Do Estadão Conteúdo
SÃO PAULO – O pré-candidato à Presidência pelo PSDB, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, disse ao deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (Solidariedade), que a declaração sobre o fim da contribuição sindical postada em suas redes sociais “foi uma trapalhada de assessores”. Na sexta-feira 20, a postagem – que não foi retirada do perfil do candidato no Twitter – causou o primeiro atrito entre o tucano e o Centrão – grupos de partidos formados por DEM, PP, PR, PRB e o Solidariedade.
Um dia depois de acertar uma aliança com partidos do Centrão, o perfil oficial de Alckmin no Twitter descartou a possibilidade de o acordo eleitoral incluir a revisão de pontos da reforma trabalhista para criar um tipo de contribuição sindical. “Ao contrário do que está circulando nas redes, não vamos revogar nenhum dos principais pontos da reforma trabalhista. Não há plano de trazer de volta a contribuição sindical”, disse, em seu perfil na rede social.
A declaração incomodou os dirigentes do Solidariedade, ligado às centrais sindicais. O mal-estar só foi desfeito às 23h de sexta-feira, após o ex-governador ligar de Rondônia, onde cumpriu agenda política, para Paulinho para desfazer o incômodo.
Ao jornal ‘O Estado de S. Paulo’, Paulinho detalhou a ligação. Ele disse que o ex-governador ligou assim que pousou em Porto Velho. Ainda no aeroporto, o tucano afirmou ao presidente do Solidariedade que o acordo com o Centrão de achar uma saída em torno de uma contribuição para ajudar a financiar sindicatos após a extinção do imposto sindical estava mantido.
De acordo com a assessoria de Alckmin, o ex-governador não viu post no Twitter antes que ele fosse publicado. Para assessores do ex-governador, o texto divulgado tem dois problemas: usa a palavra ‘contribuição’ no lugar de ‘imposto’ e não deixa claro que Alckmin tem preocupação com a sobrevivência financeira dos sindicatos.
A avaliação é de que o que foi publicado dá a entender que o tucano descartou tudo que havia sido acertado nas negociações. Alckmin e Paulinho vão se reunir na tarde do domingo para tratar do assunto. Segundo Paulinho, a aliança com o PSDB deve ser formalizada na quinta-feira, 26.
O ‘Estado’ apurou que Alckmin é a favor da proposta do Solidariedade de que convenções de trabalhadores possam criar receitas extraordinárias ou contribuições voluntárias aos sindicatos. “É uma contribuição dentro da razoabilidade. Quem sugeriu nem fui eu, foi o ACM Neto (do DEM)”, explicou Paulinho ao Estado.
Majoritariamente pró-Ciro Gomes (PDT), o Solidariedade queria que, no acordo com Alckmin, fosse discutida uma alternativa ao desconto obrigatório de um dia de trabalho dos empregados – extinto durante a reforma aprovada há pouco mais de um ano no Congresso.
O partido defende a chamada contribuição negociada, facultativa às convenções trabalhistas de categorias que aceitassem financiar os sindicatos. A mensagem de Alckmin irritou a direção da Força Sindical, central que está na base da fundação do Solidariedade, do deputado Paulinho da Força (SP).
“Do jeito que ele (Alckmin) falou, ficou mal. Não vai colocar nada no lugar (do imposto sindical)? Conversamos com o Paulinho para não fechar nada com ele por enquanto. Essa informação prejudica mais ainda. Parece que o homem não entende o que se quer discutir”, disse o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna. “Isso é muito pouco. A questão para nós é o que ele vai fazer com a reforma da Previdência, com a reforma trabalhista. Não é só passar um mel na nossa boca”.
Em conversas reservadas, integrantes da cúpula do partido avaliam que Alckmin acabará sendo o candidato do presidente Michel Temer e, portanto, “difícil de carregar” na campanha. Para o Solidariedade, Temer esvaziou a candidatura de Henrique Meirelles (MDB) ao atuar pessoalmente para que o Centrão não apoiasse Ciro, jogando todos no “colo” de Alckmin.
Garantias
O acerto do Centrão com Alckmin passou pela garantia de que os partidos aliados terão fatias em um futuro governo e autonomia para manter o comando da Câmara e tentar tirar do MDB o controle do Senado. Embora os dirigentes do bloco neguem a cobrança por cargos, as demandas são tratadas como “óbvias” na cúpula do PSDB. Um coordenador da campanha de Alckmin disse, reservadamente, que cada partido quer, no mínimo, manter o espaço atual no governo Temer.
O Centrão pediu que Alckmin intercedesse em acordos regionais e abrisse espaço na coordenação da campanha, criando núcleos integrados pelo bloco, nas áreas jurídica e de marketing.
O PP é o partido com mais ministérios: Saúde, Cidades e Agricultura, além da Caixa. O PR dá as cartas nos Transportes e na Infraero. À frente da Indústria, o PRB tem uma reclamação de ser sub-representado e almeja ter mais espaço ou um ministério com orçamento maior.
O PR exigiu que a composição presidencial fosse com o empresário Josué Gomes, da Coteminas, como candidato a vice. O PP pediu apoio ao deputado Espiridião Amin, que deseja voltar ao governo de Santa Catarina e que os tucanos ajudem na montagem de um palanque competitivo em Alagoas.
O DEM quer que Alckmin apoie o ex-prefeito Eduardo Paes na disputa ao governo do Rio e fique neutro em Goiás. O tucano ainda deve ajudar em Minas, onde o senador Antonio Anastasia (PSDB) tentará voltar ao governo, cargo almejado pelo deputado Rodrigo Pacheco (DEM), aliado de Maia.