Na última terça feira (24) fomos surpreendidos por mais um estudo na área de educação que apontou todas as nossas já conhecidas mazelas, a publicação Education at a Glance (EAG) – Um olhar na educação, em tradução livre – é divulgada anualmente pela Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). O relatório traz dados sobre estrutura, financiamento e desempenho dos sistemas educacionais em 34 países membros da OCDE.
Segundo o Ministério da Educação (MEC), o Education at a Glance resulta de um estudo realizado todos os anos pelo Programa de Indicadores dos Sistemas Educacionais (sigla em inglês INES) com o objetivo de apresentar a coleta de dados educacionais internacionais em temas como: o impacto da aprendizagem, o investimento financeiro, o acesso à educação, o contexto de aprendizagem e a organização das escolas.
Os resultados do EAG não destoam em nada de outras pesquisas educacionais que vem sendo realizadas, pelo contrário, corrobora com o que todas elas já vêm nos mostrando: que a educação pública no Brasil é preocupante. Entretanto, o grande diferencial do estudo realizado pela OCDE é quantificar e comparar o quanto se investe em educação em cada nível do nosso ensino.
Ensino médio
Segundo o EAG mais de 54% dos brasileiros entre 25 e 64 anos não completaram o ensino médio, dentre os países membros da OCDE esta média é de 24%. A boa notícia é que entre os mais jovens este percentual cai um pouco chegando a casa dos 39% na faixa etária entre 25 e 34 anos, o que nos faz acreditar que temos evoluído, mas que ainda há um longo caminho a ser percorrido até chegarmos ao patamar de países educacionalmente mais desenvolvidos.
Neste sentido a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e os programas de aceleração de aprendizagem tem um papel fundamental para que possamos intervir neste indicador. Da mesma forma é necessário que se invista mais no ensino médio noturno, pois para muitos dos que ainda não completaram o ensino médio este é o único horário possível para dar prosseguimento aos estudos.
Ensino superior
No Brasil, o percentual de pessoas que conseguiram completar uma graduação é de 14%, para os países membros da OCDE este indicador fica na casa dos 34%. Para se ter ideia do quanto este dado é preocupante ficamos atrás de Colômbia (22%), México (19%) e Costa Rica (18%).
Vale ressaltar que segundo o estudo, no Brasil, quem tem o ensino superior ganha em média 141% a mais em relação a quem tem somente o ensino médio, para os países membros da OCDE esta diferença fica na casa dos 57%.
Esta distância abissal reflete em grande medida outro aspecto preocupante do nosso ensino médio: a qualidade. Notoriamente mesmo os que terminam este nível de ensino não apresentam as competências necessárias seja para o ingresso no ensino superior quanto para a entrada no mundo do trabalho e daí a desvalorização em relação ao ensino superior.
Investimentos
Em termos percentuais o Brasil é um dos países membros da OCDE que mais investem em educação, são 17,2% da verba para investimento público ficando atrás apenas de México e Nova Zelândia, ambos com 18,4% de investimento cada. Nosso país também desponta como aquele em que o investimento em educação, a nível fundamental e médio, mais tem crescido, são cerca de 82% entre 2005 e 2012. Contudo, o investimento por aluno/ano é um dos piores dentre os países avaliados (veja o quadro abaixo).
Estas duas informações juntas nos sugerem duas coisas: a primeira é que antes de 2005 o investimento na área de educação era muito aquém as necessidades do país, a segunda é que ainda será necessário se investir muito mais para que possamos saldar esta dívida histórica a ponto de se igualar a média de investimento por aluno/ano a de países desenvolvidos.
Vale à pena dizer que os indicadores divulgados do EAG permitem aos formuladores e gestores de políticas educacionais compararem seus sistemas educacionais em relação aos de outros países e, juntamente com a OCDE, refletir sobre os esforços empreendidos em políticas educacionais. Sendo assim, é necessário que se olhe para estas informações vislumbrando-se as perspectivas futuras de solução dos problemas que elas apontam, caso contrário todo o esforço empreendido na construção deste relatório terá sido estéril.
George Castro é supervisor do Pacto Nacional pelo Fortalecimen to do Ensino Médio;
diretor executivo da Macedo de Castro consultoria educacional; ex‐professor da Universidade
Federal do Pará e ex‐diretor do ensino médio e educação profissional do estado do Pará.
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