Tempos difíceis estes! Inflação, desemprego, juros e dólar em alta, produtividade e vendas em queda… Manter o otimismo parece tarefa para Daniel Goleman (Inteligência Emocional). Então, é hora de começar a pensar diferente, enxergar novos horizontes e partir em busca de soluções.
Sabemos que o mercado americano é voraz, competitivo ao extremo em todos os sentidos. Nosso Amazonas, tão rico, não pode deixar isto em brancas nuvens ou negras, se preferirem. O dólar em alta fecha muitas portas, mas, pode abrir janelas preciosas. Os produtos naturais da Amazônia há tempos ganharam o mundo. Fartas pesquisas denunciam suas qualidades, e aqui tomo como exemplo o açaí. Não há uma grande rede de supermercados que não tenha algo de origem no açaí, porém estamos deixando escapar o filé do mercado, quando já poderíamos estar degustando-o. As redes de supermercados como Walmart, Publix , e Kroger vendem algum produto derivado do açaí em embalagens vistosas com suas cores vibrantes. Chego a ter orgulho, por um instante, mas logo me vem uma sensação de que não fomos convidados para a festa que ajudamos a realizar. Neste momento não me aborreço com quem não mandou convite; aborreço-me porque fornecemos apenas a farinha e os louros ficam para quem tirou o bolo do forno.
De alimentos a fármacos, passando pelos cosméticos, o açaí vai fazendo festa e sucesso. Sucos, energéticos, vitaminas, shampoos e até remédios homeopáticos. Nosso açaí tem mesmo valor, e os gringos sabem disso. Se não temos produção em larga escala, e isso é verdade, então precisamos de tecnologia, que os gringos têm e vendem caro, mas não perdem bons negócios, sabem fazer contas.
Samabazon é uma companhia de grande sucesso nos EUA, cujo faturamento neste ano vai passar de U$ 300 milhões. Pelo menos 80% deste fabuloso faturamento é oriundo do açaí, de onde tudo começou.
Estamos vendendo polpa e eles agregando entre 20 e 30 vezes o valor, ao mesmo litro. As sementes do açaí são 85% de toda a fruta e hoje são vistas como problema ambiental para descarte. Ela é 100% reaproveitável, farinha rica em fibras e outros importantes nutrientes. Este é um exemplo com baixo valor de investimento e alto valor agregado. Os EUA importam perto de U$ 9 bilhões/ano em diversos tipos de farinhas para alimentos, com torra semelhante a do café e misturado a ele poderia estar nas mesas americanas levando saúde “Made in Amazonas”. Do lixo ao alimento saudável, e o principal: devia estar gerando empregos e muito melhor renda e riqueza para a nossa gente. Embalagens, logística e tantas outras indústrias adorariam ser sócias deste açaí.
Outros produtos menos conhecidos do grande público, mas não menos interessantes e já disponíveis no mercado americano, são os óleos e as essências naturais, como a Copaíba e a Andiroba. Hoje, exportamos um tambor de 175 kg de copaíba com preços que podem variar entre U$ 1,800 e U$ 2,200 por tambor, fracionado em pequenos frascos de 10 a 30 ml podem valer até U$ 22,000.
Claro, esse milagre precisa de santo, alguns requisitos de regulação e registros, certificações, mas também não é nenhum trabalho de Hércules. Uma boa assessoria resolve. Entre tantos, sou um inconformado, pois isso é somente uma fração de décimos da riqueza que deixamos de desfrutar, muitas vezes sob o discurso de uma defesa ambiental ou de autoproteção, mas deixemos isso para mesas de bar.
Parceria, associação, colaboração e competências profissionais são chaves que fazem parte do desenvolvimento daqui dos Estados Unidos. Aqui, ninguém faz nada sozinho, nem mesmo grandes redes e marcas. Elas estão sempre atrás de novos produtos e parceiros para crescer, não é raro grandes companhias investirem em novos fornecedores.
Wholefoods e Sprouts, duas grandes redes de supermercados de produtos naturais e orgânicos, que juntos faturam mais de U$ 18 bilhões/ano expõem, em suas prateleiras, de sabonete a base de açaí a peixes do Vietnam (ah, peixes são outros quinhentos ou mil). Ora, se o Vietnam consegue, então vou imitar o Presidente Obama: ”Yes we can”.
Temos duas ou três ZFMs (Zonas Francas de Manaus) diante dos nossos olhos. A visão turva dos nossos desacertos e as portas que se fecham escurecendo o ambiente necessitam de um olhar atento pela janela, que pode nos revelar um horizonte muito mais bonito do que aquele em que as portas foram fechadas.
Eduardo Couto da Cunha, empresário amazonense, morando em Atlanta (Estados Unidos), especialista e
trabalhando no Mercado Internacional