EDITORIAL
MANAUS – Desde que o escandaloso Fundo Eleitoral para 2022 foi aprovado na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) há uma corrida dos políticos envolvidos para negar a paternidade da “criança”. Um dos primeiros a fazer isso foi o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que horas depois foi ao Twitter culpar o presidente da sessão do Congresso na votação, deputado Marcelo Ramos (PL-AM).
Dias depois, o pai de Eduardo, presidente Jair Bolsonaro (sem partido), também culpou Marcelo Ramos pela aprovação do valor exorbitante do Fundo Eleitoral e prometeu “corrigir”.
Filho e pai se escoraram em uma proposta do Novo de separar o Fundo Eleitoral da votação da proposta da LDO. Marcelo Ramos tinha o poder de acatar, mas colocou a proposta em votação (simbólica, quando não há registro no painel, mas a maioria dos que aprovam é visível) e ela foi rejeitada.
O que não foi dito é que a proposta de R$ 5,7 bilhões para o Fundo Eleitoral 2022 não apareceu na hora da votação. Houve uma construção coletiva da proposta, principalmente pela base do governo Bolsonaro no Congresso.
Na véspera da votação, parlamentares da base do governo se reuniram na residência oficial do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), principal aliado de Bolsonaro, e decidiram incluir esse valor para o fundão.
No dia seguinte, ou seja, no dia da votação, o relator da proposta de LDO na Comissão Mista do Orçamento, deputado Juscelino Filho (DEM-MA), em cumprimento ao acordo firmado na reunião, incluiu o valor na LDO.
Na votação em plenário, presidida por Marcelo Ramos, a base do governo orientou votação contra o destaque do Novo para a retirada do Fundo Eleitoral da proposta de LDO.
Por se tratar de uma sessão de votação do Congresso Nacional, o presidente da sessão é o presidente do Senado, mas Rodrigo Pacheco (DEM-MG) precisou se ausentar, e delegou a tarefa a Marcelo Ramos.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, não faz parte da Mesa Diretora do Congresso.
Não foi a primeira vez que Ramos presidiu sessão do Congresso. Das quatro ocorridas neste ano, ele presidiu três. “Não foi nada fora do normal. E não houve nenhum problema na condução”, afirma Marcelo Ramos. “O presidente é que é um irresponsável”, completa, se referindo a Bolsonaro.
Agora, Bolsonaro está encurralado, porque vetar o Fundo Eleitoral na LDO significa desagradar sua própria base de apoio no Congresso.
Manter o valor do fundo em R$ 5,7 bilhões desagrada os quase 150 milhões de eleitores brasileiros.
Em 2020, o presidente da República também contestou o valor do Fundo Eleitoral para as eleições municipais e prometeu vetar, mas recuou e acabou sancionando a matéria como foi aprovada no Congresso, sob o argumento de que poderia ser alvo de um processo de impeachment.
Neste ano, ele tenta colocar a batata quente nas mãos de quem presidiu a sessão. Se fosse obra de Marcelo Ramos a aprovação do fundão escandaloso, Bolsonaro não teria dificuldades para vetar.
Por isso, o Fundo Eleitoral está em estado de abandono paterno: ninguém quer ser o pai da criança.