Do ATUAL
MANAUS – Lagarto da Amazônia possui condições genéticas adaptáveis às mudanças climáticas. É o calango rabo-de-chicote (Kentropyx calcarata), objeto de estudo publicado no jornal “Diversity and Distributions”. A migração dos répteis para áreas de diferentes temperaturas na floresta permite a adaptação e a preservação da espécie.
A pesquisa internacional foi coordenada pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) com participação de cientistas da Universidade de Gotemburgo (Suécia), Kew Botanical Gardens (Reino Unido) e Universidade de Brasília (UnB/Brasil). Os pesquisadores analisaram o desmatamento para estimar onde o grupo de animais poderá viver no futuro.
Foram analisados materiais genéticos de 112 lagartos de várias regiões geográficas e como eles se adaptam a climas específicos como áreas secas e mais sazonais no sudoeste da Amazônia e ao longo da região de transição entre a Amazônia e o Cerrado e áreas úmidas e menos sazonais da Amazônia central.
A análise identificou que, em cenário de clima extremo, existe alto risco de extinção local da espécie. Os cientistas analisaram um conjunto de dados sobre a cobertura vegetal e o impacto humano, em cenários moderados e extremos. Nos cenários moderados, em que a floresta permanece do jeito que está, a espécie tem um bom potencial para se adaptar às mudanças climáticas até 2070.
Caso a floresta chegue a cenários extremos, de desmatamento e mudanças climáticas severas, essa variação genética pode não ser suficiente para evitar a extinção de populações locais, reduzindo também o potencial de adaptação da espécie como um todo.
Josué Azevedo, pós-doutorando do Inpa e primeiro autor do artigo, diz que se esses indivíduos das áreas mais secas migrarem para os lugares em que os indivíduos de áreas úmidas foram extintos, evitarão que a espécie desapareça daquela região. “Nossos resultados mostram que, em cenários de mudanças climáticas moderadas mantendo a cobertura florestal, esta espécie tem um alto potencial de se valer de suas pré-adaptações e sobreviver até 2070 por meio do processo biológico natural de resgate evolutivo”, explica.
O estudo sugere que outros animais podem ter adaptações similares. Uma hipótese avaliada pelo grupo de pesquisa é que a resposta do lagarto às alterações ambientais possa ser repetida em outras espécies.
Fernanda Werneck, pesquisadora do Inpa e líder do estudo, diz que as descobertas mostram que diferentes populações da fauna possuem vulnerabilidades e potenciais adaptativos distintos às mudanças climáticas e que essa variação precisa ser considerada para se construir estratégias de conservação da biodiversidade mais efetivas frente às mudanças ambientais em curso. Isso poderia não apenas salvar a espécie focal do estudo, mas também preservar a rica biodiversidade da região que depende da floresta para sobreviver.
“Apesar de parecerem pessimistas em um primeiro momento, nossos resultados reforçam janelas de oportunidade de ação e a urgência de políticas eficazes de conservação que integrem a proteção da floresta Amazônica e ações para mitigar os impactos das mudanças climáticas através de processos biológicos que evoluíram ao longo da história de formação das espécies e populações naturais”, frisa Werneck.