No último dia 17 de outubro, o Senado da República decidiu pela manutenção do mandato do senador Aécio Neves (PSDB/MG). Foram 44 votos a favor e 26 contra. Lamentável essa decisão.
Áudios divulgados comprovam que Aécio pediu R$ 2 milhões em propinas do dono da empresa JBS, Joesley Batista. O senador foi denunciado pelo Ministério Público Federal sob a acusação de obstrução de Justiça e corrupção passiva.
Além disso, segundo as gravações, Aécio disse que teria que matar antes de fazer delação, referindo-se à pessoa que participava dos esquemas.
Por conta disso, ele foi afastado das atividades parlamentares e proibido pelo STF de deixar sua residência á noite desde o fim de setembro.
Essa decisão do Senado revoga as decisões do STF, mas as acusações continuam. O senador ainda será julgado pelos crimes de corrupção. Não sabemos quando.
Contudo, o STF e o Senado não agiram dessa mesma forma em relação ao ex-senador Delcídio do Amaral, na época, no PT. O STF mandou prendê-lo e o Senado cassou seu mandato. Dois pesos e duas medidas.
O Senado, ao livrar Aécio da punição pelos crimes de corrupção, desmoraliza ainda mais a instituição e os parlamentares em Brasília. Alguns senadores, mesmo com problemas de saúde, fizeram questão de ir à Brasília para salvar o amigo, é o caso do Romero Jucá (PMDB/RR), Ronaldo Caiado (DEM/GO) e Paulo Bauer (PSDB/SC).
Aliás, o senador Romero Jucá, foi o mesmo que disse que havia um “grande acordo nacional” entre o Michel Temer e o Supremo Tribunal Federal. Tudo isso para “estancar com a sangria”, como chamavam as investigações da Lava jato, que atinge a todos os partidos políticos e muito mais o PMDB e o PSDB, os principais partidos golpistas, onde todas as lideranças estão até o pescoço com denúncias de corrupção, a maioria de conhecimento devido as delações dos empresários, que também querem salvar o seu pescoço.
Entre os partidos, os líderes de PSDB, PMDB, PP, PR, PTB, PRB, PTC e PROS orientaram as bancadas a votarem a favor do Aécio. O PT, PSB, Podemos, PDT, PSC e Rede orientaram votos pela punição do Aécio. O DEM e PSD liberaram seus senadores.
No Amazonas, os senadores Eduardo Braga (PMDB) e Omar Aziz (PSD) votaram também para salvar o Aécio. Os dois estão delatados pela Operação Lava jato. Os dois votaram pelo afastamento de Dilma e apoiam os projetos do governo ilegítimo de Temer, que atingem os direitos dos trabalhadores, como a entrega do Pré-Sal aos estrangeiros, congelamento dos gastos de saúde e educação por 20 anos, terceirização total, reforma trabalhista e redução e fim de programas sociais como Farmácia Popular, Minha Casa Minha Vida, Ciência sem Fronteira, Bolsa Família, Luz para Todos, além da privatização do setor de energia e dos Correios.
Tudo indica que agora vão tentar salvar o golpista Temer, que comprou votos dos senadores para salvar o Aécio, liberando R$ 200 milhões em emendas parlamentares.
As delações do doleiro Funaro, mostram que o ex-deputado Eduardo Cunha, cúmplice de Temer e de Aécio no golpe, recebeu R$ 1 milhão para comprar deputados federais, para votarem no afastamento da Presidenta Dilma.
Na votação anterior sobre as denúncias contra o Temer, ele também comprou os deputados com emendas parlamentares. Agora, com novas denúncias contra o presidente golpista, os deputados do PMDB, PSDB e aliados, certamente, vão fazer o mesmo: recebe algo em troca para manter Temer no poder, apesar de todas as denúncias, das malas de dinheiro, dos milhões de pessoas desempregadas e dos 93% da população rejeitando o atual Governo Federal.
A situação é lastimável. E a pergunta que fica: onde estão as mobilizações contra a corrupção, os paneleiros, os que apoiaram o golpe e colocaram esse ‘quadrilhão’ do PMDB e PSDB no poder? Onde está a grande mídia que ajudou no golpe e estampava o Temer como a esperança?
Vamos ver os próximos passos desse Congresso Nacional desmoralizado. Ano que vem tem eleição. É o momento do povo se manifestar com o poder que tem na mão.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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