Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – O sofrimento da população nas horas perdidas no trânsito é o custo de morar longe do trabalho e de locais como escolas, hospitais e delegacias, afirma Sergio Leitão, advogado e diretor executivo do Instituto Escolhas. Leitão defende o fim da horizontalização das cidades e cita Manaus como exemplo de capital que precisa avaliar a política habitacional.
A horizontalização, explica Leitão, “é espichar as cidades em linha reta”. Sergio Leitão afirma que ao invés de a população estar concentrada próxima aos serviços públicos essenciais, precisa ir a locais distantes.
Quem perde com isso são os habitantes e a administração pública. “O Poder Público não quer calcular o custo de fazer as pessoas morarem mais perto, porque ele olha o preço do terreno. Ele quer atender rapidamente ali uma demanda. O preço do terreno é mais barato quanto mais longe do Centro, do local de trabalho, escola, hospital”, diz.
Mesmo assim, a distância afeta o orçamento. “Ele [Poder Público] acaba colocando uma infraestrutura precária e a população acaba pagando essa conta, da diferença do preço do terreno nas suas horas perdidas no trânsito, na baixa qualidade de educação, no atendimento de saúde, insegurança pública, porque nas áreas periféricas essa qualidade da segurança é muito mais precária”, disse.
Gemina Martins, de 43 anos, é diarista e presta serviços em locais diferentes. Ela sai às 6h10 e retorna às 17h. Em dois dias da semana, Gemina vai do bairro Nova Vitória, zona leste, onde mora, para o Terminal 5, e pega outro ônibus para o bairro Petrópolis, zona sul. Nos três dias restantes, sai do Nova Vitória para o Terminal 4, e parte para a Torquato Tapajós, nas proximidades da entrada do Conjunto Santos Dumont, zona centro-oeste.
Além do deslocamento para zonas opostas, Gemina conta que muitas pessoas pegam o ônibus no mesmo horário e nem sempre é possível entrar no veículo. “O ônibus às vezes demora no Terminal 4. Também na volta é complicado porque o ônibus já vem lotado do Centro. Eu pego na estação do Santos Dumont, já vem lotado, é uma loucura para a gente entrar”, relatou.
Gemina conta que se gastasse menos tempo no deslocamento poderia ter mais disponibilidade para descansar e cuidar de afazeres pessoais. “Eu tendo a facilidade de chegar mais cedo, eu adianto tudo, vou poder descansar mais cedo. Então é bem mais lucrativo se tivesse um percurso mais curto”.
A diarista economiza para pagar um transporte melhor quando precisa ir ao supermercado ou ao hospital. “Não tem como fazer compras e voltar de ônibus. Impossível, porque é muita gente. Como é que vai passar na catraca com um monte de sacola? A gente tem que fazer malabarismo, deixar de comprar isso e aquilo para poder pagar um uber ou a lotação. Hospital tem que sempre ter uma reserva de alguns trocados para uma emergência, porque não dá para contar com ônibus”.
O exemplo de Gemina Martins expõe a dificuldade urbana gerada pela horizontalização. Para Sergio Leitão, é preciso decretar o fim desse sistema habitacional, que ele classifica como “a morte das cidades e da qualidade do transporte público”.
“As pessoas são obrigadas a se deslocar com um tempo muito maior de antecedência, exatamente porque elas sabem que se não acordarem às 4, 4h30, 5h não vão chegar ao trabalho dentro do horário. Quem não chega no horário primeiramente é cortado o ponto, descontado o dia de serviço e ao final é demitido”, afirmou.
Isso afeta a qualidade de vida da população, explica o diretor executivo. “Então, você gasta sua vida, é como se você estivesse rodando o velocímetro da vida muito mais ligeiro para compensar essa distância. No final você paga com o sofrimento, com a velhice antecipada, com as rugas precoces”, pontuou.
Max Wesley Gomes da Silva, 29 anos, Desenvolvedor Business Intelligence, morava no Bairro Colônia Santo Antônio, zona norte, e para trabalhar, ia para a Avenida Djalma Batista, zona centro-sul. Mesmo indo de carro, o tempo e o gasto com combustível tornavam as viagens diárias caras e cansativas.
O tempo de deslocamento ao trabalho e demais destinos da rotina foram decisivos para a escolha de um novo local para morar, na Avenida Darcy Vargas, zona centro-sul. Max Wesley abastece o carro uma vez a cada duas semanas. Antes era uma vez por semana. “Atualmente, todo percurso de ida e volta somam em média cinco horas semanais. Anteriormente eram cerca de 20h por semana para realizar todo percurso”.
Isso provocou melhorias na qualidade de vida. “Menos tempo preso no trânsito me permitiu aproveitar de outras formas, como acordar mais tarde, estar em casa mais cedo e fazer novas atividades com novo tempo disponível”.
Para ter uma noção de quanto custa morar distante, o Instituto Escolhas desenvolveu a plataforma #Quanto é? Morar longe, que possibilita conhecer os custos monetários e não monetários associados a cada área, no momento, disponível somente para locais da Região Metropolitana de São Paulo.