Por Valmir Lima, da Redação
Alfredo Pereira do Nascimento, aos 63 anos, diz estar recomeçando tudo de novo, depois de “desconstruir” uma carreira política iniciada nos anos de 1980, no Amazonas. Natural de Martins, no Rio Grande do Norte, foi no Amazonas que, pelas mãos de Amazonino Mendes, ele foi secretário de Estado, superintendente da Suframa, prefeito interventor, quando o então governador Amazonino tirou da prefeitura o prefeito Manoel Ribeiro, e depois, prefeito eleito e reeleito. Até hoje, o único prefeito reeleito depois do instituto da reeleição criado no governo de Fernando Henrique Cardoso. O recomeço é consequência de uma decisão equivocada, segundo Alfredo, tomada em 2004, quando ele deixou a Prefeitura de Manaus para assumir o Ministério dos Transportes, a convite do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. “O maior erro que eu cometi foi ter saído de Manaus para ser ministro”, diz. Mas o recomeço tem outro personagem, que ingressou recentemente no PR, o partido dirigido nacionalmente por Alfredo: o ex-deputado estadual Marcelo Ramos, que o líder do partido afirma que será candidato a prefeito de Manaus em 2016. “É pra valer. E é pra ganhar a eleição”, diz Alfredo sobre a candidatura de Ramos, a quem prefere tratar pelo primeiro nome. A seguir a entrevista concedida ao jornalista Valmir Lima.
AMAZONAS ATUAL – Vamos começar por uma questão nacional. O seu partido, o PR, é da base aliada do governo. Como o senhor está avaliando a crise? Existe mesmo uma crise política?
ALFREDO NASCIMENTO – Existe, e essa crise política influencia diretamente na crise econômica do País. Numa relação dos poderes, especialmente entre o Congresso e Executivo, a repercussão, naturalmente, é na economia do País. No nosso regime presidencialista, o Executivo não executa nada sem autorização do Congresso. E Infelizmente, a presidenta perdeu essa relação com o Congresso. Foi feita uma rearrumação agora, pra tentar refazer essa relação que existia em outros governos, e que estava inteiramente desgastada. A crise existe e eu espero que ela seja superada. Acho pouco o que foi feito, mas é um começo.
ATUAL – E como o PR atua nesse momento de crise?
ALFREDO – O PR é da base do governo e entende que lealdade tem limites. Nós vamos ficar com o governo, sim, porque lá atrás, no início do governo da presidenta Dilma nós aceitamos participar da base do governo e aceitamos indicar um nome para uma das principais pastas, que é o Ministério dos Transportes. Agora, essa relação vai continuar existindo até o limite que a sociedade determinar. As pessoas falam no impeachment. Até então, não vejo nenhum motivo para se aceitar o impeachment. Mas se aparecerem provas, se existirem dados suficientes pra isso, o partido acaba votando.
ATUAL – As pedaladas fiscais seria um motivo para o impeachment?
ALFREDO – Acho que não. Primeiro, que o TCU não é uma instância final. Isso tem que ir para o Congresso. Em segundo lugar, essas pedaladas foram praticadas em todos os governos. O Tribunal de Contas resolveu identificar agora que ela existe como pedalada em função até dessa briga política, porque a eleição ainda não acabou. Continua existindo uma briga entre oposição e situação. Eu assisti a uma exposição feita pelo governo mostrando as mesmas pedaladas desde o início do processo. E o governo seguiu uma norma, uma resolução do Banco Central, porque não existia lei para isso, e essa resolução que dava base pra essas pedadas foi seguida rigorosamente pelo governo. Então, eu vejo por trás disso tudo um pouco da ação política. Agora, existindo dados, existindo envolvimento da presidenta da República em desvios, a coisa muda de figura.
ATUAL – O senhor falou em lealdade do PR com o governo. Existe lealdade em política?
ALFREDO – Até certo ponto. Mas você não é leal pra morrer junto. Você vai até a beira da cova.
ATUAL – Eu fiz essa pergunta com um olhar lá atrás, em 2010, quando o senhor foi candidato ao governo do Estado dizendo que havia um acordo com o presidente Lula… (interrompe)
ALFREDO – Não houve lealdade comigo. Havia um acordo com o presidente, com a Dilma, como Eduardo Braga, com o Omar, e, no final, eles não me apoiaram. Mas eu não atribuo essa culpa a nenhum deles, a culpa é minha. Eu negociei mal. E quando a gente negocia mal em política, sem sustentação, sem segurança, a gente perde. Então, a culpa foi minha, eu conduzi mal o processo. E isso na política, pelo menos na nossa política aqui do Brasil, é uma prática muito comum [não cumprir acordo]. Aliás, o bom político hoje é aquele que consegue dar rasteira em cobra, que consegue enganar, que consegue falar bonito… Infelizmente, hoje a política é um pouco isso.
ATUAL – Qual foi o acordo que o senhor fez e que eles não cumpriram?
