“Nunca é tão fácil perder-se como quando se julga conhecer o caminho”. O provérbio chinês resume bem tudo o que envolveu o avião Avro RJ85, da LaMia, contratada para transportar a equipe da Chapecoense até a Colômbia e cuja queda resultou na morte de 71 pessoas.
Os especialistas afirmam que o motivo da tragédia foi “pane seca”, um termo técnico para insuficiência de combustível. Ou seja, negligência e irresponsabilidade. Não foi um caso isolado. Entre agosto e o dia do desastre, a aeronave fez outras quatro viagens em que quase chegou ao limite máximo de sua autonomia sem reabastecimento. Como deu certo antes, julgou-se que a visita da sorte se tornaria permanente.
“A maior parte dos desgostos só chegam tão depressa porque nós fazemos metade do caminho”, dizia Henrique de Lévis, Duque de Ventadour (1596-1651). As gravações registradas na caixa-preta revelaram as últimas palavras proferidas pelo piloto Miguel Quiroga. Após sete minutos tentando esconder a gravidade da situação a fim de evitar punições e multas, as luzes da aeronave se apagam e ele é obrigado a reconhecer a urgência e desespero do cenário.
“Vetores, por favor. Vetores, senhorita”, suplica o piloto para a controladora de voo, rogando por direções até a pista de pouso do aeroporto. Dentro do avião, ninguém podia ajudar o piloto a pousar. Não apenas pela falta de conhecimentos aeronáuticos. É que a Chapecoense – que saiu da Série D em 2009 e estava disputando uma final de uma competição continental – não sabia como descer, apenas subir.
O fato é que o avião da Chapecoense caiu e ainda ecoa o clamor por vetores, por direção e, principalmente, por sentido. Para onde vamos a partir da agora? Qual rumo tomaremos?
Uma boa rota foi apontada pelos dirigentes e torcedores do Atlético Nacional de Medellín. Já seria muito pedir à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) que homologasse o time catarinense como campeão da Copa Sul-Americana e abrir mão de premiações financeiras. Os colombianos, entretanto, foram além na demonstração de sensibilidade, solidariedade e organizaram no mesmo dia em que haveria o jogo, quarta-feira passada (30/11), a maior final jamais realizada no estádio Atanásio Giradort. Um evento de homenagens ao futebol brasileiro e aos falecidos, repleto de frases plangentes como: “Neste momento em que o aplauso precisa chegar até o céu”.
Outra boa direção foi indicada por alguém terrivelmente atingido pela tragédia: dona Ilaídes Padilha. Também chamada de “dona Alaíde”, ela é mãe do goleiro Danilo, um dos jogadores da Chapecoense que morreram na queda do avião.
Gentil, Alaíde concedia entrevista ao repórter Guido Nunes, do SporTV, e contava-lhe sobre a angústia da espera do corpo do filho. É quando ela interrompe a entrevista e pergunta ao repórter: “Como vocês da imprensa estão se sentindo, perdendo tantos amigos queridos lá, você pode me responder?”.
O repórter balançou a cabeça negativamente. E a mãe que enfrenta a dor provocada pela morte do filho, ainda foi capaz de oferecer seus ombros, colo e braços como gesto de consolo e anteparo à tristeza alheia: “Não, né? Posso te dar um abraço, em nome da imprensa?”.
Enquanto muitos se irmanavam e rumavam numa mesma direção – até beligerantes torcidas organizadas se uniram para cantar músicas de apoio à Chape -, sempre há os que preferem tomar a contramão.
Políticos brasileiros aproveitaram o luto nacional para aprovar medidas preocupantes. E há ainda outras propostas com desdobramentos graves que ainda serão deliberadas. Será que o Brasil já está “operando no limite”? As reformas servirão de “combustível extra” ou nos levarão à “pane seca”? Quem terá os vetores e as respostas?
Serve para países, serve para pessoas. Uma das maiores lições da tragédia da Chapecoense foi a de evidenciar que perguntas como “Para onde ir?”, “Qual o caminho a seguir?” são, sim, questões de vida ou morte.
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Sensacional! Parabéns!
Parabéns pelo magnífico artigo! Mais que informativo, reflexivo!!Um dos melhores que já li!!
Exuberante!!
Apenas profissionais com a sua competência podem descrever de maneira tão maviosa essa grande tragédia e ainda nos levar a introspecção.