MANAUS – A preocupação não deve ser apenas das autoridades, das forças de segurança. Todo brasileiro precisa ligar o sinal de alerta. Não é apenas a falta de emprego, como querem fazer crer alguns chefes de polícia, que levou ao aumento da violência nos quatro cantos do país; é claro que o desemprego ajuda. Tempos atrás eu alertava para a falta de respeito ao outro como um comportamento perigoso. Nos anos mais recentes, esse sentimento de desprezo pelo ser humano só aumentou na sociedade brasileira.
A morte trágica, os assassinatos não chocam mais. A violência se tornou coisa corriqueira. Os roubos nas ruas se tornaram comuns, e o brasileiro parece se acostumar com isso, e passa a criar mecanismos para se adaptar. Não levar o telefone celular consigo em ocasiões em que precisa passar por lugares “perigosos” é um desses mecanismos.
Mas essa é a violência de menor potencial. O tráfico de drogas avança pelas cidades brasileiras como um câncer corrói o corpo. Nada escapa à ação do tráfico: jovens cada vez mais jovens se tornam soldados; meninos e meninas experimentam cada vez mais cedo as drogas e ficam reféns do vício; matar e morrer passa a ser apenas um detalhe sem importância.
E não é com prisão e nem num passe de mágica que vamos mudar essa realidade. No Amazonas, a polícia passou a prender traficantes e vendedores de drogas, e entupiu os presídios. O resultado foi visto em janeiro deste ano, quando houve a maior chacina em presídio já registrada na história. Desde então, o tráfico tem mostrado as garras.
As organizações criminosas, que há muito vêm se organizando em nível nacional, começam a mostrar-se mais organizadas que as forças de segurança. Essa força vem sendo demonstrada no Rio de Janeiro, nos confrontos com a polícia, com um resultado traumático de mortes de pessoas inocentes.
A violência no Rio ultrapassou todos os limites. Mas o Rio de Janeiro é apenas o lado mais visível de uma sociedade que vem sendo corroída e assiste a tudo passivamente. No Amazonas, os municípios do interior do Estado enfrenta os mesmos problemas da capital. O avanço do tráfico e de mortes de jovens assustam.
Mas uma pergunta precisa ser respondida: de onde vêm os homens e mulheres que matam e traficam? Não são extraterrestres. São pessoas que saíram das famílias brasileiras ou de comunidades. É ali que nasce a delinquência e o homem e a mulher de bem. Aqueles que levantam a voz, muitas vezes são os pais e parentes de jovens consumidores, que alimentam o sistema.
O Brasil carece de cidadania. A educação escolar é insuficiente para a formação de cidadãos. Cidadania é resultado de uma formação moral disciplinada, calcada no respeito ao outro, nas leis e na moral. Num país em que a moral é relativizada e as leis são interpretadas ao bel prazer de cada um, ou a moral é a moral de cada um, não pode haver cidadania plena.
Não há cidadania sem respeito às normas e não há solução possível para a violência sem um pacto moral entre todos os brasileiros. Não será um milagre que salvará o Brasil, mas um trabalho de longo prazo em que cada um assume sua responsabilidade pelas futuras gerações.