ALFREDO – Que eu seria candidato ao governo e que teria o apoio do Eduardo Braga, do Omar, do Lula… O Lula, quando me pediu para convidar o Serafim [Corrêa, do PSB] para ser meu vice [em 2010], eu estive em Brasília com o Serafim, e o Serafim é testemunha disso. Ele disse: “Eu não vou só apoiar o Alfredo. Eu vou fazer campanha pra vocês. Eu devo isso ao Alfredo. O Alfredo acreditou em mim (o Serafim é testemunha disso)”. O Serafim foi convidado pelo Lula, porque ele havia solicitado que eu convidasse o PSB, porque o PSB havia apoiado outros candidatos do PT em outros locais. Então, partiu de uma negociação nacional. Mas eu não tenho que falar disso, isso é coisa do passado. Isso foi embora. Eu acho que a gente só é aquilo que tem que ser, e eu conduzi mal o processo; a culpa é minha. Eu não fiz as amarrações devidas que o calejamento da política acaba ensinando pra gente.
ATUAL – Essa sua aliança com o Lula o senhor não acha que teve mais prejuízo do que lucro?
ALFREDO – Só prejuízo. O maior erro que eu cometi foi ter saído de Manaus para ser ministro. Eu tinha um excelente desempenho, era queridíssimo pela população, um índice de aprovação nunca alcançado, e larguei o meu último ano de mandato para atender ao Lula. Até aí ainda foi bem. Agora, o maior erro da minha vida foi aceitar ser ministro pela terceira vez, com a Dilma. Mas o ego da gente acaba superando a gente. Eu perdi a eleição e pensei: “bom, eu volto a ser ministro, fica tudo bem”. Acabei aceitando. Eu não ia, eu resistia a isso, eu dizia que não queria, eu disse pra ela [Dilma] que não queria. Até que não teve jeito. Ou eu aceitava, ou o partido não teria o mesmo espaço que teve no governo. Como eu tinha sido do ministério e era do partido a única pessoa que ela queria era eu. E acabei indo pra lá e deu no que deu. Eu estou tendo que recomeçar tudo de novo.
ATUAL – Ainda há tempo?
ALFREDO – Claro, sempre tem. Você dá um pulo pra trás e uns dois três pra frente. Isso não é burrice, não. Às vezes é até inteligência.
ATUAL – A Dilma insistiu para que o senhor entrasse, depois insistiu para que o senhor saísse?
ALFREDO – Não. Verdadeiramente, quem pediu para sair do governo depois das denúncias, que não eram contra mim, mas contra pessoas que trabalhavam comigo, fui eu. Porque ela me chamou em Brasília… Ela telefonou e perguntou: “Você já viu a revista Veja?”. Eu disse: “Não, não chegou, ainda”. Ela pediu que eu lesse e ligasse pra ela. Eu li e liguei para dizer: “Olha, presidenta, o que tem aqui são insinuações, de uma fonte, que diz…”. Mas ela disse: “Não, Alfredo, nós temos que demitir todo esse pessoal”. Ela estava querendo alguma coisa para mostrar… Não sei. “Mas vamos demitir todo mundo, afasta todo mundo, faz a apuração e quem não tiver problema volta”. Eu me lembro de que ela disse: “Vamos fazer igual ao que o Itamar Franco fez com o Hargreaves [minsitro chefe da Casa Civil do governo Itamar Franco Henrique Hargreaves], no período da limpeza ética”. Eu disse a ela: “Eu saio junto”. E ela: “Não, mas você não pode sair, não tem nada contra você. Faz o seguinte: vou mandar um avião lhe pegar e venha pra cá pra gente conversar”. Chegando lá encontrei um negócio montado para eu conduzir a investigação. Foi burrice minha. Era pra ter saído junto com todo mundo. Passei três dias, percebi que não era aquilo, que não era pra valer, que era pra eu ficar lá sofrendo, apanhando, e dizer no final: “Olha, presidente, não dá mais, vou sair, obrigado pela confiança”. E três dias depois mandei uma carta a ela pedindo demissão em caráter irrevogável, mandei entregar, não fui lá. Depois fui ao Ministério Público, protocolizei um documento pedindo para ser investigado desse assunto e autorizando a quebra do meu sigilo bancário, fiscal e telefônico.
ATUAL – Foram quebrados os sigilos?
ALFREDO – Todos. Eu depus na Polícia Federal, fui ouvido em tudo que é lugar. Mas eu tomei a iniciativa. Quando cheguei ao Senado, eu disse: “Olha, já pedi minha CPI, porque o que vocês apurarem aqui vão ter que mandar para o Ministério Público, e eu já fui lá e fiz isso. Esperei um ano e seis meses e fui o único político inocentado pelo Gurgel [ex-procurador geral da República Roberto Gurgel]. A Polícia Federal me inocentou, o Ministério Público me inocentou e o Supremo Tribunal Federal me inocentou. Eu me submeti a isso, mas acho que valeu a pena. Eu errei quando fui, mas não errei quando saí. E dois anos depois, tive que me encontrar com a presidenta, desta feita como presidente do partido, pra tratar de participação do partido no governo. E ela me trata uma maravilha. Fui colega dela dois anos e não esperava que ela agisse daquele jeito. Faltou companheirismo da parte dela. E causou aquela confusão toda, a saída daquele monte de ministros, por conta de uma matéria que não tinha pé nem cabeça. Pelo menos em relação a mim não tinha, tanto não teve que não foi provado.
