Realizou-se na semana passada, entre os dias 27 a 29 de novembro, o 6º Encontro de Estudo sobre Mulheres da Floresta (EMFLOR). O evento é uma iniciativa do Grupo de Estudo, Pesquisa e Observatório Social: Gênero, Política e Poder (GEPOS) vinculado à Universidade Federal do Amazonas e ao Diretório de Pesquisa do CNPq, coordenado pela professora doutora Iraildes Caldas Torres dos Programas de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia e de Pós-Graduação em Serviço Social e sustentabilidade na Amazônia. ambos da Universidade Federal do Amazonas.
O EMFLOR é um dos eventos dos estudos de gênero mais importantes da Amazônia. Em sua 6ª edição, reuniu centenas de pesquisadores/as em estudos de gênero e feminismos para debater e aprofundar a temática das ‘mulheres da Pan-Amazônia: resistência política e práticas ecológicas’. Além de ser o tema do evento, foi o título da conferência de abertura proferida pela professora doutora Cristina Sheibe Wolff da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Trata-se de uma autora muito reconhecida na Amazônia desde seu extenso estudo de doutorado intitulado ‘Mulheres da Floresta: uma história do Alto Juruá, Acre (1890-1945), publicado em 1999 pela Editora Hucitec.
O 6º EMFLOR tem se consolidado como um importante espaço de produção e divulgação de pesquisas sobre mulheres da floresta e reúne estudos de graduação, mestrado, doutorado e especializações diversas. Além de pesquisadoras\es o evento tem espaço garantido para o debate das lideranças da sociedade civil, que têm em comum a preocupação voltada para a elaboração de estratégias alternativas de práticas ecológicas associadas às mulheres.
Mesmo sendo vinculado à área dos estudos de gênero, o EMFLOR é um evento interdisciplinar que objetiva promover a divulgação dos conhecimentos produzidos no âmbito da temática de gênero, por parte de instituições acadêmicas dos países da Pan-Amazônia, bem como estudos provenientes de outros órgãos da sociedade civil, com vistas aos fortalecimento do diálogo em torno da resistência política das mulheres.
Como não poderia ser diferente, O 6º EMFLOR conseguiu propiciar a troca e o intercâmbio entre as universidades dos países da Pan-Amazônia, no âmbito da pós-graduação, para possíveis acordos internacionais e divulgar os temas de pesquisa envolvendo as mulheres e as relações de gênero da Amazônia brasileira, remetendo para a visibilidade e balanço desses estudos.
Desde sua primeira versão em 2006, o EMFLOR tem contribuído para potencializar as relações entre a academia e os movimentos de mulheres, remetendo para o diálogo e a troca de saberes no âmbito da resistência política no Brasil e nos países da Pan-Amazônia. Isso justifica a participação de muitas mulheres vinculadas a movimentos sociais, organizações e lideranças comunitárias, indígenas e quilombolas.
Nas mais diversas modalidades de participação, além das conferências e mesas-redondas, o evento promoveu quatro minicursos com temas variados que contribuíram para aprofundar a questão das mulheres da floresta. São exemplos dessa diversidade de estudos os minicursos e Grupos de Trabalho. A primeira modalidade oferece cursos rápidos ministrados por cientistas dos estudos de gênero na Amazônia. A segunda modalidade é um espaço para apresentação, debate e atualização dos mais diversos estudos de gênero na região.
Os minicursos dão uma ideia da diversidade de temáticas que envolvem os estudos de gênero e suas intersecções. Além disso, contam com parcerias entre pesquisadores/as das principais universidades da Amazônia. Neste ano, o evento contou com os seguintes minicursos: 1) ‘Feminismos e Resistência no Brasil’ ministrado pelos professores/as doutores/as Maria Mary Ferreira da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Marcos Antônio Braga de Freitas da Universidade Federal de Roraima (UFRR); 2) ‘gênero, Corpo e Sexualidade’ ministrado pelos professores/as doutores/as Jeanne Chaves de Abreu da Universidade do Estado do Amazonas e (UEA) e Rooney Vasconcelos Barros da Secretaria de Educação do Amazonas (Seduc); 3) ‘Interfaces da Violência contra as Mulheres’ ministrado pelos professores/as doutores/as Ivânia Vieira e Maria Raquel Cruz da Silva da Universidade Federal do Amazonas (UFAM); 4) ‘Masculinidades e Sexualidades’ ministrado pelos professores/as doutores/as Ricardo Gonçalves Castro da Faculdade Salesiana Dom Bosco (FSDB) e Alice Ponce de Leão Nonato Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Na modalidade Grupos de Trabalho a diversidade de pesquisas apresentadas e as instituições envolvidas também indicam a abrangência do evento e sua produção científica. Neste ano, o evento contou com 08 Grupos de Trabalhos que receberam centenas de estudos para debater e aprofundar. Dentre os quais se destacam: GT1 – Gênero e Políticas para as mulheres; GT2 – Gênero, Trabalho e Práticas Ecológicas; GT3 – Gênero, Lutas Sociais e Resistência; GT4 – Gênero e Violência; GT5 – Gênero, História e Etnicidade; GT6 – Gênero, Corpo e Sexualidade; GT7 – Gênero, Arte e Mitopoética; e o GT8 – Gênero e Direitos Humanos.
O balanço do evento já é positivo pela gama de produção científica que apresentou para o debate, além das mesas redondas que contaram com temáticas pertinentes e contribuições vindas de fora da Amazônia como a que aprofundou o tema ‘Direitos e Resistências das Mulheres no Brasil e na América Latina’ que contou com a exposição dos professores/as doutores/as Maria de Los Angeles Guevara da Universidade de Camaguey de Cuba, e Yunier Sarmiento Ramírez da Universidad Holguin “Oscar Lucero Moya”, também de Cuba.
Marcia Oliveira é doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM), com pós-doutorado em Sociedade e Fronteiras (UFRR); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia, mestre em Gênero, Identidade e Cidadania (Universidad de Huelva - Espanha); Cientista Social, Licenciada em Sociologia (UFAM); pesquisadora do Grupo de Estudos Migratórios da Amazônia (UFAM); Pesquisadora do Grupo de Estudo Interdisciplinar sobre Fronteiras: Processos Sociais e Simbólicos (UFRR); Professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR); pesquisadora do Observatório das Migrações em Rondônia (OBMIRO/UNIR). Assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM/CNBB e da Cáritas Brasileira.
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