A tragédia de muitos adultos é que eles param de fazer certas perguntas e simplesmente aceitam “as coisas como elas são”. As crianças, não. O menino Murtaza Ahmadi, 5 anos, por exemplo, contou que tinha o sonho de conhecer seu grande ídolo e perguntou ao pai por que ele não o levava para casa de Messi?
O pai do garoto, o agricultor Arif Ahmadi, explicou que eles moravam em Jaghori, uma aldeia na região de Ghazni, no Afeganistão. Portanto, muito, muito longe da casa do jogador. A resposta era estranha. Afinal, Leonel Messi sempre chegava à casa deles por um objeto retangular, a TV, pelo qual a família podia acompanhar os jogos em que o craque do Barcelona fazia mágicas usando um brinquedo chamado bola.
O pequeno tentou entender a paciente explicação do pai, mas não se satisfez. Se não podia encontrar Messi, não poderia, pelo menos, ter uma camisa do jogador? A nova resposta do pai foi ainda mais enigmática. Arif disse que o mundo adulto é regido por um jogo no qual só alguns poucos podem ter tudo o que querem. Disse que a família Ahmadi não era um deles e que, portanto, não tinha dinheiro suficiente para comprar a camisa.
Muitas histórias terminam nessa parte do “não, não pode”. Essa poderia ser outro desses relatos amargurados e tristes que chamamos de mundo real, se não fosse um saco de plástico. O que muitos só enxergariam apenas um recipiente para colocar lixo, o menino viu que naquele objeto podia caber diversas ilusões e incontáveis sonhos.
Com a ajuda do irmão Homayoun, de 15 anos, aquele pequeno saco plástico branco com listras verticais azuis virou uma improvisada, precária e, ainda assim, perfeita camisa da seleção Argentina. Bastou uma caneta para desenhar o número 10 e escrever cinco letras para formar o nome: Messi.
Naquele dia 17 de janeiro de 2016, não havia em todo o mundo criança mais feliz que o pequeno afegão. Excetuando-se, talvez, uma menina americana que viu seu pai soldado voltar da guerra no Iraque e um curumim amazonense que comeu pela primeira vez tucumã.
Homayoun fez a foto e publicou-a no Facebook. A imagem sensibilizou o mundo do futebol. Muitos que viram a foto do menino talvez se recordaram de si mesmos quando um pedaço de pano no pescoço virava capa de super-herói e, nostálgicos, começaram a compartilhá-la. Fazia tempo que uma fotografia tirada no Afeganistão não causava tanta comoção. A anterior devia ser algum registro de sangue e dor provocada pelo constantes conflitos bélicos de um país que ainda sofre com os insurgentes talibãs e com a crescente ameaça do Estado Islâmico. Dor que deixou de ser novidade para jornais e fez com que o Planeta deixasse de se importar.
Dessa vez o mundo se importou e quis saber quem era o garoto da camisa de saco plástico. Apareceram vários candidatos, até que o real menino foi descoberto. A história alcançou Messi e ele enviou duas camisas autografadas para Murtaza, uma da Argentina e outra do Barcelona. Também mandou uma bola.
A felicidade incomoda. A felicidade é perigosa. A alegria tem o revolucionário poder de destruir planos maquiavélicos daqueles que lucram com a miséria e a frustração. Uma criança feliz numa zona de guerra era uma inconveniência inaceitável. Crianças felizes não se tornam terroristas.
Assim, a família de Murtaza recebeu ameaças de bandidos. Os criminosos queriam sequestrar o menino e pedir resgate dos ricos ocidentais que ficaram tocados com a foto. Os Ahmadi, então, tiveram que vender o pouco que possuíam para se mudar, em maio, para o Paquistão.
A viagem que todos esperavam era outra e ela aconteceu na semana passada, dia 13. Finalmente, Murtaza realizou seu mais alto sonho: ele conheceu Messi. Foi no amistoso entre Barcelona contra o Al Ahli, em Doha, Catar.
As imagens desse encontro são um alento em mundo que gosta de moer, triturar e transformar desejos em plásticos cujo destino é sempre a lixeira.
Um menino concretizando um desejo é sempre uma mensagem de esperança para quem já está de saco cheio de tanto vazio. Para quem não aceita ser apenas saco de pancadas.
Para quem sabe também que aspirações podem ser frágeis, mas também são resistentes como é o plástico. E que sonhos podem ser realizados até com ferramentas singulares como a imaginação de uma criança e um saco de lixo.
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Uma história interessante contada com humor, criatividade e emoção!!!
Se cada um de nós,nus doassemos um pouco,aliviaria muito o sofrimento do próximo.Não é preciso muito pra ser feliz.
Se cada um de nós,nus doassemos um pouco,aliviaria muito o sofrimento do próximo.Não é preciso muito pra ser feliz.
Sábias palavras…
Que possamos refletir em cada uma delas.
Sábias palavras
Que possamos refletir em cada um delas.
Que história linda , muito bem contada .A esperança sempre deve andar lado a lado conosco .