ATUAL – O senhor não pensou em processar a revista Veja pela matéria?
ALFREDO – Eu processei, e ganhei em primeira instância, já. Não tem jeito de eles escaparem. A Polícia Federal gravou todas as conversas daquele repórter Policarpo Junior com o Carlinhos Cachoeira, armando para me derrubar. Montando a manchete. Tinha mais de 5 mil horas de gravação da Polícia Federal, mas eles têm um programa que você põe um nome e capta tudo que cita o teu nome. Não existia uma citação desfavorável a mim.
ATUAL – Como é que depois de um processo conturbado como foi a disputa em 2010 entre o senhor e o Omar Aziz o senhor veio a se aliar com ele de novo em 2014?
ALFREDO – Contingências da política. Quando me aliei ao Omar e ao [governador José] Melo, eu fiz isso acordado com a Presidência da República, acordado com o governo federal. Eu passei quatro anos um pouco junto com o Eduardo, e foi um pouco parecido com o que ele fez comigo [em 2010]. E o acordo era que eu os apoiasse – eu lembro até que na conversa registrei o seguinte: vou perder a metade dos meus votos, porque vou abrir mão de todas as lideranças com as quais estou lidando há quatro anos para partir para um jogo no escuro. Mas para deputado federal, eu achava que ganhava a eleição. E essa união minha com Melo e Omar era para atender ao interesse do governo federal em ter o Omar e o Melo do lado dele, o que, ao final, também não ocorreu. Você acompanhou a eleição… Ao final eu fui pro lado de lá, não aconteceu nada, e eles não ficaram com a Dilma. Mas isso é do processo.
ATUAL – Esse tipo de negociação com o governo federal para as eleições estaduais é comum, sempre acontece?
ALFREDO – Depende se existir interesse em determinado Estado. Qual era a estratégia do governo aqui? Era que o Braga já apoiava a Dilma; eu era majoritário, e seria naturalmente candidato ao Senado e o que estava acertado era isso. Mas em função da acusação que sofri no Ministério dos Transportes e fui afastado por denúncia de corrução à época, o tempo em que foi declarada minha inocência era muito curto pra que eu ficasse a eleição inteira tentando mostrar que não era aquilo que haviam dito, como ficou provado na Justiça, e eu acabei desistindo de ser candidato ao Senado. Mas eu reunia uma força majoritária, um grupo de pessoas, e tinha tempo partidário. E isso interessava aos dois lados aqui. E a troca foi simples: eu fui pro lado do Melo e do Omar para que eles apoiassem a Dilma. E ao final não aconteceu nenhuma coisa nem outra e eu perdi a metade dos meus votos.
ATUAL – O senhor se elegeria em qualquer das coligações?
ALFREDO – Pelas pesquisas, sim, mas do lado do Melo eu perderia quase metade dos votos. E é fácil de compreender. Eu passei quatro anos trabalhando com pessoas ligadas ao Eduardo Braga. Nós estávamos acertados que eu seria candidato, ele para o governo e eu para o Senado. Quando saí disso, perdi todo aquele povo que estava comigo. Com muito pouco tempo para o início da eleição, você não tem como recompor isso.
ATUAL – Depois da eleição, o PR não participou do governo e o senhor voltou a se aliar com o Eduardo Braga?
ALFREDO – Não. Hoje não tenho aliança com ninguém. Nem com o Braga e nem com o governo. Estou cuidando do meu partido, porque sou presidente nacional e quero fortalecê-lo aqui. E estou tratando com inteira independência em todos os municípios. Em alguns municípios o grupo que está comigo é aliado do Braga, em outros lugares é aliado do Omar, não tem esse negócio de que “eu sou Braga”, “Eu sou Omar”. Eu tenho uma boa relação de convivência com todos, mas não tenho nenhum acordo com eles. Tanto é assim que aqui eu tenho candidato a prefeito, diferente do deles. Meu candidato é Marcelo Ramos a prefeito de Manaus, endossado pelo partido, e nós vamos fortalecer a candidatura dele.
ATUAL – Essa candidatura é pra valer, mesmo, ou é para negociar acordos?
