela categoria, mas para a liberdade de imprensa e de comunicação, o mais importante é quebrar as barreiras que impedem um trabalho jornalístico mais crítico e mais profuso que o simples relato de crimes.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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