A produção dirigida por Heitor Dhalia promete uma estreia grandiosa, como grandioso é o filme.
“Serra Pelada” é a estréia mais esperada nos cinemas brasileiros nesta segunda quinzena de outubro. Badalado nas redes sociais e nos circuitos culturais, como o Festival de Cinema do Rio de Janeiro. A produção dirigida por Heitor Dhalia promete uma estreia grandiosa, como grandioso é o filme.
“Serra Pelada” começa com a viagem, em 1980, de Juliano (interpretado pelo ator Juliano Cazarré) e de Joaquim (uma atuação de Júlio Andrade) de São Paulo ao sul do Pará com o sonho de trabalhar e ganhar dinheiro com a exploração do ouro. Segundo o diretor Heitor Dhalia, foi difícil contar a história de um garimpo que concentrou homens vivendo em condições precárias e enfrentando as ordens dos donos das áreas de exploração.
“Estamos falando de um evento brasileiro bastante importante da nossa história recente. A maior corrida do ouro da era moderna. Maior concentração de trabalho manual desde as pirâmides do Egito, que tiveram 4 mil homens. Em Serra Pelada chegaram a trabalhar até 100 mil homens”, explicou.
O trabalho de pesquisa foi intenso e contou com documentários, fotos e relatos de pessoas que viveram no local. Conforme surgiam as informações, o roteiro ia se alterando. “O roteiro partiu do real”, completou o diretor.
Para retratar a realidade, a produção chegou a conclusão logo no início dos trabalhos de que não poderia filmar no local. A produtora Tatiana Quintella explicou que a infraestrutura necessária não era viável com o orçamento de R$ 10 milhões. “Quando a gente viu o orçamento perto do que a gente ia construir lá, a gente resolveu trazer para São Paulo e filmar também em Belém. Ficou mais barato. É a magia do cinema”, revelou.
O roteiro mostra as transformações pelas quais passam as vidas de Juliano e Joaquim. Juliano passa a explorar os garimpeiros e se transforma em matador, enquanto Joaquim sonha em voltar para São Paulo e encontrar com a mulher que tinha deixado grávida. “Para mim a protagonista deste filme é a amizade desses dois personagens”, defende Cazarré.
A roteirista Vera Egito disse que a decisão de mostrar o início da exploração do garimpo de Serra Pelada foi porque o período marca a inocência de muitos que foram para lá pensando em vencer na vida e conseguir dinheiro. Para a roteirista, a inocência se transformou ao longo do tempo e a ganância levou a violência para as minas de ouro e para as cidades próximas, que passaram a se desenvolver enfrentando casos de crimes e prostituição. Na avaliação dela, o filme não teve a intenção de fazer o julgamento dos personagens. “A vida real é essa dramaturgia. O personagem vai em busca da transformação. A gente não julga um personagem. O segredo é não dar uma lição de moral a quem está assistindo o filme”, disse.
Wagner Moura, que representa o gangster Lindo Rico, é também um dos produtores do filme. Ele contou que não teve muita dificuldade em dividir as funções, porque tinha um número menor de cenas em comparação a outros personagens e também sabia qual era a função de Lindo Rico no filme. O ator disse que esse era um projeto que vinha trabalhando há muitos anos e por isso conseguiu ter uma visão mais ampla do que em “Tropa de Elite 2”, quando também foi produtor, com a diferença que precisava filmar todo dia.
“Teve uma hora em que eu falei que tinha que esquecer um pouco a conversa de produção e fazer o meu trabalho. No “Serra Pelada” não, eu filmei pouco e pude acompanhar. Eu sou um ator que sempre teve interesse em saber o que acontece ao redor. Depois que fiz o Tropa de Elite 2, eu fiquei com uma visão ainda mais ampla, de saber o que acontece antes de chegar no set de filmagem”, disse.