ALFREDO – É pra valer. É pra ganhar a eleição. Eu enxergo no Marcelo as características que eu tinha um pouco, lá atrás. Entende de gestão, muita vontade, muita determinação, muito sonho em mudar a cidade de Manaus. E precisa disso um pouco. Por que eu não sou candidato a prefeito? Eu avaliei que eu fui um bom prefeito. Um prefeito muito bem avaliado; fui o único prefeito reeleito da história da cidade de Manaus, porque eu fiz um bom trabalho, mas eu trabalhava muito, acordava de madrugada, ia pra rua. E eu pensei que já não faria uma administração assim. Não sei se eu teria força suficiente para fazer uma administração nesse padrão. E se você tem alguém com essa característica, com essa vontade, eu tenho certeza de que você consegue mudar a realidade de Manaus. Não precisa muita coisa, não. A cidade não é bilionária, mas tem dinheiro pra trabalhar. O orçamento do meu último ano de prefeito foi cerca de R$ 800 milhões. Hoje, é mais de 4 bilhões. E a cidade não cresceu nessa proporção. A cidade tem problemas, sim, mas você consegue resolvê-los com soluções simples. Eu acho que o Marcelo encara um pouco isso. Nós conversamos muito. Quando as pessoas dizem: “Ah, o Marcelo rodou, foi para um lado e pro outro, falava do velho, não sei o que e tal..” Todo mundo já falou de todo mundo aqui. Eu entendo que o novo não sobrevive sem o velho. Se você quiser fazer uma mudança, tem que haver uma transição. Tem que aproveitar a experiência de quem já viveu coisas boas e utilizá-las e de quem já viveu coisas ruins e não utilizá-las. Então, eu acho que o novo moderno, o novo bom é esse.
ATUAL – Mas para ganhar a eleição vocês vão precisar de alianças. Que tipo de aliança o senhor acha que deve fazer e com quem?
ALFREDO – O Marcelo é quem tem que ver essas alianças, como ele vai agir. Para uma eleição majoritária, primeiro que você não ganha sem grupo. E você não pode escolher muito, eu quero esse, eu quero aquele. Claro que, preferencialmente, você tem que ter alguém do seu lado que aceite o seu projeto político. O que o Marcelo pensa, o que eu penso pra Manaus é muito pouco. Você tem que saber o que as pessoas pensam pra Manaus. Eu o aconselhei, e acho que ele vai fazer isso ou já começou a fazer, é conversar muito com as pessoas, ir pra rua, conversar com os segmentos da sociedade para montar um plano para a cidade. Hoje a cidade tem problemas primários, está regredindo no tempo. A cidade de Manaus hoje é uma cidade pior do que era 15 anos atrás.
ATUAL – Quando vocês começaram a conversar já tinha essa perspectiva da candidatura? O senhor se interessou por ter o Marcelo no PR porque ele seria um candidato competitivo?
ALFREDO – Não. Ele me procurou pra gente conversar, como ele procurou todos os partidos. E acho que ele está certo. Na avaliação dele, em cada um desses partidos, quando ele diz: “Ah, todo mundo tem dono” é no sentido de dizer que o cara tá lá no partido e ele é o candidato naturalmente. Nada contra, é um direito que todo mundo tem. Mas ele, quando conversou comigo, e por isso ele se interessou em vir para o PR, eu disse que não seria candidato, apesar de ter pesquisa que mostra que eu teria boas chances de ser prefeito. Mas não é pesquisa quantitativa, é pesquisa qualitativa, porque eleição é cenário. Qual o cenário que vai ser colocado? Qual é a característica que eu tenho diferente do atual prefeito? O eleitor vai comparar. A eleição é um pouco isso. O cenário se monta em cima do que cada um fez. Mas eu não tenho interesse de ser candidato. Já fui prefeito de Manaus três vezes.
ATUAL – Nesse sentido, o Marcelo Ramos não tem o que comparar, ele só tem o discurso.
ALFREDO – Como os outros. Ele e os outros que se dizem candidatos vão comparar o discurso deles com o que o Arthur não fez.
ATUAL – O PR tem pesquisas internas?
ALFREDO – Todo mundo tem.
ATUAL – O senhor disse que o Marcelo será candidato para se eleger. Essas pesquisas apontam para isso?
ALFREDO – A eleição vai ficar muito igual. Vai depender do desempenho de cada um, dos nomes que estão aí.
ATUAL – A única pesquisa oficial divulgada até agora, do Diário do Amazonas, mostra o Marcelo muito atrás dos outros candidatos.
ALFREDO – Mas se você comparar com os outros, está todo mundo praticamente no mesmo patamar. Numa eleição, uma candidatura se constrói. Não é assim. Hoje, uma pesquisa quantitativa não vale nada. O Arthur, quando foi candidato [em 2012] tinha 6% das intenções de voto. Estou dizendo porque quem foi procurá-lo para ele ser candidato a prefeito fui eu, lá em Brasília. Procurei e disse: “Você é a pessoa que pode chegar”. Depois, decidimos que o Henrique seria candidato do PR. Mas votei nele [Arthur] no segundo turno, mas não votaria de novo, não, porque ele não respondeu como deveria. No entanto, a eleição vai ser decidida com quem é candidato, eu não sou candidato. Eu tenho minha posição, meu ponto de vista, mas não sou candidato. E o sucesso da candidatura do Marcelo Ramos vai depender muito dele.
ATUAL – O senhor teve dois projetos que definharam depois que o senhor deixou a Prefeitura de Manaus: o Expresso e o Médico da Família. Não foram projetos mal concebidos?
