Da Redação
MANAUS – Em Manaus, 43.338 eleitores (3,77%) votaram em branco e 69.373 (6,04%) decidiram anular o voto na eleição para prefeito, domingo, 2. Somados, são votos suficientes para eleger metade dos 41 vereadores da CMM (Câmara Municipal de Manaus) duas vezes. Para o sociólogo Francinézio Amaral, essa decisão pode ter impacto na escolha de políticos ‘ruis’ e tende a enfraquecer a representatividade das instituições.
Francinézio fez a seguinte análise do impacto de votos brancos e nulos nas eleições para o AMAZONAS ATUAL.
“Geralmente, o conteúdo das matérias (jornalísticas) sobre esse tema apenas informa que os votos brancos e nulos são considerados ‘votos inválidos’ e não entram na contagem oficial, que é um desperdício do exercício da cidadania e que não ajuda a resolver os problemas, pois pode levar a eleição de candidatos ditos ‘ruins’. Será mesmo? Sim, isso é mesmo o que rege o Código Eleitoral Brasileiro! Mas pouco se questiona o porquê desses votos não serem considerados válidos.
Primeiro, é preciso destacar que votar nulo ou branco nunca é desejável em um sistema político que vislumbre ser democrático. Porém, não se pode desconsiderar que a democracia, se pretende ser plena, jamais pode desconsiderar qualquer tipo de escolha, inclusive a ‘não escolha’. Quando o sistema eleitoral faz isso, ele deixa de ser democrático e abre espaço para uma disputa desequilibrada e que privilegia apenas alguns partidos e candidatos enfraquecendo a representatividade das instituições. No atual cenário do país, com o alto descrédito de grande parte das instituições sociais, o voto nulo acaba sendo uma forma de protestar, tanto contra os partidos e candidatos, quanto contra o sistema político eleitoral como um todo, uma vez que escolher novos nomes ou novos partidos não representa a garantia de que serão eleitos, especialmente no que tange às eleições proporcionais.
Em Manaus, tivemos 3,77% (43.338) de votos brancos e 6,04% (69.373) de votos nulos. Isso não é um dado exatamente novo, pois a opção por esse tipo de voto vem crescendo, pelo menos dos últimos três pleitos pra cá. Somados, branco e nulos representam 9,81% (112.711) dos votos superando a votação dos quadro últimos candidatos que, somados, representaram 6,89% (71.462).
Será que isso não é relevante? Será que esse fato, a altíssima insatisfação do eleitorado com os representantes políticos e como o sistema político partidário, deve mesmo ser desprezado penalizando esses eleitores como cidadãos de menor importância que não merecem ter sua vontade considerada válida? Acredito que não! Ao contrário, esses eleitores estão chamando atenção para algo que é extremamente importante no cenário atual da nossa cidade, de nosso Estado e de nosso país. E é preciso começar a levar esse debate mais a sério, pois se legalmente os votos brancos e nulos não alteram o resultado da eleição, causam uma derrota moral que é relevante e indica que o sistema político eleitoral precisa ser revisto”.