Por Lúcio Pinheiro, da Redação
MANAUS – Em conversa por aplicativo de mensagens, no dia 5 de abril de 2014, o empresário Mouhamad Moustafa diz ao então presidente da CGL (Comissão Geral de Licitação), Epitácio de Alencar e Silva Neto, que “tudo” seria “mantido” com a saída do então governador Omar Aziz (PSD) do Governo do Amazonas.
No dia anterior, 4 de abril de 2014, Omar havia renunciado ao cargo para poder concorrer às eleições ao Senado naquele ano. Com a decisão, o vice José Melo (Pros) assumiu o mandato de governador. A entrega da faixa foi realizada em cerimônia no Teatro Amazonas, em Manaus, no mesmo dia.
A conversa inicia por Mouhamad perguntando se Epitácio estava em um jantar, que aparentemente teria ocorrido após a posse de Melo no Teatro Amazonas, no dia 4:
Mouhamad: E ae meu amigo?? Melhor na terrinha?? Veio à posse?
Mouhamad: Foi legal ontem lá , fui intimado e fui , vc foi amigo? Tava muito cheio
Epitácio: Fui somente ao teatro
Epitácio: Deu pra cansar
Na sequência, o então presidente da CGL – responsável por conduzir processos de licitações no Governo do Amazonas – diz já sentir “saudade” de Omar. Mouhamad expressa o mesmo sentimento:
Epitácio: Saudade de Omar
Mouhamad: Eu tbm, amigo
Na interpretação do agente da polícia federal que analisou a conversa, Mouhamad “tranquiliza” Epitácio nas mensagens seguintes, escrevendo que “vai ser tudo mantido”:
Mouhamad: Mas ao menos o clima lá e no jantar era de que nesses 8 meses vai ser tudo mantido
Mouhamad: Professor [Melo, segundo a polícia] mesmo após a posse disse para que ficasse tranquilo todos
Oito meses era o tempo que restava para o fim do governo de Omar, que naquele momento passava para as mãos do vice. Melo disputou a reeleição em 2014 e venceu. Mouhamad, suas empresas e Epitácio seguiram no novo governo.
A conversa entre Mouhamad e Epitácio integra a ação penal que resultou da Operação Estado de Emergência, desdobramento da Operação Maus Caminhos, deflagrada no dia 21 de dezembro de 2017, e que levou Melo à cadeia.
Mouhamad já é réu em processos da Operação Maus Caminhos, de setembro de 2016. Para o MPF (Ministério Público Federal), ele liderou uma organização criminosa que desviou mais de R$ 110 milhões da saúde no Amazonas.
A Estado de Emergência investigou a relação entre Melo e Mouhamad. O relatório da Polícia Federal foi pelo indiciamento do ex-governador. No dia 5 de fevereiro, o MPF denunciou Melo por organização criminosa e obstrução da Justiça.
Para o MPF, Melo e ex-secretários de estado se beneficiaram do esquema de corrupção na saúde. Eles negam.
Outro lado
A reportagem enviou email à assessoria de imprensa de Omar perguntando se o senador tem interesse em falar sobre o assunto. Não houve resposta até a conclusão da matéria.
O nome do senador tem sido citado por alguns investigados nas operações. Em novembro de 2017, um mês antes da Operação Custo Político, segundo fase da Maus Caminhos, a enfermeira Jennifer Nayara afirmou à juíza federal Ana Paula Serizawa saber de pagamentos de propinas ao político.
Por ter foro privilegiado, todas as informações relacionadas ao ex-governador são enviadas ao STF (Supremo Tribunal Federal), onde corre sob segredo de Justiça um inquérito sobre a investigação.
12 anos no poder
Epitácio assumiu o comando da CGL em 2005, no governo de Eduardo Braga (PMDB). Manteve-se no cargo por todo o governo Omar e seguiu com Melo. Foi demitido em outubro de 2017 pelo governador Amazonino Mendes (PDT).