ALFREDO – Não, de jeito nenhum. O projeto Expresso é tão bem concebido que é adotado em todas as grandes cidades do mundo hoje. Todas as cidades brasileiras estão adotando os corredores exclusivos no transporte coletivo. Infelizmente, aqui em Manaus, quando tem alguma coisa boa, que vai marcar a pessoa como coisa boa, as pessoas que sucedem aquele que executou, naturalmente deixam de lado. Deixam estragar. Olha, 15 anos depois, o prefeito que está aí, tá repintando os terminais de integração que eu construí, as paradas de ônibus, porque não tem outro caminho. Para você ter um trânsito melhor, um fluxo melhor de veículos, você tem que ter corredor exclusivo, tem que privilegiar o transporte coletivo. Só tem um caminho: corredor exclusivo, pra dar celeridade e melhorar.
ATUAL – Mas, por exemplo: o corredor exclusivo foi feito em apenas algumas vias e muito mal executadas as obras, tanto que com menos de um ano as pistas não prestavam mais.
ALFREDO – Mas as pistas foram todas recuperadas pela empresa que executou mal o serviço, na época. Pode voltar no tempo que você vai lembrar-se disso. A empresa que fez a obra da Torquato Tapajós e da Cidade Nova, onde estragou, obrigatoriamente a empresa refez. E tem uma diferença do projeto que eu criei para agora. Esse não vai dar certo. Por quê? Porque aumentou o número de veículos e você não tem um espaço maior. Eu dupliquei a Constantino Nery toda. Eu dizia assim: fiquem despreocupados, porque vocês têm duas pistas de cada lado da via, e eu vou criar mais uma de cada lado, no meio, e nós vamos continuar tendo duas vias para os veículos pequenos e uma via para os ônibus. Então, eu criei uma opção. Alarguei toda a Estrada do Aleixo, a Autaz Mirim, alarguei a via da cidade Nova, a Torquato Tapajós toda. O sistema foi criado com mais uma pista. O que houve de novo em relação a isso? Não houve nada, simplesmente interromperam o projeto.
ATUAL – Eu fiz uma reportagem em 2003, quando o Expresso já estava funcionando há mais de seis meses, medindo o tempo de viagem. E as pessoas diziam que demoravam mais para sair de casa da zona leste para o Centro da cidade com o Expresso do que com o sistema anterior a ele. E havia a promessa de reduzir o tempo de viagem. O usuário era obrigado a pegar um ônibus alimentador, e descer no terminal, e o próximo ônibus demorava… e isso atrasava.
ALFREDO – Porque existia a fase de adaptação, ainda. As pessoas não estavam adaptadas a esse sistema, que hoje é assim, e funciona assim em tudo o que é lugar. Você tem que ter um sistema troncal, abastecido pelas linhas alimentadoras. Existia mesmo uma desconexão no início, porque todo início é desse jeito. Ele, infelizmente, não foi continuado. Eu saí da prefeitura com 80% da obra paga e com empréstimo – todo mundo fala de empréstimo, uns falam de R$ 600 milhões, outros em R$ 1 bilhão. Eu fiz 20 e poucos milhões de empréstimo. Hoje, se você for lá com o Pedro Carvalho, que era o gestor da época, tá lá na prefeitura, e verifica quanto foi o empréstimo.
ATUAL – Mas a obra custou cerca de R$ 55 milhões…(interrompe)
ALFREDO – Com dinheiro da prefeitura. Não foi cento e não sei quantos milhões, como disseram. Eu peguei parte de empréstimo, e parte da prefeitura, e construímos cinco terminais de integração. Nenhum novo investimento em transporte coletivo foi feito em Manaus depois que eu saí. Não tem nada novo em transporte coletivo depois que eu saí da prefeitura. É um absurdo a cidade crescer de 1 milhão e meio de habitantes para 2 milhões e não ter crescido no transporte coletivo. Alargamento de rua também não houve. Eu virei essa cidade de cabeça pra baixo. Então, essa adaptação no início era difícil porque a cidade estava tumultuada. Eu mexi nas principais vias da cidade. Manaus nasceu de costas pro Rio e você não tem mais opções. Qual era a opção que eu tinha? Era fazer sentido único na Djalma Batista, na Paraíba e na Recife. E colocar, na Constantino Nery um sistema de transporte coletivo, com mais uma via. Isso foi tudo estudado, eu contratei a mesma equipe que implantou esse sistema lá em Curitiba para implantar aqui em Manaus. Não levaram a sério, acharam que não era pra valer, que não era ideal, e hoje, 15 anos depois, chegaram à conclusão de que não tem outro caminho.
ATUAL – E o Médico da Família, não foi um projeto mal planejado?
