MANAUS – O reitor e o vice-reitor da Universidad Nacional de Ingeniería, da Nicarágua, Néstor Gallo Zeledón e Leonel Plazaola Prado, respectivamente, estiveram em Manaus, na semana passada, em missão oficial, com o propósito de montar uma espécie de franquia na capital amazonense, com cursos de graduação, mestrado e doutorado nas engenharias. O objetivo da Universidad Nacional de Engenieria é firmar uma parceria com uma instituição local para receber o projeto.
Em entrevista exclusiva ao AMAZONAS ATUAL, Néstor Zeledón e Leonel Prado disseram que será feito um estudo da realidade local e das necessidades na área de engenharia para definir que cursos poderão ser oferecidos. “Queremos identificar que carreiras interessam a Manaus para desenvolver Manaus, não as carreiras que interessam à Nicarágua”. Eles visitaram fábricas do Distrito Industrial e conheceram a cidade e os rios da Amazônia.
A universidade da Nicarágua tem convênios com diversas instituições de ensino superior do mundo, como Suécia, Holanda, França, Espanha, Itália e México. Os cursos criados no Amazonas teriam a participação de professores dessas instituições, de acordo com a necessidade e a oferta de cursos. Um exemplo é a Universidad Marítima Internacional de Panamá, com a qual a Nicarágua mantém convênio. Na hipótese de criação de um curso de Engenharia Naval em Manaus, a instituição nicaraguense poderia trazer professores do Panamá para ministrar módulos aqui.
Escolha da instituição
Os dirigentes da universidade da Nicarágua incumbiram o engenheiro Jerônimo Maranhão de fazer um levantamento das instituições que poderiam ser a parceira da Universidad Nacional de Engeniería e solicitar das interessadas uma proposta. Na escolha, segundo o reitor e o vice-reitor, será considerado, principalmente, a capacidade técnica e a seriedade da instituição. “Não queremos uma instituição que esteja interessada apenas em ganhar dinheiro, mas que queira se incorporar a uma instituições que tem como principal característica a credibilidade”, disse Leonel Prado.
Outra possibilidade, segundo Prado, é se criar cursos de pós-graduação nas áreas de engenharia na hipótese de haver um número de engenheiros suficientes nas áreas demandadas pela economia local. “Se há engenheiros suficientes que tenham necessidade de melhorar a capacitação e competências, e as empresas tenham interesse de que seus engenheiros tenham essa melhora, se pode começar de maneira imediata cursos de pós-graduação, mestrados administrados por toda a rede de instituições parceiras”.
Fundação Nokia
A Fundação Nokia é uma das instituições que serão contactadas pela Universidad Nacional de Engeniería. Com a oferta de cursos nas áreas de eletrônica, mecatrônica, informática e telecomunicações, no nível médio, a instituição recebeu a visita do reitor e do vice-reitor da instituição nicaraguense. A visita foi apenas de cortesia e para conhecer a instituição. Não foi conversado sobre a proposta. Quem vai fazer o contato com a Nokia é Jerônimo Maranhão. “Eu levei eles para conhecer a Fundação Nokia porque a instituição me atrai. Eu sou um idealista. Eu vou analisar todas as instituições e depois ver quem vai se adequar mais à proposta”, disse Maranhão.
O engenheiro que mora em Manaus e disputou a prefeitura nas eleições de 2012, é formado em engenharia na Universidad Nacional da Engeniería, o que o credencia a fazer o levantamento, segundo o reitor Néstor Zeledón. “Para fazer esse trabalho teria que ser alguém que tivesse algum vínculo com a instituição”, disse.
Jerônimo, que abandonou a política partidária, afirma que participa do projeto porque quer deixar um legado para o Amazonas, antes de deixar o Estado para morar em Pernambuco, seu Estado natal. “Eu vou deixar como legado para o Amazonas o que eu sempre achei que é a coisa mais importante pra mim e os meus filhos, que é a educação. As pessoas com educação têm a oportunidade de questionar e de crescer profissionalmente”, disse.
Por que Manaus?
O reitor e o vice-reitor da Universidad Nacional de Engeniería da Nicarágua disseram que a escolha do Amazonas e de Manaus para fazer o projeto piloto de expansão da instituição para a América Latina está ligada à marca “Amazônia”. Segundo eles, o fato de se instalar na Amazônia dá à instituição um peso ainda maior, e abre possibilidades de firmar novos convênios.
A instituição também está interessada em desenvolver pesquisas na região. A pesquisa, aliás, é um dos pilares da universidade que se destacam. Os convênios com instituições internacionais estão ligados ao desenvolvimento de pesquisas. Um exemplo é o Instituto Tecnológico de Estocolmo, na Suécia, que está desenvolvendo junto com a universidade da Nicarágua, pesquisa na área de tecnologia da informação para vencer as barreiras para uso de internet em áreas isoladas, como as comunidades da Amazônia.
Cursos pagos
Os cursos oferecidos em Manaus serão pagos. A Universidad Nacional de Engeniería é uma instituição pública, mantida pelo governo da Nicarágua. Para ingressar na instituição, os estudantes passam por um rigoroso processo de seleção. No fim do ano passado, por exemplo, foram 3.500 candidatos disputando 1.450 vagas, mas apenas 150 conseguiram a nota mínima para aprovação. Para preencher as demais vagas, a universidade chama os melhores colocados no process seletivo e aplica uma espécie de nivelamento para poder receber esses alunos na graduação.
Esse mesmo processo seletivo deverá ser aplicado em Manaus, segundo os dirigentes da instituição. “Por isso é importante escolher uma instituição séria, porque queremos que estude conosco os melhores estudantes. Isso é importante para mantermos a mesma credibilidade que já temos na Nicarágua e nas instituições com as quais mantemos convênio”, disse Leonel Prado. Ele explicou, também, que os estudantes em Manaus teriam que passar pelo mesmo processo de avaliação da instituição na Nicarágua. A pressão para que o aluno seja aprovado porque está pagando o curso não seria admitido, segundo o vice-reitor.