Num dos momentos mais dramáticos do filme ‘Paulo, o apóstolo de Cristo’, de Andrew Hyatt, Lucas, o médico evangelista, que foi a Roma escrever a história de Paulo – um dos perseguidores de cristãos mais cruéis de seu tempo – descreve as trevas que tomaram conta daquela cidade e resolve pedir à Priscilla que abandone Roma, por conta do perigo iminente. Escuta, porém, a seguinte resposta: “As pessoas estão desesperadas, somos a única luz nesta cidade”. Há muita coincidência entre as trevas de Roma e as do Brasil sem rumo, sem um porto seguro para atracar e há muita gente, incapaz de ver saída ou sentido nessa desordem, que está escolhendo a porta de saída. O Brasil precisa de seus cidadãos. Abandoná-lo pode até parecer a saída mais fácil, mas os que ficam nem sempre têm a mesma possibilidade, de modo que devemos agir sem esmorecer e olhar o caos mais detalhadamente, para dele extrair o contraponto, a essência da reconstrução, que começa em cada um de nós!
O filme de Hyatt é uma belíssima ficção histórica, que se baseia em bases historiográficas. Na Bíblia, entretanto, para os que creem ou não, o Apóstolo Paulo, pouco antes de sua morte, resume sua crença e alento, numa Carta escrita a Timóteo, seu discípulo. “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”, ou seja, virar as costas para a luta e para a escuridão desses dias, que temos suportado no Brasil, exime-nos de vivenciar a justiça e perseguir a supremacia do Bem, uma semente que todos os seres humanos e os entes portadores da Vida carregam em sua existência. E se o bem é o que nos une, por que não promover essa semeadura, acreditar na luta incessante contra a corrupção, o comodismo, o mau político, como a melhor resposta para as mazelas e a desunião sombria que nos destroem?
O Brasil, pátria nossa, merece nosso combate diário, para que possamos ver nossos netos em uma situação melhor da que enfrentamos hoje. A sensação que temos é de que andamos somente correndo atrás do rabo. Entra ano, sai ano e os problemas perenizam-se aqui e no Brasil inteiro. Assistimos diariamente à Zona Franca de Manaus escapar de nossas mãos como grãos de areia: não avançamos no desenvolvimento de produtos da biotecnologia, não avançamos na mineração; a BR 319 transformou-se em lenda urbana; continuamos pagando tarifas aéreas absurdas e ainda isolados do resto do Brasil. Não temos como escoar o que se produz no Estado de forma rápida e, assim perde-se em competitividade. Manaus é uma cidade com esgoto a céu aberto; o mau cheiro gerado pela poluição dos igarapés exala por toda cidade, não há programa eficiente de reciclagem de lixo. Sustentamos a orgia dos políticos, com Seguro Saúde, Auxílio Passagem, Auxílio Paletó, Gasolina, Vale Alimentação, enquanto nossos cidadãos morrem à míngua na fila dos hospitais… Até quando iremos suportar os mesmos problemas, que somente se agravam com o passar dos anos? Esse enfrentamento devemos travar, por nossa terra e por nossa Pátria amada e cobrar o retorno dos impostos recolhidos aos cofres públicos. Precisamos implantar em nós mesmos o que chamamos de “Tolerância Zero”, com tudo aquilo que vai na contramão dos interesses do nosso País. Somos tão ricos e, ao mesmo tempo tão miseráveis!
Nesta semana, na busca por uma vaga para estacionar o carro, nas ruas sempre sujas e esburacadas, indaguei a um grupo de flanelinhas, agrupados e agitados naquela paisagem de imundície urbana generalizada: “Por que vocês não limpam o próprio local de trabalho? Não custa aproveitar o tempo e deixar o escritório ao ar livre bem arrumado, agradável. A cidade é nossa casa e aqui cada um corre em busca de sua sobrevivência”. É claro que as coisas não são assim tão simples, mas, ou enfrentamos os problemas, ou seremos dragados por eles, como hoje assistimos na Venezuela. Mas, além da crítica, cabe-nos a ética e a participação efetiva no ambiente onde nos movimentamos.
O Brasil é o país da corrupção, dos que querem ganhar tudo de forma fácil e rápida, dos impostos e da negligência de seus governantes em repassá-los, como manda a Lei, para o bem-estar coletivo. Sucesso só vem antes do trabalho no dicionário. Que cada um combata seu combate, cumpra seu dever, guarde sua fé para lutar com a força de que o Brasil precisa. Que possamos deixar para trás o descaso e o comodismo. Até quando iremos suportar o mau cheiro e as consequências da corrupção?
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