ALFREDO – Quando eu fui implantar esse projeto eu fui a Cuba conhece-lo. Fui lá com o Fidel Castro, levei um grupo de médicos comigo. Fomos conhecer o programa, fomos viver o dia a dia. Cuba mandou alguns médicos pra cá, para treinar os médicos brasileiros. E ele é muito simples. Cuba é um país muito pobre, mas tem um sistema de saúde maravilhoso, porque ele previne a doença. E eles lá não têm os remédios que precisa ter aqui. Eu visitei uma casa de saúde – e nessa casa o médico mora – em que o prontuário do médico era uma caixa de sapatos, com uns pedaços de papel anotados. Boa parte das doenças, eles previnem com chás, com ervas, mas evita que a pessoa adoeça. E eu comecei a implantar isso em Manaus. Tem até uma condenação contra mim, que vou recorrer porque existe lei para isso. Condenação porque eu contratei médicos, agentes de saúde, e outros servidores temporários para o Médico da Família. O agente de saúde eu contratava do próprio bairro. Era pessoa que tinha alguma liderança, que era conhecida no bairro. Era um médico, sete agentes de saúde, uma enfermeira e um auxiliar de enfermagem. Instalamos 187 casas do Médico da Família e cada equipe atendia mil famílias. O médico ia à casa da pessoa, ia ver o ambiente, saber por que aquela criança estava com gripe, com alergia, até para orientar a proceder. E dava o medicamento na casinha. Os médicos mostravam que em alguns casos tinha que dar alimento pra pessoa. O médico prescrevia alimento. Isso foi até motivo de reportagem do Jornal Nacional, mostrando que na periferia de Manaus a maior doença era a fome. A saúde piorou atualmente, porque não tem prevenção.
ATUAL – A própria prefeitura argumenta que o governo federal foi quem condenou as casinhas, por serem muito pequenas e não atendiam aos padrões do Ministério da Saúde.
ALFREDO – Não é essa a história. Eu acompanhei, e foi na época do Amazonino que ele conseguiu o que chamou de Casonas de Saúde. O governo federal não tinha financiamento para a construção dessas casinhas, mas para a construção de postos de saúde, reforma e ampliação. A casinha de saúde não era uma coisa reconhecida pelo Ministério. Aquilo era bancado pela prefeitura, era prevenção, que é um modelo diferente do Médico da Família do governo federal, em que o médico atende no posto. É diferente dessa filosofia do Programa Médico da Família. Então, essas Casonas, é papo. É que o governo federal só tinha recursos para reforma e ampliação de novas unidades de saúde, e eles construíram no lugar das casinhas de saúde.
ATUAL – Teve problema também com imóveis. As casas foram construídas em áreas particulares e em locais alagados, e as casinhas alagavam no período de chuvas.
ALFREDO – Teve esses problemas sim, mas em todas elas os terrenos foram desapropriados pela prefeitura, e quando não eram desapropriados pelo município, era pela empresa que contratava a obra, porque às vezes a pessoa não tinha documentação para apresentar para a prefeitura para fazer a desapropriação. Noventa por cento dos locais onde as casas foram construídas eram áreas de invasão. E se foi construída em área que alagava, é porque toda aquela área alagava. E a gente tinha a consciência de que precisava ter uma casa de saúde ali, porque senão, como você ia atender aquelas pessoas? A casinha era adaptada para atender a realidade das pessoas e não pessoas se adaptarem ao que queria o município. Eu não consigo entender porque desvalorizaram esse programa, porque você evitaria, primeiro, essas filas monstruosas. O programa melhora muito os índices de saúde da população. Mortalidade infantil caiu aqui vertiginosamente com esse programa. Você tem menos gente nas unidades especializadas e nos atendimentos de urgência. Porque era muito comum a pessoa passar mal e jogarem ela para o pronto-socorro. Também desvalorizaram o programa, porque equipararam o médico da família ao médico que tem carga horária para atender 16 pessoas por dia. Quando eu era prefeito, o médico da família tinha salário igual ao de secretário do município. Todo mundo me dizia: “Você não vai conseguir médico para passar o dia inteiro na periferia”. E eu dizia: “vou!” Mandei um projeto de lei para a Câmara autorizando que o médico da família tivesse como limite de salário o mesmo que ganhava o secretário. O secretário ganhava R$ 5 mil e o médico da família também. O médico da rede ganhava mil e poucos reais. Todo mundo queria ir para o programa. No final, estava cheio de especialistas no programa Médico da Família.
ATUAL – O senhor comparou o orçamento do município de quando o senhor administrou a cidade e agora (R$ 800 mil X R$ 4 bilhões). Há uma gritaria geral dos prefeitos contra o governo federal que não manda dinheiro suficiente para os municípios. Isso não é uma contradição?
ALFREDO – Não vejo contradição. O problema hoje não é só das prefeituras, é dos Estados e da União. A crise é nacional. Estou me referindo à disponibilidade de recursos próprios, não de mandar dinheiro para a prefeitura. Eu, quando fui prefeito, dizia que ia andar com minhas próprias pernas, e todo mundo dizia que eu era pau mandado do Amazonino, que só fazia o que o governador dizia. Eu fui andar com minhas próprias pernas e foi ai que a cidade cresceu muito, melhorou muito. Porque eu passei a utilizar os recursos da prefeitura em coisas que eram identificadas como prioridade. Essas passagens de nível e viadutos construídos naquele período, eu participei em conjunto com o governo do Estado de todos eles. Eram 70% do governo do Estado e 30% da prefeitura. Então, se você faz uma obra de R$ 20 milhões, e tira R$ 6 milhões da prefeitura e R$ 14 milhões do governo do Estado, esse dinheiro para o governo não é tão significativo, mas os seis do município são. Eu passei a trocar esses investimentos pesados por investimentos mais baratos e até mais inteligentes.
