Marina não engana ninguém. Tudo o que ela pensa está dito, especialmente agora, com a fantástica abertura que lhe deu a mídia, ao aderir ao PSB de Eduardo Campos, após ver negado registro de seu partido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Ocupou cadeias de televisão e as páginas dos principais jornais do país.
A vida de Marina, desde seringueira no Acre, como senadora e como ministra do Meio Ambiente do primeiro governo Lula, não guarda maiores segredos. Assim, não conseguirá iludir nem os mais ingênuos, embora ainda haja alguns aspectos obscuros em suas propostas.
Convém desde logo destacar no discurso da candidata expressões que encontram campo fértil no modismo da classe média do Sul-Sudeste do Brasil, do tipo “sonháticos” e “programáticos”, no estilo do mais puro “marinês”. Para a turma dos botequins, antes enfumaçados, na época em que era permitido fumar, é um encantamento ver uma mulher amazônica, com ar freirático ou de sacerdotisa evangélica, sempre de vestidos longos e colar de miçangas ou penas em volta do pescoço. Com o vezo da esquerda festiva dos anos 60/70 do século passado, estará sempre disposta a aplaudir o que acha ou lhe parece diferente, sem a menor capacidade de indagar sobre as razões de tamanho entusiasmo.
Nem o que seria elementar, no caso de Marina, merece alguma ponderação ou a mínima avaliação. Quando a candidata fala em priorizar o “programático” no lugar do “pragmático”, mero jogo de palavras características do “marinês”, esconde ou procura esconder que nunca foi tão pragmática como quando de sua filiação momentânea ao partido do governador de Pernambuco. Ao proclamar sua não candidatura, esconde ou procura esconder que mais do que ninguém é candidatíssima, certa de que as pesquisas haverão de levá-la a substituir Eduardo Campos, estacionado em percentuais que inviabilizam seu projeto político, conforme os últimos números do Ibope desta semana. Há quem entenda que Marina chegou na praia dos socialistas como cavalo de Troia, com os guerreiros “sonháticos” prontos para o ataque de surpresa, cimentando objetivos que desde o início não conseguem disfarçar.
Ainda bem que no campo das ideias, atos e fatos se mostram com clareza. Marina é sectária e tem uma visão imobilizadora a partir da própria região onde deita suas raízes. Na Amazônia, com a noção rançosa de que o homem não passa de um invasor, não admite sequer a extração das cascas de um simples pé de cidreira, em franca oposição ao mais modesto plano de manejo florestal e contra a renovação das espécies envelhecidas. Em relação ao nosso único projeto de integração rodoviária com o país, sempre combateu a BR-319, que existiu no passado e que há anos se pretende apenas recuperar. Como ministra, determinou ao Ibama que impedisse a obra, com danos causados à economia e ao progresso do Amazonas. Insiste em desconsiderar que 80% da mata nativa na grande hileia encontra-se preservada, como forma de justificar o radicalismo da intocabilidade, em detrimento dos anseios e expectativas históricas dos amazônidas.
Marina estende essa mesma visão estreita e de origem pelo país afora, ao se mostrar infensa ao agronegócio e à pecuária, componentes relevantes de nossa pauta de exportações. E tem-se ainda presente na memória a dura batalha que empreendeu contra o comércio de transgênicos e a pesquisa, que terminou estimulando a invasão de propriedades com a destruição ensandecida de conquistas reconhecidas no plano da investigação científica, já em estágio avançado. Vê também a questão indígena sob uma ótica distorcida, sem admitir que os índios, com uma população de 800 mil almas, já ocupam 12,5% do território nacional, ao mesmo tempo em que defende a ampliação das reservas até 25%, na linha do que pretende a Funai e entidades indigenistas.
Marina combate a construção de hidrelétricas na Amazônia e espera impedir o uso do grande potencial de recursos hídricos do país, entendimento equivocado que conduz à utilização de formas poluentes de produção de energia, em franca contradição com suas posturas em defesa da ecologia. Não tolera a exploração de nossas grandes reservas de recursos minerais, com grande inversão no processo de desenvolvimento do setor e de suas enormes potencialidades. O mesmo acontece no tocante à construção de novos portos e rodovias, mesmo diante da crise e dos gargalos verificados na infraestrutura de transportes, como fator que eleva o custo Brasil e retira a mínima competitividade do país nos grandes mercados internacionais.
Dentre outros disparates, Marina advoga que se deve instaurar no Brasil o democratismo paralisante, com a audiência permanente e sobre qualquer assunto de todos os movimentos sociais, do tipo MST, Via Campesina, Greenpeace e outros segmentos, contanto que comunguem de suas ideias, expondo-nos a um governo inviável e decadente, de consequências imprevisíveis.
Bem, o quadro está posto, quem quiser que se iluda, quem quiser que corra o risco.