Desde o período colonial se instalou no Brasil uma condição de dependência e de exploração de recursos, dirigidos pelo poderio europeu, sobretudo a partir da dominação portuguesa que “descobrira” as terras aqui já há muito tempo ocupadas e vivenciadas pelas populações tradicionais.
O primeiro motor do desembarque se deu por ouro e prata, e mais tarde, por outras matérias primas, como pau-Brasil, entre espécies medicinais da farmacopeia indígena, do almoxarifado de biodiversidade, de onde se extraiu tudo que se apresentava como valor de uso e troca para abastecer os interesses do centro da dominação econômica europeia.
Ao longo destes mais de cinco séculos tem sido assim, poucas coisas efetivamente se alteraram. Hoje, os cientistas tupiniquins que se contentam em apresentar suas teses em Stanford sobre a trama da copaíba em troca de uma foto ao lado do orientador pra postar no Facebook, enquanto a universidade patenteia o fitoterápico ou cosmético que vai entupir as prateleiras dos negócios ianques que compramos a preços que eles impõem, sobretudo os tipos de recursos, e a localização das metrópoles, o que continua o mesmo é a restrição absoluta de um país da periferia do capitalismo atingir uma soberania econômica e política. E esse se mostra a cada dia mais um bom exemplo para compreender a situação brasileira.
A conjuntura nacional é muito mais grave do que mostra o discurso da mídia corporativa. O discurso de crise geral passa longe do jornalismo imparcial e livre, e se aglutina invariavelmente ao manejo da opinião pública diante dos interesses em jogo.
A corrupção é muito maior e sistemática do que casos episódicos de desvio de dinheiro público na ilegalidade. A corrupção maior não está prevista na Constituição enquanto ilegalidade. Ela é feita sistematicamente com trajes de legalidade.
A manobra institucional para se explicar o golpismo progressivamente se escancara e confirma o entreguismo para o mercado financeiro internacional. O funcionário do golpe, Michel Temer, tem que mostrar serviço para quem o colocou lá, aqueles que concentraram os capital, e por vez, as manobras para usurpar a nação.
O golpe vai se solidificando no dever imperativo de pagar quase metade do orçamento anual da União com juros da dívida pública para correntistas que monitoram a escravidão pecuniária. Assim, batem recordes progressivos de lucro a cada mês, enquanto se apossam dos títulos da dívida pública em leilões privados.
A real corrupção se fez por anos, ao desindustrializarmos o país, vendendo matéria prima e comprando de volta o produto acabado. Já é sabido, desde os clássicos economistas ingleses, que o que gera riqueza é, sobretudo, produção de mercadoria, isto é, industria. Nosso PIB era falso, tal como é fictícia nossa Democracia.
E a cegueira ideológica chega a ponto de aplaudirem Lula, em suas clássicas bravatas de ridículo ufanismo – como se fosse grande maravilha – de ter feito o país como o sexto mais rico do mundo numa medida ilusória pelo desempenho do PIB.
Também nunca foi veementemente denunciado na grande mídia o verdadeiro crime das privatizações do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso. Tem-se, por exemplo, a venda da Vale do Rio Doce, maior mineradora do mundo, efetuada por cerca de 3,4 bilhões de dólares, no mesmo ano que obteve faturamento bruto por volta de 5 bilhões de dólares.
Em outros termos, vivemos um assalto estrutural à nação. Num sistema inverso ao Robin Hood: os endinheirados, articulados entre si, roubam daqueles que necessariamente menos possuem e, que contraditoriamente, produzem toda a riqueza.
A fome de extorsão é tamanha que nunca se viu um Congresso tão assíduo nas sessões de votação para definições como as recentes e medonhas PECs, reformas diante do falso déficit da Previdência, Serra entregando o Pré-Sal para corporações petroleiras norte americanas (com documentos vazados pela Wikileaks já em 2013 demonstrando convênio com o governo dos EUA), mediante jantar bancado com dinheiro público para convencimento de Senadores. Pensar, viver, topar permanecer Colonia, eis o fio de uma meada medonha que exige convidar as massas à urgência da transformação.
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