ATUAL – O senhor foi superintendente da Suframa. Como o senhor avalia a situação da autarquia hoje comparada com o período em que o senhor foi gestor da Zona Franca?
ALFREDO – A Suframa hoje está muito esvaziada. Naquela época era verdadeiramente um poder, porque as decisões eram tomadas aqui. As reuniões eram realizadas aqui, a pauta era montada aqui. Era realmente um órgão importante para o governo, mas o momento era outro. Naquela época, o país era fechado para as importações, eu peguei o período de abertura e promovi essas adaptações na legislação, e tudo o que entrava no país tinha que passar por Manaus. Entrava aqui como peças, faziam a montagem, que era chamado de maquiagem, se gerava emprego aqui e era distribuído para o resto do país. Quando o país foi aberto às importações, essa realidade mudou, e hoje a Suframa tem o poder de decisão muito restrito, muito reduzido em relação ao que tinha antes.
ATUAL – Isso é um processo natural?
ALFREDO – É um processo natural. Com a abertura das importações, o esvaziamento foi muito grande, especialmente porque você não tem mais aquele comércio pujante, e o que se conseguiu preservar da Zona Franca de Manaus foram alguns polos que não têm concorrência no resto do país. Ainda bem. E essa crise que a gente tá vendo aqui é consequência da crise nacional. E é natural que a gente sinta um pouco mais aqui, porque nós só produzimos supérfluos. A primeira coisa que o consumidor corta no momento de crise é o supérfluo. Ele não vai mais trocar de televisão ou o ar-condicionado. Vai tentar se virar com o que tem para evitar gastar. É diferente de você produzir coisas que são do consumo diário. Agora, a minha expectativa é de que essa relação… Eu li uma reportagem do Romero Jucá, na revista Veja, em que ele dizia sobre as mudanças feitas pelo governo que o que foi acertado foi a distribuição de alguns camarotes do Titanic, mas não mudou o curso. Em tese não se mudou o curso ainda, mas não se pode mudar esse curso sem a ajuda do Congresso. Eu tive a oportunidade de me reunir com a presidenta Dilma e com os presidentes de partidos, e de dizer isso. Enquanto a situação política não se restabelecer, e não falo pelo governo ou pela presidenta, mas pelo País, não tem como consertar as coisas que estão aí. Foi dado um passo e acho que pode mudar um pouco.
ATUAL – O passo que o senhor se refere é a distribuição de cargos ao PMDB?
ALFREDO – Essa é uma regra, sempre foi. E o PMDB é um partido muito forte. Sem ele, ninguém governa. Nem Dilma, nem Lula, nem Fernando Henrique. Do governo Fernando Henrique eles participaram direto. É um partido grande, com diversas correntes, mas um partido que participa do governo, sempre. E passa pelo PMDB um novo rumo para o governo.
ATUAL – Voltando à questão da Suframa. O setor produtivo reivindica e outras entidades reivindicam que seja recuperada a importância da Suframa, que as verbas contingenciadas sejam liberadas para investimentos no Estado, mas o que a gente não vê é uma ação articulada dos políticos em Brasília para tentar sanar esses problemas. Não é o grupo político que está em Brasília que deveria assumir a defesa da entidade e da Zona Franca de Manaus de forma articulada?
ALFREDO – É muito pouco comum a união desses grupos lá e aqui. A política hoje é muito uma representação. É um negócio de ah, eu vou mostrar isso, vou mostrar aquilo, mas não é nada disso. O ideal era a união, mesmo, sentar todo mundo pra valer e dizer: vamos fazer isso. Mas é muito complicado. Todo mundo quer ser dono da solução. Esse é que é o drama. Eu me lembro de quando foram escolher o coordenador de bancada, todos diziam: “Você é o mais experiente”. E eu disse: “Eu não quero nada disso!” Você não pode administrar quem você não manda. Como é que deputado vai administrar deputado ou senador. São independentes, não têm como fazer. Você não tem instrumento nenhum para obrigar ninguém a fazer nada. Você ser presidente de um partido, como eu sou, tem alguns instrumentos. É diferente. Mas hoje, esses instrumentos já não valem tanto. O instrumento maior é o do argumento, da conversa. Mas aí, a busca é o interesse comum, é o fortalecimento do partido, porque eu sou parte dele.
ATUAL – Mas nesse caso da Suframa, o que a gente vê é que toda vez que alguém diz que há uma ameaça, todo mundo se mobiliza e quer ser o pai da criança.
ALFREDO – É, mas quando mexem ou querem colocar em risco o pouco que a gente tem, aí há mobilização sim, porque sabem que tudo gira em torno disso e se a gente perder a Zona Franca de Manaus não tem para onde ir. Virar porto de lenha? E é uma coisa muito difícil tratar de temas como autonomia, de fazer isso ou aquilo, porque gera um interesse nacional. Mexer em coisas da Zona Franca de Manaus, só quando mexem, porque se a gente tomar a iniciativa… Uma coisa que todo mundo defende, que é a expansão da zona franca para a região metropolitana, para uma área maior do que está estabelecido. Põe pra votar no Congresso para ver o que vai aparecer de proposta de criação de zona franca em tudo que é Estado. Então, é um assunto de exceção à regra, que não é muito legal a gente botar a cara pra discutir, porque seriam 11 políticos contra o resto.
ATUAL – A escolha do superintendente não é uma coisa importante? Já vai fazer um ano que o superintendente é interino.
ALFREDO – É política. Hoje já não tem importância. A escolha é mais psicológica, até, porque não muda muita coisa. O João, o José, tanto faz. Mas eu acho que vai ser a Rebecca. O governo me disse isso oficialmente.
ATUAL – Quem do governo?
ALFREDO – O governo federal, a Casa Civil. Ela deve ser nomeada depois dessa votação dos vetos da presidenta Dilma.
ATUAL – O senhor tentou asfaltar a BR-319 e até hoje a obra não saiu. O que houve, de fato, que emperrou o processo?
ALFREDO – Ela foi asfaltada de Humaitá (AM) até Porto Velho (RO), 200 e poucos quilômetros. A ponte de mais de 1 quilômetro sobre o Rio Madeira, e o que eu executei, acabei fazendo em segredo. Do lado do Amazonas, foi construída uma ponte sobre o Rio Castanho e outra sobre o Rio Tupana. Só tem uma ponta para ser construída nesse trecho todinho de Manaus até Porto Velho, que é sobre o Igapó-Açu. É a única ponte que faltou, porque está na área daqueles 400 quilômetros do licenciamento. E agora, o Ministério dos Transportes tá trabalhando daqui do zero até o quilômetro 250, que não precisa de autorização. No meio, eu conversei com os técnicos do ministério, e eles me disseram que está sendo feita a manutenção nessa parte do meio para garantir a trafegabilidade. Faltam 50 quilômetros para ligar Manaus a Porto Velho. A ligação entre Manicoré e Manaus por ônibus, por carro, tá praticamente pronta, porque tem a 174 de 80 e poucos quilômetros que sai da BR-319 até Manicoré. Então, isso foi feito calado, e dentro da lei. Agora, você já viu nos jornais o Ministério Público querendo parar a obra do meio, dizendo que é ilegal, que não pode dar licença. O Ibama foi consultado dois anos atrás, pelo Dnit, dizendo que queria fazer a manutenção, para dar trafegabilidade, que ela tinha, mas estava intrafegável. E o Ibama disse que licenciamento de manutenção quem dá é o Ipaam. O Dnit foi ao Ipaam e o Ipaam deu. Agora, tão botando dificuldades, estão doidos para interromper a manutenção, porque querem que a gente fique isolado. Há uma má vontade muito grande dos órgãos ambientais. Eu vi o Lula dando ordens à Marina Silva, quando ela era ministra o Meio Ambiente, e ela disse: “Presidente, enquanto eu for ministra, não dou autorização”. “Mas por que, isso tira o Estado do isolamento?”, o presidente questionou. “O senhor é o presidente, pode fazer como quiser, mas por convicção, eu não faço isso”.
ATUAL – A licença ambiental, agora vai ser dada pelo Ipaam?
ALFREDO – Não. Só para a manutenção, que é a regra. Para a construção e restauração, é o Ibama.
ATUAL – É o que falta para esses 50 quilômetros?
ALFREDO – Não, são 400 quilômetros. Desses 400 já se deu trafegabilidade a 350. Já está no fim. A trafegabilidade é arrumar a estrada com barro e pedra, cascalho. A ligação entre Apuí e Humaitá, da BR-230, é toda assim. Mas você tira do isolamento, enquanto sai essa bendita autorização, que eles não dão nunca. Eu para o PR apoiar a Dilma, exigi: “Quero o asfaltamento da BR-319”. Ela disse: “Eu vou assumir, mas você sabe que os órgãos não vão deixar”. É meio assim. Os caras não têm nem noção, eles dizem que vão invadir as margens da estrada. É impossível. É água de um lado e de outro quando chove. A madeira lá não serve pra nada, é uma madeira que não presta pra vender. Esse trecho do meio, eles elevaram o greide quando construíram porque fica água de um lado e do outro. Ela não está ocupada até hoje porque é inviável a ocupação. As pessoas vão passar quatro meses dentro d’água. Muitos não sabem nem onde é, mas é da Amazônia, aí, não pode. Eles comparam com a BR-163, no Pará, que devastaram tudo, mas lá era só madeira de lei, não é charco, é terra boa. É diferente.